Gerido pelos três estados da região Sul, o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) previu, em seu planejamento para 2016, repasses de R$ 3,3 bilhões. O valor, segundo a entidade, deverá ser efetivado, e pode até ser ultrapassado. O presidente do banco, Odacir Klein, argumenta que há indícios de retorno da expectativa de movimentações na economia nacional, o que deve afetar as decisões de investimentos. A efetivação até junho de R$ 1,84 bilhão, mais da metade da meta mesmo com a crise e análise mais criteriosa nas liberações, também subsidia a projeção.
Para justificar seu otimismo, Klein recorre a uma reunião realizada no início do mês para tratar de licenças para pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), que lotou o auditório da sede do banco. "Haver interesse do setor de geração de energia mostra que existe uma perspectiva do mercado de retomada da economia", argumenta. Klein foi o convidado de ontem do Tá na Mesa, realizado pela Federasul. No Rio Grande do Sul, a maior demanda continua sendo por empreendimentos geradores de energia renovável, em especial parques eólicos.
O presidente também salientou os resultados positivos da entidade. A inadimplência da carteira do BRDE, por exemplo, estaria em apenas 2,44%, contra 3,51% do sistema financeiro nacional. O motivo, segundo Klein, é o caráter regional do banco, que, diferente dos outros bancos de desenvolvimento, está menos sujeito a políticas específicas de gestões estaduais. Embora tenha agências em cada um dos três estados da região, qualquer demanda acima de pouco mais de R$ 1 milhão é analisada por um comitê interestadual. Valores muito elevados ainda precisam de autorização da diretoria e do conselho de administração.
A regionalidade tornaria mais difícil, portanto, situações como a do Badesul, banco de desenvolvimento do governo gaúcho que teve o seu limite de captação junto ao Bndes zerado na semana passada por problemas na sua carteira. Sobre o caso, Klein defendeu a entidade. "A gestão do Badesul tem feito um trabalho sério, e sairão com certeza dessa dificuldade", afirmou.
O crédito facilitado dos últimos anos, quando os juros estavam baixos, está cobrando a sua conta agora a todos os bancos de fomento, segundo Klein. Quando uma empresa entra em recuperação judicial, por exemplo, automaticamente o valor emprestado passa a ser contabilizado como prejuízo, mesmo que depois seja recuperado. Um ponto positivo da crise na avaliação do presidente é que, na iniciativa privada, teria se formado uma consciência de que é preciso um novo modelo tributário. "Antes, todo mundo brigava por uma medida provisória que beneficiasse o seu próprio setor", comenta. Klein ainda reforçou o seu pleito da criação de um fundo de desenvolvimento federal para a região Sul, a exemplo dos que existem no Centro-Oeste, Norte e Nordeste. Nos últimos 10 anos, o BRDE repassou à Brasília mais de R$ 1,126 bilhão em tributos, rubrica que consome 49,6% do resultado bruto do banco anualmente. "Isso dá condição aos estados de realizarem pleitos diferenciados junto ao governo federal", argumenta Klein, lembrando que a situação é única no País.
Embora haja alguns tributos que tenham como destino programas sociais, outros valores, como o Imposto de Renda sobre os recursos repassados pelo BRDE poderiam ser destinados a políticas de desenvolvimento na própria região Sul. "Temos um banco regional único, que prescinde de recursos da União e que cobre a inadimplência de sua carteira, e hoje não tem retorno nenhum com isso, então me parece correto insistir nessa ideia", defende. A própria existência do BRDE facilitaria a criação de um fundo, pois não seria necessária a formação de um novo banco para operacionalizar os recursos.
Fonte: Jornal do Comércio
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