Cemig tem plano para baixar dívida com venda de ativo

A direção da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), um dos maiores grupos de energia elétrica do país, está para se desfazer de parte de seus ativos. As conversas com potenciais compradores já começaram e envolvem empresas da Europa, EUA, Japão e China. Algumas delas ainda não atuam no Brasil.

 

Light, Taesa, Gasmig, hidrelétricas de Belo Monte e Santo Antonio são alguns dos negócios nos quais a Cemig considera abrir mão de parte ou de toda sua participação, segundo confirmou ao Valor PRO, serviço de informações em tempo real do Valor, o diretor presidente da estatal mineira, Mauro Borges. O prazo estimado, segundo ele, para a conclusão dessas operações é o fim de 2017.

 

Borges diz que sua meta é que naquele momento a empresa esteja "mais enxuta e eficiente do ponto de vista de geração de resultado, reconcentrada nas suas atividades principais e com um nível de endividamento muito menor".

 

A empresa tem hoje dívidas de mais de R$ 11 bilhões vencendo até 2018. No fim de 2015, a relação entre dívida líquida e Ebitda era de 2,4 vezes. Em março deste ano, subiu para 4,39 vezes. A expectativa na Cemig é que as mudanças acelerem a melhora dessa relação.

 

Desde janeiro de 2015 no cargo, Borges diz que a empresa abandonou a estratégia adotada pela gestão anterior de multiplicar sua atuação em diversos negócios e de investir em muitas aquisições. Borges fala em uma concentração em negócios onde a Cemig tem especialidade: geração, distribuição e transmissão.

 

A companhia já havia anunciado meses atrás planos de sair de ativos que não faziam parte dos negócios principais e sobre os quais não tinha posição de controle. Mas mesmo com as muitas especulações e informações de bastidores sobre quais ativos estariam à venda, a Cemig vinha até agora evitando dar detalhes.

 

Companhias da Europa, EUA, Japão e China estão entre as que tem conversado com Cemig para compra de ativos

 

Nesta primeira entrevista sobre o tema, Borges diz que as únicas empresas tratadas como cláusulas pétreas do grupo e sobre as quais não se cogita qualquer negociação são a Cemig Distribuição e a Cemig Geração e Transmissão. As demais estariam abertas a eventuais oportunidades.

 

Borges aposta numa ampla revisão do portfólio da empresa, que atualmente está em 232 sociedades, 19 consórcios e 2 fundos de investimentos e participações. "Nosso plano de alienação de ativos é fundamentalmente baseado em ativos que não são essenciais nem os mais lucrativos da empresa", disse ele. O projeto foi remetido dias atrás ao conselho de administração, que deve se reunir no fim do mês para dar sua posição.

 

A conversa com os bancos que poderão atuar nessas operações já está bem alinhavada, disse o executivo. "Operamos com um conjunto de bancos de grande porte que conhece bem o portfólio da Cemig, o que ajuda muito a reestruturação desse portfólio".

 

Uma das empresas citadas por ele como alvo potencial de mudanças é a Gasmig. É a distribuidora de gás de Minas, controlada quase integralmente pela Cemig. "Não estou querendo vender a Gasmig ou controle da Gasmig", diz Borges. Mas acrescenta que está aberto a potenciais possibilidades de reestruturação societária da empresa. A vantagem para a Gasmig, diz, seria ter capital novo para acelerar seu plano de expansão da rede de gasoduto no Estado.

 

Na entrevista, Mauro Borges citou também a Cemig Telecom, a Ativas (de data center), a Axxiom (de TI), a Transchile (empresa de tranmissão no Chile) como exemplos de sociedades em ativos que não são do 'core business' da Cemig e que poderão ser vendidas.

 

Light e Taesa são casos diferentes. Fazem parte das atividades centrais da Cemig, mas Borges diz que é preciso pensar em possíveis mudanças societárias nas duas. Isso porque ambas têm hoje a participação de fundos de investimentos que podem deixar o negócio em breve.

 

No caso da Light, o FIP formado por quatro bancos, pode deixar a empresa até o fim de 2017. E o que a Cemig planeja é atrair um novo acionista para adquirir a fatia do FIP ou "o que o novo sócio possa nos colocar", disse o presidente da Cemig. Uma das opções, segundo informou o Valor na semana passada, seria a venda dos ativos de geração da Light para a Aliança Energia (formada por Vale e Cemig) que, depois, abriria seu capital em bolsa. Borges disse apenas que há várias opções em estudo.

 

A Cemig não vai sair do ramo de distribuição, diz Borges. O momento, no entanto, é favorável para negócios. A compra da CPFL pelo chinesa State Grid valorizou ativos de distribuição no Brasil. "O cenário mudou, sinalizou novos tempos", afirmou o executivo que não quis citar nomes de grupos com que tem conversado sobre possíveis operações de venda. Mas diz que companhias da Europa, EUA, Japão e China estão entre as que tem conversado com a empresa.

 

Assim como a Light, a Taesa, empresa de transmissão, também tem um FIP como um dos sócios. A Cemig já informou que pretende abrir mão de uma fatia da Taesa, o que poderia lhe render cerca de R$ 500 milhões.

 

Borges inclui na sua lista de possíveis alienações fatias nas duas grandes hidrelétricas da região Norte: Belo Monte e Santo Antonio. O problema em relação a elas é que a direção da Cemig não gosta do papel lateral que desempenha na gestão desses empreendimentos. O executivo diz que há dois caminhos à vista. "Há a possibilidade de alienarmos [nossa participação] esses ativos, o que sempre está colocado; ou de uma reestruturação societária em que nós possamos ter uma participação ativa como gestor das companhias, numa estratégia de crescimento."

 

O movimento da Cemig representa uma reversão no modelo adotado pela gestão que antecedeu a de Borges. A marca dos anos anteriores foi diversificação de negócios e aquisições. "Aquela fase de aquisição em que a empresa pulverizou demais sua carteira, acredito que não foi bem sucedida. Os resultados são muito aquém do desejado. A fase de pulverização do portfólio acabou", disse Borges.

 

De 2003 a 2014, a Cemig esteve sob gestão de governadores do PSDB (Aécio Neves por duas vezes e uma de Antônio Anastasia). Em 2014, o PT venceu pela primeira vez uma eleição ao governo do Estado com Fernando Pimentel. A Cemig tem o Estado de Minas Gerais como principal acionista, com 50,96% das ações ordinárias. O segundo maior acionista é o grupo Andrade Gutierrez, com 20,05%.

 

Fonte: Valor Econômico

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