EPE vê reação da indústria e projeta alta do consumo

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) prevê o aumento do consumo de energia do setor industrial brasileiro este ano, na comparação com 2016. O crescimento, de acordo com a estatal, deve se dar pela utilização da capacidade instalada ociosa das fábricas em caso de recuperação gradual da demanda interna.       

"Com grande parte dos ajustes na atividade produtiva já realizados em 2015 e 2016, tais como de mão de obra, adequação dos investimentos, redução de estoques, adaptação da capacidade produtiva, entre outros e, em função da base baixa de 2016 […] a expectativa é que o segmento industrial pode ter um desempenho melhor em 2017", disse o presidente da EPE, Luiz Augusto Barroso.  

De acordo com dados divulgados ontem pela estatal de estudos energéticos, o consumo de energia da classe industrial em dezembro alcançou 13.453 gigawatts-hora (GWh), com alta de 0,9% ante igual período de 2015. Foi o segundo mês seguido de alta, após 32 meses consecutivos de queda (desde março de 2014), nesse tipo de comparação.     

"As taxas anuais de variação do consumo industrial de cada mês foram se tornando menos negativas ao longo 2016, principalmente no segundo semestre", destacou a EPE, em documento sobre o assunto. De acordo com a estatal, entre dezembro de 2016 e o do ano anterior, quatro dos dez principais segmentos consumidores de energia da indústria registraram crescimento do consumo: têxtil (8,6%), papel e celulose (8,3%), automotivo (5,1%) e metalúrgico (3,8%).               

Na semana passada, em reportagem publicada pelo Valor, economistas avaliara que a produção industrial brasileira cresceu 3% em dezembro, ante igual período de 2015. Um dos destaques de crescimento do consumo de energia em dezembro, o setor automotivo teve um incremento da produção de 40,6%, na comparação com igual mês do ano anterior, de acordo com a Anfavea.               

Com relação ao Brasil como um todo, o presidente da EPE também estima uma melhora do consumo em 2017. "Com a retomada gradual das atividades econômicas no país, e na persistência das condições climáticas com temperaturas mais altas como as observadas nesse início de ano, espera-se um nível pouco mais elevado no consumo de eletricidade em 2017", afirmou.

Segundo o presidente do Instituto Acende Brasil, Claudio Sales, o consumo de energia está diretamente ligado ao desempenho da economia. "O consumo de energia só deve ter crescimento mais acentuado na medida em que a economia se recupere. Enquanto isso, estamos andando de lado na economia e no consumo de energia".     

Para o coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel), da UFRJ, Nivalde de Castro, o comportamento do consumo de energia continua muito atrelado à crise econômica e política que o país vive. Com isso, pode haver aumento da sobrecontratação das distribuidoras, o que "indica a necessidade urgente do ministério de Minas e Energia de reduzir esta fonte de desequilíbrio, como foi sinalizado com a proposta dos leilões de descontratação e dos ajustes entre agentes".               

Em 2016, o consumo de energia do país foi de 460 mil GWh, com retração de 0,9% em relação ao ano anterior. Foi o segundo ano consecutivo de queda do consumo, que voltou a patamar menor que o observado em 2013, de 463.740 GWh, refletindo o mau desempenho da economia brasileira.            

  
Além do setor industrial, contribuiu para o resultado negativo o fraco desempenho do segmento de comércio e serviços, cujo consumo no ano passado recuou 2,5%, na comparação com 2015, para 88.185 GWh. O segmento foi o único que registrou queda em dezembro, em relação a igual período do ano anterior, de 3,3%.  
 

Para a classe comercial, Barroso também vê uma possível recuperação gradual das atividade do segmento em 2017, devido à redução da taxa de juros e outros fatores, porém atenuada pela demora na melhora no mercado de trabalho.         

O setor residencial fechou 2016 com alta de 1,4% do consumo de energia, para 132.893 GWh. Apesar do aumento, a variação ainda está abaixo da média observada entre 2004 e 2015, cujo crescimento foi de 4,8% ao ano. (Colaborou Arícia Martins, de São Paulo).

 

Fonte: Valor Econômico

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