Estudo aponta necessidade de leilões em 2017 para contratar energia de reserva

A aparente sobra estrutural de energia no sistema e o baixo risco de racionamento para os próximos anos não contemplam a queda de produtividade de grandes hidrelétricas ­ provocada por efeitos climáticos, como escassez de chuvas ­ e o acionamento de termelétricas para suportar o atendimento à rede. O problema, diagnosticado em estudo que será apresentado hoje à Empresa de Pesquisa Energética (EPE), indica a necessidade de realização de leilões para a contratação de energia de reserva já neste ano. Hoje, o país não corre risco de racionamento, mas deve pagar um custo mais alto pela energia, se não contratar novos projetos de custo mais baixo.

 

De acordo com o estudo, feito pela consultoria Engenho e encomendado pela Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), o sistema brasileiro teve um déficit de 8,7 mil megawatts de energia prevista para ser produzida por usinas sujeitas a efeitos climáticos no ano passado. O volume equivale a cerca de 13% do consumo total de energia do país em 2016, ou quase a energia produzida por duas usinas de Belo Monte.

 

O déficit significa a diferença entre a "garantia física" ­ o "carimbo" das usinas indicando a quantidade de energia que cada uma delas deve gerar e pode comercializar ­ e o total de fato produzido por elas, com base em dados da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).

 

"É possível observar grande sobra de garantia física sem a contrapartida equivalente de geração real", informa o estudo, assinado por Leontina Pinto, diretora da consultoria, e Alexandre Lafranque. "A sobra de garantia física não é, na realidade, tão grande. As usinas 'movidas a recursos climáticos' não foram suficientes para atender à carga e há uma geração térmica expressiva", diz Leontina. 

 

Segundo a consultora, o "gap" na produção real das usinas se deve principalmente à falta de chuvas no Nordeste. "O Nordeste está sem água há cinco, seis anos".

 

Essas hidrelétricas, sobretudo no Nordeste, teriam um papel importante hoje para regular, ou "modular" (no jargão do setor elétrico) a geração de energia de eólicas na região. As hidrelétricas podem ampliar ou diminuir a geração para substituir a produção de eólicas, que varia com a disponibilidade e intensidade de vento. 

 

Devido à seca no Nordeste, a "modulação" tem sido feita por térmicas. Segundo Leontina, dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) mostram que térmicas com custo de operação de até R$ 1 mil por megawatthora (MWh) foram acionadas em dezembro. Como essas térmicas são acionadas e desligadas em momentos do dia, elas não estão sendo consideradas no preço de liquidação das diferenças (PLD) ­ o preço de energia no mercado à vista ­, nem nas bandeiras tarifárias, mas o custo é contabilizado no Encargo de Serviços do Sistema (ESS), cobrado na tarifa de energia.

 

De acordo com o estudo, baseado na produtividade das usinas em 2016, há um déficit de garantia física em relação à geração real de 9 mil MW médios para 2017, de 10 mil MW médios para 2018 e 10,6 mil MW médios para 2019. Segundo o documento, parte desse montante pode ser atendido por térmicas de custo operacional baixo e o restante deveria ser suprido por projetos a serem contratados em leilões de reserva. 

 

Considerando nota técnica da EPE sobre o segundo leilão de energia de reserva (LER) de 2016, previsto para dezembro, mas cancelado, a consultoria considerou termelétricas com custo operacional de até R$ 193 por MWh. Com isso, o déficit de energia que deveria ser contratado em leilões de reserva é de 763 MW médios para este ano, 1,6 mil para 2018, 2,23 mil para 2019 e 2,4 mil para 2020.

 

Segundo o presidente da Absolar, Rodrigo Sauaia, as empresas do segmento têm condições de entregar projetos no fim de 2019, caso seja feito um LER no primeiro semestre deste ano. Ele defende um segundo leilão, no segundo semestre, para contratar projetos para fornecimento no fim de 2020. O executivo ressaltou que havia pelo menos 13,3 mil MW de projetos de energia solar cadastrados para o LER do fim de 2016 e que estão aptos para os novos leilões. 

 

"O investimento em energia de reserva é um sinal de maturidade e que vai ajudar o planejamento, não só do setor elétrico, mas da economia em geral", afirmou Sauaia. Segundo ele, o objetivo do estudo é auxiliar o governo na definição de estratégias de contratação de energia futura.

 

O presidente da EPE, Luiz Augusto Barroso, disse que todo trabalho que busque o aperfeiçoamento do setor é bem­vindo. "O estudo ainda será analisado pela EPE e o Ministério de Minas e Energia, que tem a intenção de discutir com a sociedade a inserção de [fontes] renováveis, que é uma realidade, dentro de uma lógica que zele a coerência e os princípios que têm orientado a nova gestão do setor." 

 

Fonte: Valor Econômico

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