Falhas no MRE agravam efeitos do risco hidrológico

A judicialização das questões que hoje estão quase próximas de travar as liquidações no mercado de curto prazo na CCEE não vai ser solucionada tão cedo se as premissas que levaram à criação do Mecanismo de Realocação de Energia (MRE) não forem revistas o mais breve possível, defende Paulo Barbosa, professor do programa de pós-graduação em Recursos Hídricos, Energéticos e Ambientais da Faculdade de Engenharia Civil da Unicamp.  

E se a reforma não for possível ele propõe, preferencialmente, a extinção pura e simples desse modelo e sua substituição por outro que tenha base comercial e funcione de acordo com a oferta e procura de geração de energia como já acontece há tempos entre outros países que também tem participação hidrelétrica significativa na matriz. Isso facilitaria também a formação de preço, hoje calculado por meio de aplicativos computacionais. “O risco hidrológico está na raiz de muitos dos problemas hoje enfrentados e estamos muito longe de um MRE ideal”, ressaltou.

Em apresentação durante a sexta edição do Risk Management Conference, promovido na última terça-feira (7/11),  pela Viex-Americas, em São Paulo, Barbosa demonstrou que, ao longo do tempo, alterações naturais nos principais elementos que serviram de inspiração para o MRE já não justificam mais sua manutenção e hoje só contribuem para acirrar os ânimos entre os segmentos do setor elétrico, porque houve perda da capacidade de atenuação dos riscos comerciais de longo prazo.

Segundo dados históricos dos últimos 20 anos, a diversidade hidrológica entre os subsistemas, por exemplo, se apresenta muito baixa, a ponto de reduzir a eficiência das interligações regionais, o que no passado, foi um grande trunfo para o equilíbrio do sistema elétrico brasileiro.

Devido a fatores climáticos e perda contínua de regularidade nos principais reservatórios, a similaridade hidrológica entre submercados está cada vez maior, dificultando as transferências de energia. Em termos de capacidade instalada de geração, formou-se também tamanha desproporção, que o Nordeste, Sul e Norte pouco podem fazer hojer para ajudar o Sudeste/Centro-Oeste em ocasiões de estiagem local prolongada.

O professor também chamou a atenção para o fato de que, da maneira como ficou o funcionamento do MRE nos últimos anos, instalou-se uma espécie de injustiça no processo de compensação. Ou seja, há mais usinas “doadoras” do que “recebedoras”, o que justificaria a adoção de um fator limitador de prazo, que possa levar a um reequilíbrio nesse sistema de troca.

O especialista lembrou ainda que o MRE deriva do fato de que o modelo de despacho adotado no Brasil é centralizado, impossibilitando que os geradores tomem decisões isoladas. Ele se presta para a efetivação dos ajustes necessários. Mas diante das atuais distorções nas premissas que o originaram, ele entende que agregaria mais valor ao país e aos consumidores se o modelo privilegiasse os acertos comerciais conforme princípios normais de demanda e procura. Os agentes de geração fariam suas ofertas e o ONS, a partir disso passaria a operar o sistema interligado nacional (SIN) respeitando essa premissa, sem deixar de lado a confiabilidade e segurança do abastecimento de energia elétrica, segundo ele.

 

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Fonte: Brasil Energia.

 

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