Proteção de represa previne perda futura na geração hidrelétrica

O gerenciamento da água se apresenta à rotina das empresas como uma questão de sobrevivência. No setor de geração de energia não é diferente. Com o objetivo de proteger a represa e aumentar a vida útil das operações, previstas para durar por mais 160 anos, a Usina Hidrelétrica de Itaipu, em Foz do Iguaçu (PR), está investindo em um programa de reflorestamento considerado um dos maiores do mundo. Até agora, foram plantadas 24 milhões de árvores nativas da Mata Atlântica nas margens do lago e nas propriedades rurais da região, em uma área com mais de 100 mil hectares de restauração da paisagem.

"A visão estratégica tenta evitar perdas futuras na geração hidrelétrica, porque o reservatório é abastecido não apenas diretamente pela chuva, mas pela água drenada das microbacias locais", afirma o superintendente de meio ambiente, Ariel Scheffer da Silva. A medida tem ainda a função de compensar impactos causados por sedimentos vindos de longe, pelos rios. Parte tem origem no Mato Grosso do Sul, devido à erosão provocada pelo desmatamento nas grandes propriedades rurais. "Além da quantidade, o plano é assegurar a qualidade da água, com menor teor de poluentes e elementos indesejados que comprometem os múltiplos usos do lago e prejudicam as máquinas, elevando custos de manutenção", informa Silva.

Inspirado nas ações desenvolvidas no Canal do Panamá para controle da erosão, o projeto Cultivando Água Boa abrange 54 municípios paranaenses com iniciativas de educação ambiental, geração de renda e assistência técnica à agricultura familiar para o engajamento da população ao desafio. Além da instalação de 1,3 mil quilômetros de cercas para proteção de nascentes, foram criados corredores de biodiversidade interligando áreas protegidas, como o Parque Nacional do Iguaçu. Considerando o total de mudas plantadas também na borda da represa, a iniciativa proporcionou a captura de 733 mil toneladas de carbono por ano – resultados que levaram o programa a ser replicado em países como Guatemala, República Dominicana, Bolívia, Paraguai e Argentina.

A realidade da maior usina hidrelétrica brasileira retrata os desafios que envolvem o nexo entre água e energia no mundo, diante do aumento da população, da urbanização e da concorrência com os demais usos dos hídricos. Além de movimentar as turbinas das usinas hidrelétricas, o recurso é utilizado em larga escala para refrigerar instalações termoelétricas e extrair petróleo, gás e carvão. Na via oposta, em muitas situações a água precisa de energia para ser captada, tratada e distribuída, inclusive para irrigar o cultivo de alimentos.

De acordo com o World Energy Council, o consumo de água para produzir eletricidade deverá mais que dobrar nas próximas quatro ou cinco décadas no mundo. Na América Latina, poderá quadruplicar devido à demanda da economia em expansão, exigindo volume de água para geração de energia duas vezes maior que o qual. Tecnologias como sistemas de recirculação, resfriamento a seco e reutilização de água da extração de petróleo estão ganhando escala para reduzir a pegada de energia da água, de forma a evitar riscos e custos para atendimento da demanda, tanto por água como por energia. Estimativa da Agência Internacional de Energia aponta para a necessidade de investimentos da ordem de US$ 48 trilhões a US$ 53 trilhões em infraestrutura até 2035.

A projeção é de que a redução da disponibilidade de água poderá impactar dois terços das usinas hidrelétricas e 80% das termelétricas, nas próximas cinco décadas. Em 2015, as perdas do setor com falta do recurso hídrico devido à seca prolongada somaram US$ 4,3 bilhões. E a perspectiva das mudanças climáticas poderá elevar os riscos: segundo estudo do governo federal, devido a esses impactos, as hidrelétricas brasileiras poderiam atingir 20%, em média.

 

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Fonte: Valor Econômico.

 

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