O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) vai fazer uma licitação em dezembro para escolher um gestor privado para o fundo verde, que será estruturado com debêntures de projetos de infraestrutura que estão na carteira do banco.
Inicialmente composto por papéis de projetos de energia, sobretudo eólica e Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs), o fundo verde será formado inicialmente com R$ 500 milhões em debêntures. A diretora de mercado de capitais do BNDES, Eliane Lustosa disse ao Valor que a intenção é que o gestor escolhido também atue como formador de mercado e seja capaz de avaliar a qualidade da carteira do banco.
"Achamos que há muito interesse dos gestores porque o modelo vai gerar o 'asset on management'. Achamos que o BNDES pode dar esse empurrão trazendo gestores que tenham a possibilidade inclusive de ajudar como 'market maker'. À medida que coloca o setor privado, é possível viabilizar a compra e venda desses títulos", disse a executiva.
Entre os desafios apontados por ela está a rentabilidade do fundo, que precisa ser compatível com a taxa livre de risco no mercado e hoje equivale ao rendimento das NTN-B. Eliane Lustosa explica que o banco está atuando na forma como cada projeto será estruturado, além das garantias, de modo que seja possível alinhar interesses e evitar conflitos potenciais.
O BNDES tem observado que há investidores ávidos por papéis de infraestrutura, enquanto existem poucas opções para investir em empresas abertas. "Um dos desafios do mercado é ter oferta, e ele também precisa entender a relação entre risco e retorno da renda fixa no Brasil", afirma Eliane.
A diretora do BNDES afirma que esse é um bom momento para começar a fomentar a criação de uma curva de juros com debêntures, de modo a aumentar a liquidez desse mercado. Daí a preocupação com a estruturação desse fundo que, segundo ela, será o primeiro de uma série.
"São medidas para incentivar o mercado privado de crédito. Vamos inclusive ter um carimbo de fundo verde, o que é um outro elemento importante. Entendemos que a iniciativa de trazer fundos com esse carimbo incentive outro elemento importante para o mercado, que são os projetos ambientalmente sustentáveis".
Eliane lembra que a BRF e a Suzano lançaram papéis com características semelhantes, citando ainda o anúncio feito pela Corporação Andina de Fomento (CAF) e o BNP Paribas Asset Management sobre a criação de um fundo de investimentos com capital inicial de R$ 1 bilhão para projetos de infraestrutura.
A diretora do BNDES frisa que não existe uma demanda do banco para captar recursos, mesmo considerando a discussão sobre a devolução de R$ 100 bilhões do BNDES para o Tesouro, assunto que ainda está em discussão no governo.
"O caixa é bastante confortável", diz ela. "A discussão que temos colocado aqui é o papel de incentivar o mercado de capitais", disse a diretora, lembrando que o BNDES encerrou o primeiro semestre com R$ 82 bilhões em caixa.
Ao mesmo tempo em que estuda meios de fomentar a participação privada nos investimentos compartilhando garantias, como debêntures privadas, o banco estatal tem por objetivo reduzir a parcela de sua participação no total de financiamentos do mercado. O BNDES estuda diminuir sua participação em projetos fora de setores estratégicos, como infraestrutura e saneamento básico.
Segundo Eliane, a premissa é que aqueles projetos que possam ser financiados pelo mercado sejam "empurrados" nessa direção. "A intenção é ter uma atuação mais seletiva do BNDES, com menos volume, abrindo espaço para o mercado. Existem vários desafios e estamos trabalhando neles", afirma. A ideia, diz ela, é que o banco possa discutir com o setor privado uma estrutura que permita conceder um "carimbo" para que o mercado possa entrar. "E o carimbo é no seguinte sentido: nós estudamos esse papel, entendemos que as garantias são adequadas, e vão ser compartilhadas com o mercado", explica.
Fonte: Valor Econômico
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