A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) está conduzindo análises para aprimorar a formação do preço de liquidação das diferenças (PLD, referência das operações do mercado de energia à vista), especialmente depois da queda brusca registrada no começo do mês, quando o preço saiu da faixa de R$ 407,02 por megawatt-hora (MWh) em maio para R$ 118,77/MWh na primeira semana de junho.
O modelo vigente no setor elétrico, que calcula mensalmente o custo marginal da operação (CMO), baseado no planejamento das hidrelétricas e em quais termelétricas serão despachadas, é muito sensível à hidrologia passada.
Como as chuvas ficaram muito acima da média nas regiões Sul e Sudeste nas últimas semanas de maio, a resposta no começo de junho foi a forte queda no preço, que surpreendeu todo o setor, que contava com um PLD acima de R$ 400/MWh até o fim do período seco, em novembro.
"O que é importante para o modelo é a chuva passada. A partir do momento em que ele olhar para trás e não ver mais o pico de chuva que houve no fim de maio, o preço voltará a subir", explicou Gustavo Arfux, diretor de pesquisa da Compass Energia.
Segundo ele, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) não tem alternativa no caso de chuvas como as do fim de maio, pois a afluência se concentrara nas hidrelétricas sem reservatórios. "Quando vem uma chuva grande assim, você tem que gerar. Se não, vai jogar água fora. Então, faz sentido desligar as termelétricas", disse.
"O modelo vigente leva a isso. Se chove muito, ele entende que vai chover muito sempre. Se chove pouco, entende que será pouco sempre. Só haverá uma mudança quando mudar a forma de precificar a energia", afirmou Fabio Cuberos, gerente de regulação da comercializadora Safira Energia.
As chuvas têm superado a média histórica no período seco do ano já há alguns anos, de acordo com Cristopher Vlavianos, presidente da Comerc. "Temos visto chover acima da média no período seco, e isso impacta o preço", disse.
Apesar dos aprimoramentos em estudo, uma mudança que altere realmente a forma de calcular o preço só deve entrar em vigor em 2019, quando se espera a operação de um novo mecanismo de aversão ao risco no cálculo dos preços.
Desde maio, a CCEE começou a usar parâmetros mais elevados de risco no cálculo semanal do PLD. Essa não foi, porém, a razão da queda brusca do PLD. Em evento realizado semana passada em São Paulo, o presidente do conselho da CCEE, Rui Altieri, explicou que foram feitas simulações utilizando os padrões anteriores de risco, e o preço teria caído na mesma proporção, mas para um patamar menor.
"Há uma sensibilidade muito forte do preço em relação à água que chega, sem levar em conta os níveis dos reservatórios", disse João Carlos Mello, presidente da consultoria Thymos Energia. Segundo ele, esse é o grande problema – a "hipersensibilidade às chuvas" – do modelo vigente.
De acordo com Vlavianos, o modelo hoje faz uma análise mensal das condições de hidrologia e dos reservatórios das hidrelétricas. O ideal, segundo ele, seria ter um modelo que analise como os reservatórios vão chegar ao fim dos períodos seco e chuvoso. "O objetivo deveria ser chegar ao fim do período seco com o nível dos reservatórios suficientemente confortável para iniciar o período chuvoso", disse ele. O despacho das termelétricas precisaria levar em conta esse objetivo.
A média de longo prazo também deve ser alterada, pois os números atuais não refletem a realidade do sistema. "A média que temos hoje não é mais aderente à realidade", disse Vlavianos.
A partir de 2019, além da entrada de um novo mecanismo de aversão ao risco, deve passar a valer também o preço horário, outro fator que deve tornar o preço da energia mais próximo da realidade do sistema. A ideia é que ele seja mais elevado na ponta da carga e mais baixo nos horários de menor consumo. "Vamos ter também informações mais detalhadas que permitam enxergar as condições de operação e ter um sinal mais aderente de preço", disse Arfux.
Fonte: Valor Econômico.
No comment