Uma nova Itaipu no interior do país. Essa é a proposta do presidente da Tradener, Walfrido Avila, que apresentou recentemente uma sugestão de um plano nacional de construção de 100 pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) por ano durante uma década. O executivo defende que o Brasil já domina a tecnologia para construir esse tipo de empreendimento – diferentemente de outras fontes, como solar e eólica. Além disso, Avila diz que esses novos projetos poderão levar energia para locais isolados e ajudar no desenvolvimento econômico e social no interior do país. “As PCHs são como ilhas de riqueza. Ao redor delas, serão desenvolvidas pequenas comunidades, indústrias e comércios, atraindo investimentos”, afirmou. O presidente da empresa também comentou sobre os resultados da Tradener na área de comercialização de energia ao longo de 2021. A companhia registrou um crescimento médio de 7% em sua carteira de clientes nos últimos 5 anos e atende cerca de 520 empresas no mercado livre de energia. Avila revelou ainda que a Tradener também está atenta às oportunidades dentro do segmento de geração distribuída e trouxe uma leitura sobre o momento atual do mercado livre no Brasil.
Recentemente, o senhor publicou uma sugestão de um plano para implantar novas PCHs no Brasil. Poderia detalhar mais essa iniciativa?
O plano que eu sugeri propõe a construção de 100 PCHs por ano, totalizando 1.000 unidades em um horizonte de dez anos. Esse volume equivale a uma nova Itaipu no interior no Brasil. Isto é, cerca de 14 GW distribuídos de uma forma inteligente, junto com as distribuidoras. Como seriam muitas PCHs ao mesmo tempo, as distribuidoras poderiam otimizar suas redes e melhorar a subdistribuição pelos estados. Isso proporcionaria uma melhor qualidade de energia e também poderia abrir a possibilidade de levar energia para locais mais isolados.
Qual seria a principal vantagem para o país se esse volume de usinas fosse tirado do papel?
A entrada dessa nova energia aumentaria o mercado, e muito. A maioria dessas PCHs ficaria em lugares distantes, onde as linhas de transmissão não chegam. Esse projeto ajudaria no desenvolvimento do interior do país, além de dar um novo impulso para o agronegócio. Adicionalmente, construir PCHs daria uma grande condição de criação de mão de obra no Brasil. Temos total domínio da tecnologia de PCHs – diferentemente do que acontece com outras fontes, como eólica e solar.
Um ponto interessante é que a PCH não é do investidor. O investidor faz a usina para o país. A PCH é de propriedade da nação. O empresário é um concessionário. A duração de uma PCH não se compara com uma eólica ou com solar. São usinas perenes e representam uma riqueza para a nação.
Quais seriam os desafios para colocar um grande plano de construção de PCHs no Brasil?
A questão chave seria vontade política de fazer a coisa certa. O Brasil está na hora certa de fazer isso. O país precisa deixar para trás essa prática de fazer coisas emergenciais. Precisamos colocar a indústria para funcionar. Na hora em que um grande volume de energia estiver espalhado pelo país inteiro, vai pipocar riqueza em todo o Brasil. As PCHs são como ilhas de riqueza. Ao redor delas, serão desenvolvidas pequenas comunidades, indústrias e comércios, atraindo investimentos.
Mudando um pouco de assunto, como foi o desempenho do negócio de comercialização de energia ao longo deste ano?
Para nós, esse foi um ano normal. Somos uma comercializadora tradicional. A Tradener tem seus clientes contratados. O ano de 2021 foi um período no qual o PLD [Preço de Liquidação das Diferenças] oscilou muito, mas para nós não houve muita diferença. Nossa empresa sempre está comprando energia para o longo prazo. E, do mesmo modo, os clientes estão sendo atendidos no longo prazo.
A empresa tem a expectativa de atingir 1 GW de consumidores. Como está o andamento dessa meta?
Em relação aos novos clientes, este ano foi até interessante. Esses novos clientes vão entrando em nossa carteira à medida que nossa empresa tenha os novos contratos de compra. Não houve um crescimento muito grande de clientes novos, até porque o Brasil não cresceu economicamente. Relativamente, o nosso percentual de novos clientes subiu, mas o Brasil não cresceu. Essa é uma situação que temos que administrar ao longo do tempo, porque a carga do país não subiu ao longo do tempo.
A empresa registrou um crescimento de 7% nos últimos cinco anos em sua carteira de clientes. Ao que se deve isso?
O mercado livre cresceu até um certo ponto e depois estacionou. De todo o modo, o mercado está expandindo-se de uma forma diferente agora. Os consumidores que ainda não haviam migrado para o mercado livre estão, de certo modo, migrando para energias diferentes, como geração distribuída ou mesmo energia própria. Esse tipo de consumidor está fazendo esse movimento para livrar-se dos impostos e da alta carga de encargos que hoje existem no sistema.
Queiram ou não, esse “novo mercado livre” está aparecendo em forma de cooperativas de consumo, geração distribuída e de outras formas, como autoprodução. Isso cresceu muito.
Qual o impacto dessa tendência?
Esse movimento acaba não contribuindo com o mercado livre e impacta no crescimento da carga, porque esses consumidores ficam como autoprodutores e não constam no crescimento do mercado. Isso, na verdade, é uma maneira que o mercado consumidor encontrou para que possa ter uma melhor despesa em energia elétrica. É um caminho que o mercado está trilhando para fugir da regulamentação.
A Tradener está atenta a esses movimentos e está participando de todos eles. Inicialmente, a nossa empresa não entraria nisso, mas decidimos ingressar nesses negócios.
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