A continuação das chuvas abaixo da média histórica deve fazer com que o mês de novembro tenha novamente acionada a bandeira vermelha em seu patamar mais elevado, com acréscimo de R$ 3,50 a cada 100 quilowatts-hora (KWh) consumidos, avaliam especialistas ouvidos pelo Valor.
Pelos cálculos da consultoria Thymos Energia, os reservatórios das hidrelétricas do país devem chegar a novembro com 16% do volume máximo, cenário pior que o de 2001, quando houve racionamento de energia.
Ainda assim, não há risco de um novo racionamento de energia, devido à entrada em operação, desde então, de termelétricas e fontes alternativas de energia, disse João Carlos Mello, presidente da Thymos.
"Estamos vendo o ano que vem com potencial de manutenção do estresse hidrológico, mas, diferentemente do que vimos em 2014 e 2015, com baixo risco de racionamento", disse Bernardo Bezerra, diretor técnico da consultoria especializada em energia PSR. Segundo ele, a razão para isso é a sobra de energia no sistema causada pela crise econômica. "Foram dois anos de PIB negativo, isso fez com que tivéssemos uma sobra", explicou.
A PSR trabalha com um cenário de manutenção do preço de liquidação das diferenças (PLD) próximo do teto regulatório de R$ 533 por megawatt-hora (MWh) até o período chuvoso, que começa a partir de dezembro. A bandeira tarifária deve ficar entre vermelha e amarela, dificilmente voltando a ser verde.
Em relação à novembro, Bezerra vê "maior probabilidade" de manutenção da bandeira vermelha no patamar 2. Esse nível de alerta para o consumidor foi acionado pela primeira vez em outubro desde sua criação, no início do ano passado.
O Climatempo também trabalha com o cenário de manutenção da cobrança extra no próximo mês, apesar de contar com um retorno das chuvas em novembro, devido à continuação do despacho de termelétricas mais caras para garantir o suprimento energético do país.
A empresa de previsão meteorológica prevê um retorno gradual das chuvas a partir de novembro. "Porém, isso vai diminuir a geração eólica no Nordeste, que está muito alta", disse Alexandre Nascimento, meteorologista do Climatempo. Por isso, deve ser necessária a continuação do despacho de termelétricas, justificando a manutenção da bandeira vermelha.
Segundo Nascimento, mesmo com o retorno das chuvas, a situação dos reservatórios só começará a mostrar melhora dentro de algumas semanas. "A geração eólica vai ter uma redução grande, que será mais rápida que a recomposição dos reservatórios", disse ele.
Já considerando a piora do cenário hídrico em suas estimativas, analistas de inflação mantiveram suas projeções para a alta do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) tanto para este ano quanto para o próximo, contando com a manutenção da bandeira vermelha no patamar 2 até o fim de 2018. Márcio Milan, da Tendências Consultoria, já assume que a bandeira tarifária seguirá na cor atual nos últimos dois meses do ano e está aguardando a revisão dos cálculos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para alterar sua previsão para o aumento do IPCA no próximo ano, atualmente em 4,1%.
Além da aguardada mudança de metodologia de definição das bandeiras pela autarquia, que será colocada em audiência pública pela diretoria da Aneel amanhã, André Muller, da AZ Quest, afirma que os reajustes periódicos das distribuidoras também representam risco de alta para a inflação de 2018. "A grande questão do número de energia no ano que vem não é tanto o sistema de bandeiras, mas sim o que vai sobrar para os reajustes tarifários feitos pelas empresas", diz.
Ontem, os reservatórios do subsistema Sudeste/Centro-Oeste, que concentra a maior parte da geração hidrelétrica em operação do país, tinham chegado a 18,99% da capacidade máxima. No Nordeste, que enfrenta uma seca severa, os reservatórios estavam em 6,99% do volume máximo. A usina de Sobradinho, que representa 58,26% do subsistema, tinha 3,49% do volume útil.
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Fonte: Valor Econômico.
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