Sem receber, térmicas enfrentam problemas de caixa para comprar combustível

Sem receber todos os seus créditos nas liquidações financeiras da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica, as termelétricas estão enfrentando graves problemas de caixa para comprar combustível e continuar gerando energia. A Associação Brasileira de Geradores Termelétricos calcula que somente na última liquidação, que aconteceu nos dias 11 e 12 de fevereiro e era referente aos meses de outubro e novembro de 2015, os geradores termelétricos não receberam cerca de R$ 2 bilhões. O problema afeta as usinas que estão sem contrato com o ambiente regulado e que são chamados a despachar, principalmente, fora da ordem de mérito.

Nesta última liquidação, a inadimplência total ficou em 60,9%, ou seja, dos R$ 6,3 bilhões que foram contabilizados, somente R$ 2,47 bilhões foram efetivamente pagos. A maior parte da inadimplência, segundo a CCEE, está relacionada a decisões judiciais referentes ao GSF. Xisto Vieira Filho, presidente da Abraget, afirma que as térmicas receberam apenas 12% dos seus créditos. “É um problema extremamente complexo e que a Abraget está muito preocupada. Alguma coisa precisa ser feita”, comentou o executivo.

Segundo ele, a associação vai entrar novamente na justiça para tentar garantir o direito de receber a integralidade dos créditos nas liquidações. A associação tinha uma liminar que garantia esse recebimento, que foi cassada. “O operador do sistema manda despachar, o gerador compra o combustível, paga pelo combustível e despacha. Aí ele não recebe por conta da inadimplência na CCEE”, explica. A situação, de acordo com Vieira Filho, é insustentável, porque os geradores não tem mais caixa para comprar o combustível e se eles pararem de gerar energia são penalizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica.

“O que estamos querendo mostrar aos juízes é que as nossas liquidações são diferentes dos demais agentes. Não estamos liquidando para faturar nada, estamos liquidando para comprar combustível. Essa é a regra”, aponta o presidente da Abraget em entrevista à Agência CanalEnergia. Ele contou ainda que alguns agentes estão sendo obrigados a fazer empréstimos para conseguir comprar o combustível e continuar gerando energia.

Xisto Vieira defende que o saldo positivo da Conta Centralizadora dos Recursos da Bandeira Tarifária seja utilizado para pagar a conta do combustível dessas usinas térmicas. “O saldo [da conta] é positivo e a bandeira tarifária existe porque a térmica é despachada. Então, porque não tira o dinheiro dessa conta para pagar o combustível?”, questiona.

De acordo com a CCEE, os agentes estão recebendo os valores proporcionais aos recursos disponíveis no mercado, conforme pagamentos realizados pelos devedores. Alguns agentes, ainda de acordo com a Câmara, obtiveram liminares para lhes garantir a priorização em receber os valores, o que também implicou recebimento de montantes menores aos demais credores. “Até a liquidação anterior, a Abraget possuía liminar para ter prioridade no recebimento de seus créditos em comparação aos demais agentes, porém esse decisão foi revogada em janeiro. Atualmente, a CCEE atua para a revogação de todas as liminares que implicam tratamento não isonômico entre agentes na liquidação financeira”, explicou a entidade.

A Câmara disse ainda que, descontados os valores relacionados a decisões judiciais, a inadimplência foi de 2,31% na última liquidação. “A retomada dos patamares de adimplência normal deve ocorrer em breve, com a conclusão do processo de repactuação, que reduzirá o impacto das liminares”, afirmou. A CCEE ressaltou ainda que continua trabalhando na esfera institucional e jurídica, atuando para reverter as liminares remanescentes, sempre orientada pelos pilares da isonomia, transparência e confiabilidade.

Fonte: Canal Energia

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