Riscos regulatórios são maior barreira para investimentos em transição energética, aponta pesquisa


Estudo global da KPMG destaca que investidores brasileiros temem que mudanças abruptas em políticas governamentais possam interromper planos de investimento de longo prazo.

Em 2024, ativos ligados à transição energética atraíram entre US$ 10 milhões e US$ 1 bilhão anuais de investidores brasileiros, considerando dados de uma pesquisa recente da consultoria KPMG. Entretanto, as cifras poderiam ser ainda mais robustas se o cenário global das políticas em torno do tema estivesse mais sólido.

O diagnóstico é observado a partir do estudo global “Perspectivas de Investimento na Transição Energética: 2025
em diante”, lançado pela consultoria, em fevereiro deste ano. Conforme a pesquisa, para 36% dos executivos que fazem esses investimentos, os riscos regulatórios e políticos são a principal barreira enfrentada por eles para financiar a transição energética. Segundo o mapeamento, os investidores brasileiros temem que mudanças abruptas em políticas governamentais possam interromper planos de investimento de longo prazo.

Além das citações sobre as questões regulatórias, as incertezas sobre o desempenho de tecnologias (28%) e a volatilidade do mercado (26%) aparecem como preocupações adicionais.

A consultoria ouviu 1,4 mil executivos do Brasil e de mais 36 países, incluindo Estados Unidos, China, Arábia Saudita e África do Sul. Os entrevistados atuam em organizações que têm investimentos ativos em transição energética, como representantes dos setores bancário, petróleo e gás, capital de risco, transporte, energia, entre outros.

De acordo com a sócia-líder de ESG da KPMG para Américas, Nelmara Arbex, a preocupação com regulações mais estáveis apresentada pelos investidores brasileiros é compartilhada com seus pares globais. Como os investimentos em energia costumam ser de longo prazo, eles precisam de um cenário mais seguro para diminuir a possibilidade de perdas, caso haja uma mudança rápida de cenário nas políticas públicas e regulatórias.

“É importante para o investidor saber qual é o plano da liderança de um país. Se o Brasil, por exemplo, não decide que será um grande player na área de hidrogênio verde, as regulamentações para apostar nesse mercado também não são definidas”, diz Arbex. “O investidor acaba tendo de decidir sobre onde colocar o dinheiro sem essas informações fundamentais.”

A especialista acrescenta ainda que é um risco grande ter de definir investimentos na área de energia, que são de longo prazo, em um ambiente onde as regras ainda não estão claramente estabelecidas. “São regulamentações que ajudam o mercado a perceber que existe uma autoridade que toma conta disso. Assim, o investidor pode negociar, no mercado de carbono, por exemplo, sabendo que há uma comprovação por trás.”

O papel importante das políticas públicas é ressaltado pelos entrevistados não só para consolidar o mercado em termos legais como para financiar a transição energética em parceria com a iniciativa privada. Quase seis em cada 10 investidores brasileiros entrevistados disseram acreditar que a precificação de carbono e os subsídios são cruciais para incentivar investimentos em projetos de transição.

Nos últimos dois anos, 64% dos executivos brasileiros ouvidos investiram em eficiência energética; 52% em armazenamento de energia e infraestrutura de rede; 50% em transporte e infraestrutura relacionada; e 40% em energias renováveis e de baixo carbono.

Combustível fóssil
Apesar do apetite dos investidores pelos ativos da transição energética, os combustíveis fósseis ainda não perderam sua hegemonia quanto à atração dos investimentos no setor. Segundo o estudo, apenas 26% desses investidores no Brasil não estão colocando dinheiro em energia fóssil.

O estudo ressalta que previsões confiáveis apontam que os combustíveis fósseis terão um papel cada vez menor na
geração de energia nas duas próximas décadas, mas aponta que eles ainda são essenciais na transição gradual para uma nova matriz energética.

pequeno, já é crescente (e ligeiramente acima da média global de 25%), indicando uma projeção otimista para o futuro da transição no País. Em destaque, fica a perspectiva de que é mais rentável investir em outras fontes de energia.

“Estamos vindo de décadas de uma economia que colocava todo o seu dinheiro no petróleo, e ter 26% de investidores que já não fazem isso mostra que eles já sabem que, se fizerem esse investimento, vão perder dinheiro no longo prazo. Estamos hoje redescobrindo muitas formas de se obter energia que são mais baratas ou que nos garantem maior independência do que o petróleo. Apesar de parecer contraditório, a tendência é que a
gente mova as economias dessa forma”, afirma a especialista.

Por Estadão.
https://www.estadao.com.br/economia/governanca/riscos-regulatorios-barreiras-transicao-energetica-brasil-kpmg/

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