ONS admite propor corte de luz

Sem a tão esperada ajuda de São Pedro no mês de março, o nível dos reservatórios das hidrelétricas brasileiras continua em queda e já chega a condições semelhantes à de 2001, ano de racionamento.

Com a pressão para diminuir o consumo de energia e reduzir a tensão sobre a rede, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) já admite adotar medidas “adicionais” caso não venha chuva suficiente.

Negada pelo diretor-geral Hermes Chipp por meio de nota, a sugestão de redução de consumo seria defendida por técnicos do ONS nos bastidores. O corte seria de até 6% da carga diária de eletricidade do sistema interligado nacional, o equivalente a 4 mil megawatts (MW).

Aplicada em duas etapas, a contenção se daria por meio da diminuição voluntária de consumo por parte das indústrias e campanha publicitária voltada a clientes residenciais. A economia daria para abastecer uma região com até 30 milhões de pessoas durante 30 dias. Seria o bastante para guarnecer o Rio Grande do Sul por quase três meses, por exemplo.

Mesmo sem confirmação oficial, o apelo é recomendado por especialistas ouvidos por Zero Hora, que afirmam que ações prudenciais já deveriam estar sendo aplicadas há pelo menos dois meses. O período seco no Sudeste e Centro-Oeste, coração energético do país, estende-se de maio a novembro.

— Estamos com condições muito semelhantes àquelas registradas em 2001. O sistema energético está mais robusto, temos muitas termelétricas. Mas o clima está também mais complicado. Além disso, os reservatórios novos são menores. O risco de racionamento em 2014 não é provável, mas não pode ser descartado — afirma Mikio Kawai Jr, especialista no setor e diretor executivo do Grupo Safira.

Receio é que estiagem se repita no próximo ano

A esperança de afastar de vez o fantasma do racionamento está no período seco que, segundo previsão de meteorologistas, não deve ser tão seco assim e contribuir para diminuir a pressão sobre os níveis dos reservatórios.

A preocupação maior é que 2015 repita as condições climáticas desfavoráveis dos dois últimos anos, quando a chuva esperada entre dezembro e março não veio.

— Não adianta o governo esconder que a situação não é boa. O preço mais alto é sinal de que as coisas estão mais complicadas. Comandar o sistema elétrico brasileiro sem chuva é como dirigir um caminhão sem freio. Com o início do período seco, começamos a descer a ladeira — resume Walfrido Avila, presidente da Trade Energy.

Efeito tende a chegar ao bolso e às urnas

A arantia para evitar um possível racionamento caso o nível dos reservatórios continue caindo pode doer no bolso e nas urnas. Tanto um aumento na conta de luz quanto a campanha para reduzir o consumo de energia causam desgaste do ponto de vista político. De olho nas eleições, é grande a chance de o Planalto adiar ações consideradas antipáticas para depois de outubro. O tema foi bastante utilizado pelo PT durante a campanha presidencial de 2002, quando era oposição. O medo é que o mesmo discurso seja utilizado pelo opositores contra a presidente Dilma Rousseff.

Teria sido esse também o motivo do adiamento da implantação das bandeiras tarifárias nas contas de luz. Marcado para começar em janeiro passado, o sistema prevê símbolos coloridos nas faturas indicando aumento no preço da energia caso o país passe por aperto de oferta — como o atual.

A saída mais provável no curto prazo seria uma negociação com a indústria. Com 6% de redução no consumo de energia, a produção industrial não sofreria grandes impactos.

— É mais fácil negociar com uma centena de empresários do que com a população do Brasil inteiro. Uma ação muito mais rápida de ser executada porque exige apenas um programa de eficiência energética das empresas e não mudança de hábitos da dona de casa. A indústria sozinha reponde por quase 28% do consumo no país, pode arcar com a economia, pelo menos por enquanto — diz Mikio Kawai Jr, especialista no setor e diretor executivo do Grupo Safira.

Fonte: Zero Hora – 30/04/2014

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