A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) divulga hoje a cor da bandeira tarifária que será adotada para setembro. A maioria dos especialistas e investidores ouvidos pelo Valor acredita que a bandeira permanecerá na cor verde. Alguns, porém, acreditam que há espaço para a mudança para a cor amarela. Caso a autarquia mude a cor da bandeira, refletindo um aumento de custos com geração térmica, haverá um impacto estimado em 2% sobre as contas de luz dos consumidores.
"O setor foi salvo pela chuva do último fim de semana. Veio mais água do que esperávamos para o fim de setembro", afirma Marcelo Parodi, diretor da comercializadora Compass Energia. Segundo ele, a previsão de chuvas para o início de setembro também está acima do esperado.
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) prevê um volume de chuvas 11% acima da média histórica para setembro no subsistema Sudeste/Centro-Oeste, que concentra 70% da capacidade de armazenamento de água para geração de energia do país. O órgão também estima um volume de chuvas 24% superior ao histórico para o mês no Sul.
Com relação ao Norte e Nordeste, no entanto, o operador prevê mais um mês de pouca chuva. Para o Norte, a projeção do órgão é um volume de chuvas equivalente a 46% da média histórica para o período. Para o Nordeste, a expectativa é de um volume de chuvas de apenas 39% da média.
Em reunião com agentes do setor ontem, no Rio, técnicos do ONS ressaltaram que, desde abril, o volume de chuvas mensal registrado no Nordeste é o pior da série histórica. Hoje pela manhã, equipe do ONS deverá apresentar as projeções oficiais de volume de chuvas e de armazenamento nos reservatórios no fim de setembro. À tarde, com base nos dados do ONS, a Aneel divulgará a nova bandeira.
"Ainda não vejo essa necessidade [de mudar a bandeira para cor amarela], mas vamos ver o que vai acontecer. É um cálculo matemático", afirmou Guilherme Schmidt, especialista em energia do escritório de advocacia L.O.Baptista-SVMFA.
Para ele, apesar dos níveis dos reservatórios não estarem tão baixos como chegaram no passado, o governo pode adotar a estratégia de guardar volume nas hidrelétricas e despachar térmicas no lugar. "Talvez, pela experiência do passado, pela situação que aconteceu, eles queiram fazer essa utilização já agora de mais termelétricas", completou.
Para Marco Afonso, especialista em energia da consultoria em serviços em utilities CGI Brasil, a combinação do aumento da demanda previsto para os últimos quatro meses do ano com os níveis dos reservatórios das usinas, que continuam baixos, devem motivar o acionamento das térmicas com custo acima de R$ 211 por megawatt-hora (MWh), justificando a bandeira amarela.
"A decisão deve ser técnica. Temos que começar gradativamente a ligar mais térmicas, principalmente a gás, para preservar os níveis dos reservatórios", disse Afonso. Para que os reservatórios, principalmente do Nordeste, não cheguem a um nível ainda mais crítico, afirmou o especialista, o ONS e a Aneel devem acionar a bandeira amarela, avaliou ele. "Vão preservar os níveis dos reservatórios ligando as térmicas. "
Tecnicamente, o que vai determinar a cor da bandeira será o custo marginal de operação (CMO) valor que será divulgado pelo ONS no fim da manhã de hoje. O número, que é obtido após um cálculo matemático feito a partir de simulações e com condições incluídas pelo operador, indica quais térmicas deverão operar. Se o valor ficar abaixo de R$ 211/MWh, apenas as térmicas com custo operacional menor que esse patamar serão despachadas e, logo, não será necessário mudar a cor da bandeira.
No mercado, estima-se que o preço de liquidação de diferenças (PLD), preço do mercado de curto prazo baseado no CMO, para a próxima semana está em R$ 135/ MWh, o que indicaria não ser necessário acionar térmicas mais caras, nem alterar a cor da bandeira.
Fonte: Valor Econômico
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