Edvaldo Santana: despacho térmico até 13 mil MW tem custo menor para consumidor

O limite operacional para manter em níveis razoáveis a pressão do preço da energia sobre o bolso do consumidor e o caixa do Tesouro é de 13 mil MW de geração termelétrica. Até essa faixa, o preço médio da energia das térmicas fica na ordem de R$ 250 por MWh, porque a operação está limitada às usinas nucleares, a carvão e a gás, que são mais baratas. Acima dela, o preço explode, com a entrada de usinas mais caras a óleo, que vão de R$ 500/MWh até R$ 1.700/MWh.

“A coisa está caindo no colo do governo. No máximo, tem que despachar 13 mil MW de térmica. O resto tem que ser economia de energia”, defende o ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica Edvaldo Santana, em entrevista à Agência CanalEnergia. Ele afirma que o Preço de Liquidação das Diferenças alcançou sua cotação máxima de R$ 822,83 nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul, após a decisão de aumentar o despacho de térmicas de 15 mil MW para 16.300 MW entre a última semana de janeiro e a primeira de fevereiro deste ano.

Dono de opiniões fortes, Santana considera “uma brutalidade” com o consumidor deixar que ele pague “via tributo ou via tarifa uma conta desnecessária”, que deve chegar a mais R$ 5 bilhões em janeiro e fevereiro. A ocorrência da crise em ano eleitoral dificulta, em sua opinião, uma solução mais racional para o problema. “Os governos todos erram. O racionamento não sai do palanque”, critica, destacando que faz referência ao racionamento de 2002.

Para ex-diretor da Aneel, falta ao governo humildade para reconhecer os próprios erros e resolvê-los. “Não gostaram da maneira como eu disse: as pessoas estão sem os fundamentos do que significa operar o sistema elétrico. É igual a me colocar na cabine de um Boeing. Eu não sei pilotar, mas me deram a responsabilidade e eu vou ter que dar um jeito. O setor elétrico não pode sobreviver com um jeito aqui, outro ali. Tem que conhecer os fundamentos. Nem todo mundo conhece todos os fundamentos. Eu, por exemplo, não conheço tudo. Tem que juntar um monte de gente para você ter uma ideia razoável”, pondera.

Defensor de ações de estímulo à eficiência energética antes mesmo que o debate sobre medidas de racionalização virasse uma espécie de mantra entre especialistas, Santana calcula que os 1.300 MW que fizeram o PLD bater no teto poderiam ser economizados com mudanças simples de hábitos de consumo. Em um país com 70 milhões de unidades consumidoras, esse montante de energia corresponde ao desligamento de uma lâmpada de 30W por cada consumidor durante dez horas por dia. Já os 3 mil MW a mais, que são a diferença entre os 13 mil MW considerados razoáveis em termos de geração e os 16 mil MW que têm sido gerados de fato pelas térmicas, exigiriam duas lâmpadas de 30 W ou um televisor desligado durante o dia. “Não é racionamento, é inteligência”, explica o engenheiro e professor da Universidade Federal de Santa Catarina.

“Economia de energia, eficiência energética, seja lá qual nome que seja dado, tem que ser sempre uma variável importante no modelo de otimização do ONS [Operador Nacional do Sistema Elétrico]. E nunca fez parte. Nessas horas, do mesmo jeito que tem o custo do déficit – está lá o primeiro patamar R$ 1.700/MWh – , tem que ter outra variável: e se economizar 500 MW de energia, o que acontece?”, questiona Santana.

A avaliação dos erros e acertos que envolvem o gerenciamento do setor elétrico é um dos capítulos de um livro em fase final de preparação, que o ex-diretor da Aneel pretende lançar ao final de sua quarentena. O restante são artigos cientificos que ele publicou na década de 1990. Naquela época, explica Santana, já era possivel dizer que uma situação como a de hoje poderia acontecer e que a estrutura de governança da operação do sistema era inadequada. Santana deixou a agência reguladora em dezembro do ano passado, após dois mandatos de quatro anos, e só poderá ocupar outro cargo ou exercer algum tipo de atividade no mercado quando concluir o período definido na legislação. Ele diz que há dúvidas se essa quarentena é de quatro ou de seis meses. Se for de quatro meses, ela acaba no próximo dia 22 abril.

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