O (baixo) carbono como vantagem competitiva

Alguns fatores são fundamentais e o Brasil os tem: matéria­prima próxima dos centros de produção, o que evita grandes deslocamentos e, consequentemente, maior necessidade de combustíveis no transporte. Existência de energia elétrica com baixa ou emissão nula de carbono, como é o caso das hidrelétricas, eólicas e biomassas. Empresas com excelência operacional e tecnologias de produção que incorporam a eficiência na conversão de matéria­prima em produtos, seja do ponto de vista da transformação, assim como no uso dos energéticos necessários.

 

 

Por outro lado, falta viabilidade logística, tanto relacionada à velocidade de escoamento da produção ­ por falta de estradas viáveis ou engarrafamentos de caminhões aguardando para despachar a produção, como de modais que tenham melhor performance em relação à distância transportada sobre o consumo energético, como ferrovias e hidrovias.

 

 

Alia­-se aos elementos favoráveis o fato de o Brasil ser destaque mundial por sua matriz energética limpa. Poucos países superam o índice de 40% de fontes renováveis. Além disso, uma parcela significativa de nosso parque industrial, seja por conta dos aprendizados das crises alternadas por períodos de crescimento, assim como do apagão de 2001­2002 e mais a volatilidade dos preços dos energéticos, fez com que muitos empresários aprendessem a trabalhar buscando a eficiência, de produção e energética, em seus processos e produtos. Não só para o consumo elétrico, como também para os processos que envolvem aquecimento.

 

Muitos são os exemplos do uso progressivo de biomassa, ou substituição dos combustíveis fósseis tradicionais para o gás natural. Isso sem contar possibilidades ainda não exploradas, como o aproveitamento do calor da incineração da parcela não reciclável do lixo urbano.

 

 

No acordo de Paris, o Brasil se comprometeu de maneira significativa: reduzir em 70% sua intensidade de carbono em relação ao PIB, tendo por base o ano de 2005. Uma grande ênfase foi dada à questão de reduzir os desmatamentos e ampliar os reflorestamentos, sendo que poucos países mantiveram florestas nativas como o Brasil. Contudo, o acordo inclui outros fatores significativos, como a eficiência energética, melhoria de eficiência no setor de transportes e fomento aos biocombustíveis.

 

Portanto, esse é o momento de governo, empresas e sociedade organizada abrirem diálogo em torno de como o comprometimento internacional pode se traduzir em possibilidades de negócios relacionados a produtos de baixa emissão.

 

Sem um acordo interno, a tendência será repetir práticas internacionais, tal como formar um mercado de "cap­and­trade"* ou estabelecer taxas para alguns segmentos industriais carbono­intensivos, sem avaliar todas as possibilidades. Se forem mal implementados, tais mecanismos podem desestimular o setor industrial e aumentar o problema das emissões no âmbito internacional. Por outro lado, poderíamos aproveitar o aprendizado nacional da rotulagem como o primeiro passo para qualquer futuro movimento.

 

Em 1993, por exemplo, surgiu o selo Procel de economia de energia. Esse instrumento permitiu a evolução de diversos produtos em relação à eficiência. Tal ideia expandiu­se para vários segmentos, entre eles, a indústria automobilística com o selo Compet/Inmetro. O mesmo poderia se dar para diversos setores industriais. Estabelecer um selo de carbono emitido por tonelada produzida poderia levar os fabricantes nacionais a terem padrões comparativos de melhoria e, mais do que isso, possibilitar no âmbito internacional o reconhecimento do produto brasileiro como de baixo carbono ­ uma vez que o alumínio fabricado no Brasil é 62% menos intensivo em carbono do que seu similar no mundo.

 

No Plano Setorial lançado pelo governo em 2013, diversas indústrias de transformação foram citadas como de interesse para as metas nacionais: alumínio, cimento, papel e celulose, química, ferro e aço, cal e vidro. A rotulagem por acordo setorial voluntário possibilitaria o estabelecimento de parâmetros que levassem ao arranjo setorial maior, no âmbito de cada uma dessas cadeias produtivas, visando a melhoria de eficiência, o que se traduziria em economias e estímulo na modernização do setor. O fomento à inovação poderia ser dado pelo governo àquelas empresas que implementassem os programas de rotulagem e buscassem modernizar sua produção.

 

 

No âmbito internacional, a comparação dessas emissões mostraria que os produtos brasileiros podem contribuir para a redução mundial. Como são menos intensivos em carbono, ao optar pelo produto brasileiro, o cliente deixa de comprar de uma indústria mais emissora, abrindo um ciclo positivo de negócios. Países e clientes interessados nesse tipo de produto estimulariam o desenvolvimento da cadeia produtiva.

 

 

A solução do desmatamento, na totalização das emissões nacionais, abre espaço para uma oportunidade de aumento de produção no Brasil para a indústria que produz com eficiência, levando à geração de divisas e contribuindo, no médio e longo prazo, para a redução total do carbono no mundo.

 

*Sistema econômico no qual se determina uma quantidade de gás carbônico que um setor da indústria ou país pode emitir. O cap and trade permite que as companhias que reduziram suas emissões acima do necessário comercializem seus créditos de carbono.

 

Fonte: Valor Econômico

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