No iBEM, executivos destacam programas como Luz para Todos e potencial das renováveis no país, mas apontam desafios para hidrogênio verde.
A transição energética precisa priorizar a redução da pobreza energética, garantir preços acessíveis e considerar diversas fontes energéticas, afirmaram especialistas nesta terça-feira (25/3), durante painel realizado no International Brazil Energy Meeting (iBEM), em Salvador.
Os representantes do setor energético destacaram que a ampliação do acesso à energia e a diversificação das fontes de geração são fundamentais para uma transição justa e eficiente.
Laura Porto, diretora executiva de renováveis da Neoenergia, enfatizou a importância de combater a pobreza energética como prioridade.
“O grande desafio é a redução da pobreza energética antes de qualquer coisa, então hoje a gente tem 10% da população mundial sem acesso à energia e tem uma boa parte ainda com a energia muito restrita ou então com o consumo muito pequeno”, afirmou.
A diretora deu como exemplo o sucesso do programa governamental Luz para Todos, criado em 2003, durante o primeiro governo do presidente Lula (PT), e que até no ano passado havia levado energia a cerca de 18 milhões de brasileiros que não tinham acesso.
“O Brasil tem um programa que é paradigma mundial, que é o Luz para Todos. O Brasil hoje tem apenas 0,2% da população brasileira sem acesso à energia”.
Porto também ressaltou a importância de ao mesmo tempo garantir soluções energéticas acessíveis e de qualidade para toda a população, e também “incentivar o uso eficiente daqueles que têm acesso à energia”.
“É necessário que as pessoas que têm acesso hoje à energia melhorem o perfil energético”, disse a executiva, destacando a maior oferta de energia renovável e de sistemas inteligentes que continuam com maior eficiência energética.
Papel das renováveis
Ben Backwell, CEO do Global Wind Energy Council e presidente da Global Renewables Alliance, reforçou a relevância da energia eólica na transição energética, devido à sua escalabilidade e competitividade econômica.
“É uma fonte disponível agora, rápida de instalar, escalável. Um leilão, onde se tenha infraestrutura, demanda, e é puramente por preço da geração, a eólica instalada ganha em quase qualquer parte do mundo”, explicou Backwell.
“Vimos isso nos leilões onde competimos com gás, com carvão, no Brasil, África do Sul, Estados Unidos. Se é puramente por geração, as renováveis ganham”, completou.
Contudo, Backwell ressaltou os desafios em segmentos em que a eletrificação direta não é viável, sendo necessária a adoção de soluções hoje ainda caras, como o hidrogênio de baixo carbono e seus derivados — que irão demandar de incentivos governamentais.
“A indústria de hidrogênio neste momento está no que chamamos de Vale da Morte. Todos sabemos que a indústria virá, mas os preços de mercado não são capazes de destravar a demanda. Os governos vão ter que ter a sua parte e as grandes empresas em dar esses sinais de demanda”, disse.
Blend de hidrogênio
Gabriel Lassery, superintendente da Associação Brasileira do Hidrogênio (ABH2), apontou que o Brasil tem vantagens naturais para produzir hidrogênio de baixo carbono a partir de diversas fontes energéticas, formando uma espécie de blend, que pode tornar o produto final mais acessível.
“Vemos uma estratégia no Brasil para produzir hidrogênio a partir de muitas fontes diferentes, um lote de hidrogênio utilizando muitas fontes diferentes, que no final tem baixas emissões e é mais acessível”, apontou.
“No final, tudo se resume ao preço deste produto (…) Se passarmos a produzir hidrogênio a partir da reforma do metano a vapor, mas utilizarmos captura de carbono, e juntamente com outras tecnologias, como a hidrólise ou o hidrogênio natural ou qualquer tipo de hidrogênio, podemos ter um produto mais acessível”, avaliou Lassery.
Por Eixos.
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