Setor debate expansão das renováveis e quais fontes permitirão despacho imediato
03. Hoje, elas representam 60%. O sistema, que era hidrotérmico, passou por uma revolução tecnológica, que barateou equipamentos destinados a usinas eólicas em 30% nos últimos dez anos, e solares, com 80% de queda em uma década.
A geração distribuída solar, instalada hoje por mais de 1 milhão de brasileiros em suas residências e pequenas indústrias, já responde por 10% do consumo entre 10 horas da manhã e o meio-dia e já soma 14 GW (superior à capacidade da usina hidrelétrica de Itaipu, a segunda maior do planeta).
As eólicas já são a segunda principal fonte de eletricidade do país, que hoje tem uma matriz diversificada. Tem havido aumento da oferta de geração nas regiões Norte e Nordeste. No entanto, o maior centro de carga do sistema continua sendo a região Sudeste. “A fonte hidrelétrica deverá sofrer uma redução de cerca de 10% até o final da década, que será complementada por outras fontes renováveis”, aponta Erik Rego, diretor de energia elétrica da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
O avanço das fontes renováveis, como eólicas e solares, traz um desafio para o Operador Nacional do Sistema (ONS), que controla toda a operação e define as usinas que entram para suprir a demanda do momento – ou seja, o “despacho” das usinas. No jargão do setor elétrico, essas novas usinas não são ‘despacháveis’, ou seja, sua oferta não está disponível o tempo todo, por dependerem de fatores climáticos, como bons ventos ou a luz solar.
Isso gerou um debate no setor elétrico sobre como se dará a expansão das renováveis e quais serão as fontes que permitirão despacho imediato. As usinas termelétricas a gás natural se inserem nesse quesito, o que leva os agentes agora a questionar qual o papel do gás nas novas configurações da matriz elétrica e como serão contratadas essas térmicas em um momento em que se discute a abertura total do mercado. Hoje, essas usinas são contratadas por leilões de longo prazo no mercado regulado.
Todas essas questões são amplificadas pela guerra entre Rússia e Ucrânia, cujos efeitos sobre o mercado de gás natural e gás natural liquefeito (GNL) deverão perdurar por toda esta década, em razão da dependência estrutural de países europeus do gás russo. Em 2021, o fornecimento de gás russo respondeu por 40% do consumo energético da União Europeia. Isso deverá pressionar as cotações internacionais do insumo ainda por muito tempo e tornar importação de novos volumes mais complexa.
Para Emmanuel Delfosse, CEO da EDF Norte Fluminense, a redução gradual nos últimos anos da importação do gás natural da Bolívia, que, sem investimentos novos desde 2006 tem reduzido sua produção, incrementou significativamente a dependência do Brasil pelo GNL para acompanhar o despacho das térmicas.
“A produção do gás natural vai aumentar, com novas descobertas de reservas que podem suplementar (se não superar) a redução de oferta da Bolívia e a dependência do GNL. O desenvolvimento da infraestrutura nacional de gás natural depende de uma sinalização do planejamento sobre qual caminho queremos percorrer: geração termelétrica flexível ou geração termelétrica inflexível”, destaca.
Delfosse afirma que o despacho das térmicas ficou 25% acima do previsto nos últimos dez a quinze anos. “Na última década, a segurança elétrica e energética do setor elétrico brasileiro foi garantida pela geração hídrica e, nos momentos de escassez, pelas termelétricas. Logo, as térmicas a gás natural são uma resposta”, ressalta Delfosse. A expansão das térmicas hoje tem sido com base em leilões no mercado regulado.
A abertura total do mercado de energia, como proposto em portaria do governo federal da última sexta-feira, cria dúvidas. “A abertura de mercado e a potencial extinção dos leilões certamente desafia a contratação das térmicas. As térmicas terão que demonstrar sua atratividade com modelos de negócios que mesclarão maiores receitas de contratos com consumidores livres somadas com aqueles de leilões sistêmicos e serviços para o sistema, como flexibilidade e resiliência”, diz o presidente da PSR, Luiz Barroso.
Por Valor Econômico.
https://valor.globo.com/publicacoes/suplementos/noticia/2022/10/04/abertura-do-mercado-poe-em-pauta-modelo-de-contratacao-para-o-gas.ghtml
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