O volume de 208 MW médios contratados no leilão de energia nova A-5 realizado nesta sexta-feira, 29 de abril, não surpreendeu o setor elétrico. Em função da sobrecontratação das distribuidoras já era esperado, tanto pelo mercado quanto pelo governo, um montante reduzido de demanda. O fator que chamou a atenção, no entanto, foi o preço apresentado pela energia de PCHs, a maioria dos projetos, que só foi possível por conta de uma brecha na regra do leilão e permitiu a entrada de energia existente de Belo Monte e dessa fonte de geração. Contudo, esse valor não reflete a realidade do setor.
Tanto é assim que das 20 PCHs, 14 usinas já possuíam contratos ou já estavam em operação comercial, ou seja, colocaram energia que não possuía contratos. Normalmente esse recurso estava sendo reservado para ser colocado no mercado livre, mas como os preços estão reduzidos e não há perspectiva de melhoria nos valores, a tarifa colocada pelo governo foi considerada atraente aos investidores. O preço mais baixo ficou em R$ 147,85/MWh ante uma necessidade de preços de energia que beiram os R$ 280/MWh para uma PCH nova.
“O que ajudou o leilão foi a abertura da regra para entrar aquela parcela de energia de Belo Monte e as PCHs pegaram esse vácuo e aproveitaram para entrar também. Como a usina nem participou do A-5 por conta do preço abriu a brecha para que as pequenas centrais que estivessem com energia descontratada fechassem contratos no ACR”, comentou a diretora da Thymos Energia, Thaís Prandini. “Hoje o preço de venda da energia no mercado livre caiu demais, mesmo na incentivada, e vender a esse preço para as PCHs foi um bom negócio e ajudou os geradores”, acrescentou.
O presidente recém empossado da Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa, Márcio Severi, reforçou a afirmação de que essa foi uma oportunidade para aqueles geradores que tinham uma parcela de energia descontratada ou que conseguiram aumentar a geração da central por meio de otimizações. Por isso, avaliou, pode ser verificado um preço mais baixo para esse tipo de empreendimento. “Esse preço não é o estruturante, aquele que permite termos a expansão do setor. O valor real da fonte ainda está em R$ 280/MWh pois reflete o capex de cerca de R$ 8 milhões por MW instalado”, ressaltou.
Essa é a posição do diretor da AbraPCH, Paulo Arbex. Ele avaliou o valor teto da tarifa apresentado como insatisfatório para o setor. Ele pegou como base a tarifa que viabilizou as novas PCHs no certame desta sexta-feira, que ficaram em um patamar próximo a R$ 190/MWh, sendo alguns um pouco acima e outros um pouco abaixo desse valor. Para ele apenas alguns projetos conseguem ser viabilizados porque apresentam condições excepcionais, mas a maioria precisa de uma tarifa que na visão da associação está em R$ 290/MWh. “Esse valor de hoje é irreal para novos projetos ele está abaixo do custo de viabilidade”, afirmou o executivo que destacou ainda que apenas 10% dos projetos habilitados de PCHs conseguiram fechar contratos.
Na avaliação da diretora da Thymos, contudo, esse patamar pode ser viável para a fonte PCH, mas ressalta que a fonte possui uma variação muito grande de custos a depender do projeto em questão. Por isso, diz que ainda é possível se fazer usina com R$ 190/MWh como se viu neste certame. Outro destaque no leilão foi a presença, pela primeira vez, do biogás com contratos para o mercado regulado. O projeto Biogás Bonfim foi viabilizado com o ICB teto de R$ 251/MWh e potência de 20,893 MW de capacidade instalada. Essa foi uma das sete plantas que negociaram energia no certame.
Na avaliação do gerente de bioeletricidade da União da Indústria de Cana-de-Acúcar, Zilmar Souza, o resultado expõe a dificuldade de se colocar novos projetos da fonte no país. Proporcionalmente a biomassa também teve 10% dos habilitados saindo vencedores do certame. E o resultado não foi diferente do que se esperava, uma vez que o preço teto estabelecido para o produto estava abaixo do mínimo para a viabilização desses projetos que em sua maioria era de retrofit das usinas.
“Como não houve avanço dos canaviais, a reforma da usina tinha que ser remunerada pelo preço da energia e o preço é superior ao que foi determinado”, destacou Zilmar. “A biomassa teve a redução do preço teto em 11% e temos condições mais restritivas de financiamento. A do A-5 do ano passado estava em R$ 281 e esse ano passou a R$ 251. Precisamos de uma política setorial para a biomassa pois no ano passado tivemos três projetos e nesse apenas quatro. É muito pouco e está criando uma difícil situação para a fonte ao afetar a cadeia produtiva de fornecedores”, indicou o executivo da Única.
A saída disse ele pode ser aquela que a solar e a eólica já apontaram para manter o volume de contratação, o Leilão de Reserva. Contudo, a fonte não está incluída nos certames até o momento. Uma medida que ainda pode ser revertida , segundo a opinião de Thaís Prandini, da Thymos.
Por sua vez, a fonte eólica não registrou contratos nesse A-5. A presidente executiva da ABEEólica, Élbia Gannoum, reforçou que esse ano o foco da fonte está mesmo com os leilões de reserva que o governo promove, um mecanismo que traz equilíbrio de demanda à indústria que foi atraída ao país e que ajudou a tornar a eólica a segunda fonte mais competitiva. “Esse ano para nós está com foco no leilão de reserva um dispositivo criado para evitar o efeito pêndulo que o excesso ou a escassez de contratação pode causar”, disse.
Fonte: Canal Energia
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