Especialistas disseram na Câmara que reservatórios das hidrelétricas vinham se esvaziando desde o ano passado e que termelétricas deveriam ter sido acionadas mais cedo.
Por Jéssica Sant’Ana
Especialistas no setor elétrico afirmaram nesta quarta-feira (8), em audiência pública na Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara dos Deputados, que a crise energética deste ano foi agravada pelo acionamento tardio de usinas termelétricas.
Segundo ele, os reservatórios das usinas hidrelétricas vinham se esvaziando desde o ano passado, quando mais usinas termelétricas, afirmaram, deveriam ter sido acionadas para preservar água para este ano.
Por meio de representantes enviados à audiência, representantes do Ministério de Minas e Energia e da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANS) contestaram a avaliação (leia mais abaixo).
“Tem ums hidrologia ruim? Tem, mas ela não é o único fator. Houve alguns problemas de gestão. Desde novembro, outubro, todo mundo sabia que os reservatórios estavam baixando, e as termelétricas não funcionaram a plena capacidade ou a uma capacidade maior. E o mais surpreendente: em fevereiro, se diminuiu ainda mais a geração térmica e só em maio que elas foram autorizadas a despachar”, afirma Maurício Tolmasquim, professor da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética, estatal responsável pelo planejamento energético.
Luiz Pinguelli Rosa, professor de Planejamento Energético da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-presidente da Eletrobras, disse que o nível de chuva do ano passado já demonstrava a necessidade de acionamento das térmicas.
“A crítica que eu faço é que isso demorou. Há indícios de que não estava bem a hidrologia desde o ano passado. As curvas mostram que a afluência [entrada de água nos reservatórios das hidrelétricas] já mostrava declínio e seria prudente que medidas fossem tomadas com antecedência. Por exemplo, ligação de termelétricas, em particular as de custo de geração mais baratas”, afirmou Rosa.
Governo e Aneel negam
O governo e a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), por meio de seus representantes na audiência, negaram a demora. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) não enviou representante.
Domingos Andreatta, secretário adjunto de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia (MME), afirmou que as medidas para garantir o fornecimento de energia foram e estão sendo tomadas de forma “tempestiva”.
“As decisões e a preocupação com relação ao atendimento de 2021 começaram antes do início do período chuvoso de 2020. O despacho das usinas térmicas se deu em outubro de 2020 com todo o valor das usinas térmicas e da importação que fosse possível alocar sem desperdiçar”, afirmou o secretário.
Ele disse que só não foi colocada mais geração térmica no sistema devido ao período de piracema (período de reprodução dos peixes, quando há proibição da pesca e de outras atividades) da bacia hidrográfica do Paraná. O período foi de outubro de 2020 a fevereiro deste ano.
Superintendente de Fiscalização dos Serviços de Geração da Aneel, Gentil Nogueira de Sá Júnior afirmou que não há estudos empíricos que comprovem a suposta demora para o acionamento das termelétricas.
Ele explicou que, quando as hidrelétricas de Belo Monte e do complexo do Rio Madeira estão operando a plena capacidade, essas usinas “enchem” a capacidade de transmissão do setor elétrico, o que traria alguma dificuldade para alocar geração térmica.
Nogueira de Sá Júnior afirmou, ainda, que o governo teve primeiro que conseguir flexibilizar algumas restrições energéticas e ambientais de determinadas bacias hidrográficas para depois acionar mais térmicas.
Fonte e Imagem: Portal G1
https://g1.globo.com/economia/crise-da-agua/noticia/2021/09/08/demora-para-acionar-termicas-agravou-crise-energetica-dizem-especialistas-governo-contesta.ghtml
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