O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) pretende levar, nesta semana, uma mensagem tranquilizadora às principais autoridades do setor: os reservatórios devem chegar ao fim do período seco em nível mais confortável do que nos últimos anos e haverá menos necessidade de acionamento das usinas térmicas nos meses de estiagem.
A temporada de chuvas terminou oficialmente no dia 30 de abril. No passado recente, era quando os responsáveis pela operação do sistema interligado começavam a fazer contas (e figas) para evitar o esvaziamento das represas. Desta vez, no entanto, a promessa é que vai ser diferente.
De acordo com Luiz Eduardo Barata, diretor-geral do ONS, as simulações apontam que os reservatórios vão chegar ao fim de novembro com 30% da capacidade máxima no subsistema Sudeste/Centro-Oeste e com 21% no Nordeste. Essas estimativas já consideram um cenário pessimista: chuvas 10% abaixo da média histórica no Sudeste/Centro-Oeste e o pior registro de pluviometria da série, que foi iniciada em 1930, na região Nordeste.
O cenário vai ser apresentado em reunião na quarta-feira, em Brasília, do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE). A situação era mais preocupante no ano passado. Em 30 de novembro, os reservatórios marcavam 18,7% no Sudeste/Centro-Oeste e apenas 5,5% no Nordeste.
Uma das razões para que esse baixo índice de armazenamento não tenha causado restrições foi o reduzido consumo de energia, devido à crise econômica, e ao aumento da geração de fontes renováveis – principalmente eólica.
A expectativa de chegar ao fim de novembro com 30% nos reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste é reforçada pela previsão de aumento da oferta de energia das grandes hidrelétricas do Norte. As usinas de Jirau e Santo Antônio, no rio Madeira (RO), finalmente operam a plena carga e Belo Monte, no rio Xingu (PA), tem intensificado a entrada em funcionamento de suas turbinas.
Barata explicou que essas hidrelétricas ajudarão a poupar água nos demais reservatórios até julho. Isso porque o período chuvoso na região amazônica é um pouco mais prolongado e as usinas são do tipo "fio d'água" – sem grandes reservatórios. A estratégia é elevar a geração à capacidade máxima, transferindo toda a energia para outras regiões.
Nas simulações feitas pelo ONS, que embutem um crescimento anual da demanda de 3,6% em média, o risco de déficit no abastecimento de energia é "quase zero" no horizonte de cinco anos. "Não identificamos nada que nos preocupe. Até se o crescimento econômico for maior do que o esperado, não enfrentaremos risco", disse Barata.
Para o operador, as bacias hidrográficas do Nordeste também devem melhorar. A seca prolongada levou a região a uma situação emergencial. A região ainda vive o maior período contínuo de seca desde 2012. Até por precaução, segundo Barata, ainda é impossível falar em novos aumentos de vazão no rio São Francisco.
No início de maio, a Agência Nacional de Águas (ANA) permitiu o aumento da vazão na hidrelétrica de Sobradinho (BA). O reservatório da usina, operada pela Chesf, pode aumentar o fluxo médio de água de 550 metros cúbicos por segundo para 600 m³/s no mês. A decisão eleva a produção de energia em Sobradinho e nas demais usinas no curso do rio.
O diretor do ONS evita fazer previsões sobre a cor da bandeira tarifária nos próximos meses. Ao entrar oficialmente no período de estiagem em maio, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) acionou a bandeira amarela, com adicional de R$ 1 a cada 100 quilowatts-hora (kWh). Foi, então, interrompida a sequência de quatro meses de bandeira verde – sem custo extra na fatura. "A Aneel passou a usar novas variáveis para definir a cor, entre elas o risco hidrológico [GSF], que torna mais difícil fazer essa previsão", afirma Barata.
O presidente da Thymos Energia, João Carlos Mello, avalia que as bandeiras tarifárias devem variar até o fim do ano entre amarela e vermelha no patamar 1, com adicional de R$ 3 a cada 100 kWh. "A bandeira acaba sendo um termômetro da real situação, refletindo o baixo nível dos reservatórios e o custo dos despachos térmicos."
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Fonte: Valor Econômico.
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