Segundo operador, também não deve ter redução compulsória da demanda em 2022

O Brasil deve conseguir fechar o ano sem racionamento de energia elétrica e o mesmo deve ocorrer em 2022, afirmou o diretor-geral do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Luiz Carlos Ciocchi. O país vive uma seca histórica, que afetou as hidrelétricas e levou à necessidade de acionamento de usinas térmicas, cenário que encareceu a energia elétrica.

“Para 2022, tudo leva a crer, com uma incerteza enorme no meio do caminho, que não haja racionamento”, afirmou Ciocchi ontem durante o seminário “E agora, Brasil?”, realizado pelos jornais “O Globo” e Valor e tem patrocínio do Sistema Comércio através da CNC e de suas federações.

O executivo disse que há maiores riscos sobre o fornecimento de energia em momentos de pico de consumo nos próximos dois meses, mas que ainda assim o suprimento deve ser garantido. Entre outubro e novembro, fim do período seco, tradicionalmente o consumo cresce e os reservatórios das hidrelétricas estão mais baixos.

“A possibilidade de riscos de problemas de pico da demanda em outubro e novembro existe, mas é para isso que fazemos um planejamento diário. Esse é um período mais crítico, mas acreditamos que temos condição de enfrentar o atendimento de pico com segurança”, disse.

Ainda assim, segundo Ciocchi, as perspectivas para o setor elétrico podem surpreender positivamente nas próximas semanas, já que há previsão de aumento de chuvas no Sul e no Norte.

Também presente à discussão, a economista-chefe do Credit Suisse Brasil, Solange Srour, disse que uma redução de 10% no consumo de energia no Brasil em 2022 poderia retrair o Produto Interno Bruto (PIB) em um ponto percentual. A executiva lembrou que, desse modo, com a projeção de que o PIB cresça em 1,1% em 2022, um eventual cenário de redução na demanda por energia poderia zerar o crescimento do país.

“A crise energética e a possibilidade de acontecer um apagão ou qualquer tipo de racionamento se juntam a outras incertezas. Isso, do meu ponto de vista, vai atrapalhar muito uma recuperação do Brasil num ano em que o mundo tem uma perspectiva muito positiva”, afirmou Srour.

A economista apontou que a crise no setor elétrico e o aumento nos preços da energia ocorrem em um momento em que a inflação está alta no país.

“A conta de luz provavelmente vai ficar mais cara também no ano que vem, o que traz perda de poder de compra e restrição ao crescimento. Isso traz um dilema sobre o futuro. Como fica a política de juros do Banco Central e o que isso pode trazer para a estabilidade que conquistamos antes da pandemia? Temos essa ameaça importante justamente num ano eleitoral, que traz soluções políticas mais complicadas.”

Nos últimos 12 meses, o Brasil teve a pior afluência nos reservatórios das usinas hidrelétricas do histórico. Ainda assim, o secretário de energia elétrica do Ministério de Minas e Energia (MME), Christiano Vieira, garantiu que o país tem energia para garantir o crescimento da economia, devido a um planejamento que prevê a entrada em operação de capacidade geração e transmissão de energia nos próximos anos.

O professor do Instituto de Física da USP e membro do IPCC da ONU, Paulo Artaxo, lembrou que a seca atual é reflexo das mudanças climáticas. Ele defende que o Brasil precisa de um planejamento de longo prazo e de políticas públicas sobre o tema para diversos setores.

Artaxo explicou, por exemplo, que há expectativa nos próximos anos de redução do volume de chuvas no Nordeste e na parte central do Brasil e aumento no Sul, o que gera oportunidades de investimentos em diferentes regiões.

“Pressões internacionais vão ser cada vez mais fortes para que construção de grandes hidrelétricas na Amazônia não ocorra mais, por exemplo. Podemos aproveitar essa oportunidade para deslocar investimento para regiões com maior potencial de aproveitamento. Faltam políticas públicas que pensem não no interesse de determinado setor, mas que visem aumentar a resiliência da sociedade”, afirmou.

Fonte e Imagem: Valor Econômico
https://valor.globo.com/brasil/noticia/2021/09/23/pais-deve-driblar-racionamento-diz-ons.ghtml

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