Escassez dos reservatórios de água é tema de debate em Conferência Nacional de PCHS e CGHS


A escassez dos reservatórios de água existentes no Brasil e a forma com que o país utiliza o seu potencial hídrico, para a garantia da segurança hídrica  e energética foi apontada como uma das maiores preocupações de especialistas, durante a VII Conferência Nacional de (PCHs) Pequenas Centrais Hidrelétricas e CGHs Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGHs), que acontece em Brasília, entre os dias 19 e 20 de março.

Isso porque a utilização de reservatórios de acúmulo de água são fundamentais para a geração hidrelétrica, e também para outros usos múltiplos, como o abastecimento humano e animal, produção agropecuária e transporte, com reconhecidos benefícios ambientais para os ecossistemas.

“Somente existe disponibilidade hídrica com garantias graças aos reservatórios. Graças a eles, é possível perenizar os rios, ou seja, guardar a água da época da abundância para usar no período de seca”, pontuou o superintendente adjunto de regulação de usos de recursos hídricos da ANA (Agência Nacional de Águas), Patrick Thomas, durante o painel sobre a  “A importância da água e seus usos múltiplos”, em que os conferencistas abordaram como as pequenas usinas podem contribuir para a gestão da água no Brasil. 

Thomas acredita que os reservatórios se tornarão cada vez mais essenciais ao longo dos anos, por conta das mudanças climáticas, marcadas por eventos extremos com mais intensidade e maior frequência. “Tivemos uma das piores cheias da história, no Sul. A água passou por cima de três hidrelétricas. Se houvesse mais reservatórios, poderíamos ter minimizado os efeitos da seca na Amazônia e da cheia no Sul.” Ele entende que a mitigação das mudanças climáticas passa pelo armazenamento de água da cheia dos rios para ser usada na estiagem; ou seja, a construção de reservatórios com capacidade de regularização cada vez maior. ​

A presidente da Abrapch, Alessandra Torres de Carvalho, acredita que  da forma como vai a expansão do setor elétrico, é temerário um futuro sem reservatórios, atuais e novos. 

“O Brasil tem grandes potencialidades em termos de fontes de energia elétrica, com abundância de energias renováveis, mas nada supera a fonte hídrica, com seus atributos. Hidrelétricas, com e sem reservatórios, usinas reversíveis, PCHs, CGHs, fonte limpa e renovável, estratégica e confiável, precisam ser imediatamente reinseridas na matriz elétrica brasileira, pois são fundamentais para a composição e equilíbrio da mesma”, afirmou a presidente da Abrapch.

Ela explica que – tendo em vista a falta de projetos que viabilizem novas hidrelétricas de grande porte no curto prazo –  viabilizar a grande quantidade existente de projetos de PCHs e CGHs, com potência instalada até 50 mw, fonte renovável e limpa, deve ser prioridade no planejamento da matriz elétrica brasileira e também em futuros leilões de energia.

A entidade defende a criação de um programa de governo nacional, com a adoção simultânea de medidas que viabilizem e valorizem os atributos da fonte hídrica, resolvendo impedimentos ambientais e corrigindo as distorções atuais do mercado, em desfavor das pequenas hidrelétricas.

 O uso dos recursos hídricos

O Conselheiro e ex-vice-presidente do Comitê Brasileiro de Barragens, doutor em engenharia civil e sócio da Sustech Consultoria, José Marques Filho afirmou que o crescimento populacional das grandes cidades ampliou a demanda por energia e por água. 

“Estamos falando de um insumo vital. As pessoas fazem energia e água porque precisam. O tecido social somente não rompe porque somos perseverantes e resilientes”, advertiu, ao ironizar a opção por priorizar a energia eólica e a solar.  

José Marques destacou o potencial hídrico do Brasil, mas alertou que os reservatórios de água não são uniformes. “O recurso hídrico é sazonal. Precisa ser guardado para ser usado ante a escassez”, disse. Segundo ele, até 2007, o Brasil ostentava uma predominância hidráulica, com geração de energia limpa. José Marques criticou a disseminação de barragens a fio d’água, incapazes de armazenar água, e lamentou o fato de os desastres em Brumadinho e em Mariana, ambos em Minas Gerais, terem causado uma desconfiança em relação às hidrelétricas. 

O engenheiro civil salientou que, sem a energia hidrelétrica, é impossível firmar a eólica e a solar. “As energias são intermitentes, o que torna necessária a reservação”, observou. José Marques admitiu que a mídia não compreende a transição energética no Brasil. “A comunidade não entende o que a gente fala. A maior parte das informações são politizadas. Temos uma questão óbvia: ‘Qual é a água mais cara que um país tem?’ ‘Aquela que ele não tem’. Isso reduz a possibilidade de crescimento. O Brasil não tem chance de crescer 5% ao ano com o atual sistema”, alertou.

Apelo

Durante sua exposição, José Marques fez um apelo: “Por favor, deixem a energia hidráulica competir e entrar no sistema”. “É preciso equilibrar o sistema. A falta de reservatório desequilibrou o sistema brasileiro. Virou uma bagunça”, criticou. Nesse âmbito, ele vê como crucial o planejamento integral de todas as modalidades energéticas. “Não estamos seguindo um projeto estruturado”, comentou.

Planejamento 

Para Joana Cruz, diretora-geral da Azurit e mestre em saneamento, meio ambiente e recursos hídricos, existe uma necessidade premente de um planejamento hídrico no Brasil. “Apesar de tanta abundância, desperdiçamos muita água”, lamentou. A painelista expôs uma série de manchetes polêmicas relacionadas às mudanças climáticas e à produção de energia elétrica. “Os reservatórios continuarão a ser os vilões?”, ironizou.

Especialista em gestão de recursos hídricos e consultora na área, Maria Aparecida Vargas citou a Resolução de Segurança de Barragens e relatou que o debate sobre o texto se arrastou por sete anos. “Em 2022, quando conseguimos aprovar a resolução no âmbito do Conselho Nacional de Recursos Hídricos, houve a mudança de governo, com a migração do Conselho para o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA). Não conseguimos a promulgação do texto”, lamentou. Vargas atribuiu o uso de barragens fios d’água em PCHs a uma política de governo. “Foi uma decisão tomada por pressão de ONGs. Estamos pagando esse preço hoje”, disse. 

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