O atual preço da energia coloca em risco o futuro da transição energética.
Se a energia barata é boa para os consumidores, para as empresas geradoras a situação não está favorável. O cenário pode levar ao represamento de investimentos por falta de viabilidade econômica para os projetos, já que o custo marginal de expansão está maior.
O relato de executivos do setor é que uma conjunção de fatores no setor elétrico ligados aos subsídios excessivos, reservatórios cheios, sobreoferta de energia e demanda estacionada podem paralisar a expansão do setor elétrico no país.
O CEO da Engie Brasil Energia, Eduardo Sattamini, alerta que o atual preço da energia coloca em risco o futuro da transição energética, à medida que desestimula investimentos em novos projetos de geração, impactando diretamente o desmonte da cadeia de valor.
“Por um lado, é urgente que se estabeleça estímulo à carga por meio da neoindustrialização, dada a condição que o país tem de atrair investimentos para o crescimento da indústria – especificamente de uma indústria comprometida com a sustentabilidade.
Isso ampliará a demanda por energia renovável, estabelecendo um equilíbrio econômico em longo prazo. Por outro, é necessário trazer à tona o fato de que a tarifa baixa não é refletida na fatura do consumidor, que paga uma série de subsídios que contribuem para o desequilíbrio do mercado, gerando furos e incertezas que se acumulam e se perpetuam no setor.”
O paradoxo de energia barata e tarifa cara, à qual Sattamini se refere, se explica pelas vantagens dadas a alguns setores, que tem feito com que os consumidores migrem do mercado regulado (atendido pelas distribuidoras) para a geração distribuída. Segundo ele, a benesse é dada a consumidores de alta renda, dado o custo de instalação das placas solares, mas financiada pela fatura dos demais consumidores, muitos de baixa renda.
Se por um lado, as cadeias produtivas parecem enfrentar menos pressão à medida que os custos diminuíram e a inflação arrefeceu; por outro, desafios surgem como o baixo número de novos contratos e as taxas de juros consideravelmente elevadas. Além do temor de possível aumento dos preços das commodities.
O diretor-presidente da Nordex no Brasil, Felipe Ramalho, diz que o reduzido volume de novos contratos de fornecimento de aerogeradores em 2023 no Brasil é um indicador de que a cadeia de suprimentos local pode enfrentar um período de baixa demanda por produção e serviços nos anos de 2024 e 2025.
Tal percepção é compartilhada pelo vice-presidente de marketing e vendas da Hitachi Energy, Glauco de Freitas. Ele acredita que 2024 deve seguir a mesma tendência de poucos contratos em energias renováveis, que não devem superar 2 GW, montante considerado baixo. Em energia solar a expectativa é contratar apenas 3 GW, em contraste com a expectativa inicial de 6 GW.
Por Valor Econômico.
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2023/10/13/atual-cenario-pode-inviabilizar-novos-projetos-de-geracao-renovavel.ghtml
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