Certame será realizado nesta sexta-feira (27) e 69% dos projetos são de geração solar.
A crise econômica, o crescimento da geração própria de energia (geração distribuída) e a migração de consumidores para o mercado livre são o tripé para a expectativa de baixa demanda no leilão de energia nova A-4 que será realizado nesta sexta-feira, (27), pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para atendimento das distribuidoras no mercado regulado.
Apesar do enorme volume de energia ofertada, mais de 75 gigawatts (GW), representantes dos setores eólico, solar, PCH e térmicas entendem que o decrescente mercado cativo das concessionárias deve levar a um resultado baixo de energia contratada. O presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Marcos Madureira, lembra que as distribuidoras já estão sobrecontratadas e o atual contexto ainda é de cautela.
“Tivemos uma redução do crescimento da economia, crise da covid e recuperação ainda insuficiente. Há ainda o cenário de abertura do mercado livre de energia e a projeção de crescimento para cinco anos, em que parte dos consumidores estão migrando para outro ambiente de contratação. E temos que considerar ainda a previsão de crescimento da geração distribuída”, afirma o dirigente.
Segundo Madureira, estas três situações trouxeram um consumo no mercado regulado abaixo do esperado e dão um sinal de incerteza. Dados da CCEE mostram que a sobrecontratação das distribuidoras atingirá uma média de 107,7% em 2022 e as concessionárias deverão continuar com sobras contratuais até 2024 ou 2025.
Como os vencedores vão iniciar o fornecimento de energia em quatro anos, em teoria, até lá as distribuidoras não teriam mais o nível de sobrecontratação. No entanto, Madureira ressalta que as concessionárias compram energia no longo prazo e não é possível prever com exatidão como será o mercado. O edital diz que o prazo de contrato é de 20 anos para as hidrelétricas e térmicas a biomassa e de 15 anos para as eólica e solar.
O preço é outro ponto de atenção. Térmicas e PCHs terão um preço energia que servirá de base para a disputa entre os investidores fixado em R$ 315 por megawatt-hora (MWh), o que deve pesar no custo de contratação. Já as eólicas e fotovoltaicas tiveram o preço-teto fixado em R$ 225 por MWh.
No entendimento da presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Elbia Gannoum, não há como fazer uma previsão sobre o montante a ser vendido ou de preço, mas existe a noção de demanda fraca.
“Há um grande interesse nos leilões do mercado regulado marcado para 2022, porque os montantes cadastrados para os últimos leilões mostram uma grande quantidade de projetos em carteira. (…). O que sabemos é que a expectativa é de baixa demanda”, afirma Gannoum.
A presidente da Associação Brasileira de Pequenas Centrais Hidrelétricas e Centrais Geradoras Hidrelétricas (Abrapch), Alessandra Torres, reforça a tese. Ela classifica a participação do setor nos últimos certames como “pífia” por conta da falta de isonomia entre as fontes e avalia que se houvesse demanda por energia, as PCHs teriam competitividade no leilão
“Temos aproximadamente 1 GW de projetos cadastrados de hidráulica. Havendo demanda das distribuidoras, acreditamos que as PCHs terão algum espaço para elas (…). A gente sabe também que a demanda não está muito alta”, disse.
Quem também não se entusiasmou com o certame é o presidente da Associação Brasileira de Geradoras Termelétricas (Abraget), Xisto Vieira, já que é curto o tempo para implantar projetos térmicos.
“O A-4 não faz muito sentido para térmicas porque em quatro anos fica em cima do laço [novas plantas] e a demanda será baixa (…). Além das distribuidoras estarem sobrecontratadas, temos água nos reservatórios e temos folga de energia secundária. E o crescimento da demanda não é suficiente para fazer face a estes dois primeiros fatores”, afirmou.
O grosso do montante ficou com o setor solar. Quase 69% do que está sendo ofertado – ou 51,8 GW de potência – vem do segmento. Por serem projetos mais fáceis de serem implantados, o A-4 se enquadra melhor. O vice-presidente do conselho da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Márcio Trannin, diz que a participação maciça demonstra a versatilidade da fonte para disputar com eólicas e ajudar a baixar a tarifa ao consumidor.
“O A-4, apesar de ser um leilão importante, normalmente as demandas que têm saído são mais baixas, o que faz com que menos energia seja contratada. Já no leilão A-6, em que a solar não foi selecionada e estamos tentando mudar isso, a demanda será muito mais alta”, salienta.
Para efeito comparativo, hoje a capacidade instalada do Brasil é de 180 GW. Somadas, as eólicas e solares dão mais de 73 GW de projetos cadastrados. O professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), Nivalde de Castro, explica o motivo de um volume tão gande mesmo com a expectativa de demanda pequena.
“Ao cadastrar os projetos, eles são analisados pela EPE e recebem um tipo de carimbo certificando a qualidade do projeto. Eles sabem que não vão vender porque a demanda é pequena. Na verdade, eles querem um selo da EPE para poderem levar o projeto para o mercado livre através de contratos bilaterais”, diz Castro.
Fonte e Imagem: Valor Econômico.
https://valor.globo.com/empresas/noticia/2022/05/26/economia-fraca-e-migracao-de-clientes-esvaziam-leilao-a-4.ghtml
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