Quase seis anos depois de leiloada e com um histórico de enfrentamentos na área ambiental, a usina hidrelétrica de Belo Monte chega hoje ao momento sonhado por seus idealizadores há quatro décadas: o acionamento de sua primeira turbina. O enchimento do reservatório, que começou após a emissão de licença ambiental de operação em novembro do ano passado, finalmente atingiu a cota (altura) necessária para ligar a máquina.
O primeiro giro mecânico da unidade geradora nº 1, com 611 megawatts (MW) de potência, marca o início dos testes na hidrelétrica. Trata-se da primeira das 18 turbinas da casa de força principal, responsável por 98% da capacidade instalada de todo o projeto, que alcança 11.233 MW.
Idealizada no fim da década de 1970 pela Eletronorte, a usina contou com um processo de licenciamento ambiental marcado por polêmicas em torno dos impactos da construção sobre as aldeias indígenas, os ecossistemas da floresta amazônica e a vida dos ribeirinhos que margeiam o rio Xingu, no Pará. O potencial de geração do projeto – cotado para ser a terceira maior hidrelétrica do mundo – foi descoberto por engenheiros da estatal, que identificaram o declive de quase 90 metros no curso do rio, na região chamada Volta Grande do Xingu.
A entrada em operação é comemorada pelos principais executivos e engenheiros envolvidos na construção de Belo Monte, apesar da defasagem de um ano em relação à previsão contratual. “Tivemos uma séria de marcos importantes até chegarmos a esse estágio. Construímos toda uma infraestrutura que envolveu 28 diques e seis barragens. Tudo isso foi feito em quatro anos”, observou o presidente da concessionária Norte Energia, Duilio Diniz de Figueiredo, em entrevista ao Valor PRO, serviço de informação em tempo real do Valor.
A Norte Energia é o grupo empresarial responsável por construir e operar a usina. O executivo explicou que acaba de ser concluído o enchimento do reservatório, processo que mobilizou técnicos desde a liberação licença de operação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama).
A turbina que está sendo ligada hoje começa a produzir energia em caráter comercial, abastecendo o sistema interligado nacional, a partir de 15 de março. Em seguida, no dia 19, a primeira unidade geradora da casa de força complementar (Pimental) entrará em operação comercial. Essa estrutura secundária de geração reúne seis turbinas e soma 233 MW de potência instalada.
“A cada dois meses, uma nova turbina começará a gerar energia. Até o fim do ano, já teremos mais quatro delas em operação comercial”, disse Diniz. A Norte Energia informou que 60 milhões de pessoas em 17 Estados do país serão beneficiadas pela energia do empreendimento, no momento em que todas as máquinas estiverem em atividade.
Ao ser concluída, em janeiro de 2019, Belo Monte contará com 24 turbinas. O empreendimento ainda tem 20% de sua energia descontratada. Esse montante poderia ser oferecido no mercado livre, onde grandes consumidores industriais se abastecem, mas o recente tombo nos preços do megawatt-hora precipitou uma mudança de planos. A usina já se inscreveu no leilão A-5, previsto para o fim de março, na tentativa de vender o restante da energia para as distribuidoras.
Enquanto isso, a Norte Energia busca uma solução para o equilíbrio econômico do projeto, já que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) recusou seus pedidos de “perdão” pelo atraso no início da geração. Graças a uma liminar judicial, porém, a usina está protegida de penalidades pelo descumprimento do cronograma original do leilão.
Apesar de todo o alívio que cerca o início dos testes, Belo Monte está longe de selar o fim das controvérsias. Representantes da aldeia Miratu, da comunidade indígena dos Jurunas, localizada a dez quilômetros da casa de força Pimental enviou ontem mesmo uma carta ao Ibama e à Fundação Nacional do Índio (Funai) denunciando problemas e cobrando novas indenizações.
Os indígenas reclamam de forte aumento na incidência de mosquitos e mortandade de peixes após o fechamento da barragem.
Fonte: Valor Econômico
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