Órgão adverte que período menos chuvoso no ano que vem pode mudar status e exigir medidas adicionais.
A forte onda de calor dos últimos dias encontra o Sistema Interligado Nacional (SIN) em uma posição confortável, com reservatórios em “situação bastante boa” e termelétricas que podem ser acionadas em caso de necessidade. Mas uma estação chuvosa com precipitação menor ou atrasada exigirá medidas adicionais no início de 2024, a fim de evitar o acionamento de termelétricas mais caras ao longo do ano. A avaliação é do diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Carlos Ciocchi.
“Dependendo de como for a estação chuvosa, discutiremos as medidas que serão tomadas no ano que vem”, disse. De acordo com ele, os níveis atuais dos reservatórios e uma estação chuvosa “normal” permitirão “que 2024 seja tranquilo”.
“Mas, se for uma estação chuvosa que chega com atraso, precisaremos logo no início do ano pensar em como administrar os recursos ao longo de 2024”, afirma.
Uma opção seria o “controle dos reservatórios de cabeceira”, a exemplo de usinas como Furnas, Jupiá e Porto Primavera. Outra seria o acionamento de “térmicas mais baratas logo no início da estação chuvosa”, para usar “as térmicas mais caras só no
fim do ano, se for o caso”.
Ciocchi reconhece também que o acionamento de térmicas “sempre tem algum impacto” que eleva o preço das tarifas. “Mas ainda bem que existem as térmicas. A alternativa seria pior”, diz.
No curto prazo, ele afirma que a decisão de acionar usinas termelétricas nesta semana foi “bastante acertada”, citando os dois dias consecutivos de recorde do consumo de energia no Brasil. Na terça-feira, 14, o consumo superou pela primeira
vez os 100 gigawatts.
“Não dá para negar que estamos passando por um evento diferente, extremo, intenso”, diz. “Toda essa questão climática está chamando muito a nossa atenção.” Ainda assim, o SIN permanece com “diversidade de fontes” e “robusto”, de acordo com Ciocchi.
O diretor geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Sandoval Feitosa, também classifica o SIN como “robusto” e preparado para lidar com as ondas de calor no país. Ele admite, no entanto, que pode haver “problemas pontuais” em algumas regiões, especialmente na distribuição de energia em função da sobrecarga de circuitos.
“O Brasil tem plenas condições de atender o sistema elétrico com relação ao momento atual, em que pese o aumento do consumo”, diz. “Você pode ter um problema pontual em uma região ou outra, mas o sistema brasileiro é redundante. No segmento de transmissão, caso um componente falhe, uma linha ou equipamento, há sempre um equipamento substituto. Ou seja, se faltar uma linha, aquela linha não traz corte de carga.”
A onda de calor elevou, no entanto, a quantidade de energia importada pelo Brasil no início desta semana, segundo o ONS. A parcela de eletricidade vinda do exterior passou de 0,005% na semana passada para 0,46% na terça-feira. A comparação é
sempre feita em relação à carga total verificada. O Brasil importou, na semana de 4 a 10 de novembro, uma média de 4 megawatts (MW) médios ao dia. Na terça, a compra externa subiu pra 416 MW médios na terça. A energia importada veio toda
da Argentina. O ONS também tem redes ligando o país ao Uruguai e ao Paraguai, que não foram usadas. Já a energia gerada no lado paraguaio de Itaipu não entra na conta de importação.
Nivalde de Castro, professor do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que o aumento da importação não é sintoma de falha estrutural do setor elétrico brasileiro. “Temos, por definição, capacidade instalada muito maior do que a demanda”, diz. Mesmo assim, há relação da alta das importações com a onda de calor e o aumento do consumo, segundo ele.
Por Valor Econômico.
Imagem: Canal Energia.
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2023/11/16/ons-ve-situacao-confortavel-com-reservatorios.ghtml
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