Matriz hídrica gerou 48% da demanda máxima de energia registrada em março

Abertura da VII Conferência da Abrapch


O tema foi abordado na abertura da VII Conferência Nacinal de PCHs e CGHs

O novo recorde na demanda máxima consumida de energia no Brasil de 102.478 megawatts (MW) – registrada no dia 15 de março, às 14h37, data em que houve o apagão no aeroporto de Congonhas, em São Paulo – pelo  Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), teve 48% da sua produção sustentada pelas fonte hídrica.

Deste total, 92,5% deles correspondem à geração de energia renovável, incluindo as pequenas usinas hidrelétricas (PCHs) e as centrais geradoras  hidrelétricas. 

Nesse contexto, durante a abertura da VII Conferência Nacional de PCHs e CGHs, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em Brasília, o diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Fernando Luiz Mosna Ferreira da Silva, disse considerar ainda mais oportuna a discussão sobre o papel das PCHs e das CGHs dentro da matriz energética brasileira e sua atuação em momentos de atendimento aos picos de consumo da sociedade brasileira.

A fonte hidráulica (usinas hidrelétricas, PCHs e CGHs) corresponderia a 48% da potência instalada — seguida pela biomassa e pela eólica (13% cada) e pela solar (12%). “Nossa matriz está mudando bastante. Mas é sempre importante reconhecer a relevância das centrais hidrelétricas não apenas como fontes de energia, mas como impulsionadoras do desenvolvimento econômico e social, no local dos empreendimentos “, observa o diretor da Aneel. “Em uma cadeia produtiva 100% nacional, as PCHs e CGHs fornecem eletricidade limpa e renovável, além de empregos, impulsionando a economia regional e proporcionando infraestrutura essencial para regiões mais afastadas”, reforça.

Mosna acrescenta que, no momento em que se discute a transição energética, as PCHs e CGHs são alternativas de geração de energia renovável e sustentável. “Elas reduzem significativamente as emissões de gases do efeito estufa e contribuem para o atingimento das metas do Acordo de Paris, dentro da perspectiva de mudanças climáticas”, afirma. “A flexibilidade, a não intermitência e a confiabilidade das fontes hídricas desempenham papel importante na operação do sistema elétrico, pois permite respostas rápidas às demandas de energia, garantindo o fornecimento estável e seguro de energia elétrica.” 

O Secretário Nacional de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia (MME), Gentil Nogueira, falou sobre o papel do Brasil na transição energética e a opção feita pela fonte hídrica ainda na década de 1960. “Temos uma matriz muito limpa; uma fonte hídrica com custo marginal baixo, mas próxima de seu esgotamento”, admitiu, ao citar um crescimento do consumo da ordem de 5% em 2023. “Os projetos que temos implementado e estão em operação não têm mais essa capacidade.” Em relação às PCHs, Nogueira lembrou que estão perto do centro de carga e têm capacidade de modulação horária e diária, duas vantagens. “É uma diretriz do Governo Federal valorizar tudo aquilo que traz emprego e renda para o povo brasileiro”, afirmou, ao ressaltar a importância das PCHs, CGHs e hidrelétricas na questão do conteúdo nacional. 

Proposta

A VII Conferência Nacional de PCHs e CGHs reúne cerca de 800 participantes, entre autoridades do setor elétrico, especialistas, técnicos e empreendedores. A proposta é debater temas como a transição energética, a reinserção das PCHs e das CGHs na matriz elétrica brasileira e a forma como elas contribuem para o desenvolvimento regional. Com a maior extensão hidrográfica do planeta e detentor das matrizes energéticas mais renováveis, o Brasil tem muito a ganhar com a valorização das pequenas centrais hidrelétricas. 

No discurso de abertura, Alessandra Torres de Carvalho, presidente da ABRAPCH, pontuou que, por estar no topo da matriz energética altamente renovável, o Brasil tem o desafio de equilibrar a abundância de recursos naturais e as necessidades do sistema elétrico. 

“Temos grandes potencialidades em termos de abundância de renováveis, mas nada supera a fonte hídrica. Nenhum país que tenha o potencial hídrico de que dispomos renunciaria a essa oportunidade. Também não devemos renunciar. Não existe fonte de energia mais renovável nem mais economicamente eficiente do que aquela que dura mais de um século gerando e tem o menor custo final de operação e manutenção do setor elétrico”, afirma Torres. 

De acordo com a presidente da ABRAPCH, novas hidrelétricas — com e sem reservatórios —, usinas reversíveis, PCHs e CGHs precisam ser imediatamente reinseridas na matriz elétrica brasileira.  “Seguimos propondo um amplo programa de Estado de desenvolvimento das pequenas hidrelétricas que tenha adoções de medidas que as viabilizem e valorizem seus atributos, e corrijam as distorções atuais de mercado”, sublinhou Alessandra Torres. “As hidrelétricas são a espinha dorsal do setor elétrico. Promovem a segurança energética, hídrica e alimentar.”

Legenda: Alessandra Torres, presidente da Abrapch Foto: André Kazé

Rápida reinserção

Atualmente, 1.046 PCHs e CGHs produzem, juntas, 5.560 megawatts de energia gerada. Vice-presidente da ABRAPCH, Ademar Cury da Silva explicou que as matrizes energéticas brasileiras estão muito difusas. “Precisamos de energia para suprir a intermitência da solar. A melhor solução seriam as hidrelétricas ou as térmicas, mas estas últimas vão contra a descarbonização. Defendemos a rápida reinserção das hidrelétricas. As PCHs, que são as menores e estão disponíveis, podem ser as primeiras nesse processo”, comentou. Ele avaliou a necessidade de uma revisão do setor elétrico. 

Pouco antes de integrar o primeiro painel desta terça-feira — “Transição energética, o novo setor elétrico e o papel fundamental das hidrelétricas” — André Pepitone, diretor financeiro da Itaipu Binacional, classificou o evento como de “suma importância”. “A VII Conferência Nacional de PCHs e CGHs traz à tona em Brasília, centro do poder, um tema relevante para o setor elétrico no país: a inserção da PCH na matriz. Temos que trabalhar e discutir novas políticas públicas que permitam isso”, defendeu. Ele considera o momento bastante propício, ante o desafio de potência enfrentado pelo sistema. Pepitone explica que toda a

 cadeia de PCHs é nacional, incluindo fabricantes e projetistas. “Isso fomenta toda uma indústria para gerar emprego, renda e crescimento no país.”

Operador

A assessora executiva do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Elusa Barroso, frisou que o ONS não escolhe a fonte energética, mas opera aquela que lhe é entregue. “Questões climáticas aumentam o nosso desafio. Podemos e devemos contribuir para o avanço da transição energética “, observou. O sistema interligado do Brasil possui 162 mil quilômetros de linha — até 2028, a expectativa é de chegar a 200 mil. 

Presidente da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia e do  Fórum das Associações do Setor Elétrico (Fase), Mário Menel, disse que entregou ao Governo Federal uma agenda com 28 propostas para o setor elétrico a serem cumpridas nos próximos cinco anos, sete das quais foram priorizadas. “Introduzimos a parte de transição energética na agenda. Propusemos a redução dos encargos e subsídios, que tem nos levado a uma situação difícil”, pontuou. Na opinião dele, é importante a precificação dos atributos de fontes hídricas e o uso das PCHs como complemento a outras fontes de energia renovável.  

China de olho no mercado

Entre os participantes da VII Conferência Nacional de PCHs e CGHs, um deles chamou a atenção. Wu Wenhao, vice-secretário-geral da Sociedade para Engenharia Hidrelétrica da China, viajou quase 17 mil quilômetros de Pequim para o Brasil com o intuito de marcar presença no evento. “Na China, também temos um modelo semelhante de CGHs e PCHs. Temos o interesse de desenvolver projetos de pequenas hidrelétricas abaixo de 50 MW. Temos nos concentrado em hidrelétricas de tamanho pequeno, também voltados para o desenvolvimento ambiental e econômico”, explicou Wu.

O engenheiro chinês relatou que sua empresa tem obras no Brasil, como a linha 2 do metrô de São Paulo e um projeto fotovoltaico no Ceará. “Soube da conferência e tive muito interesse em participar”, contou. Por enquanto, Wu não investiu em projetos de PCHs e CGHs no Brasil, mas não escondeu o interesse em participar.

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