Ações de energia elétrica disparam e seguem em foco

Ações das empresas de energia elétrica continuam aparecendo entre as recomendações dos gestores, mesmo após a forte alta nos preços observada recentemente. A expectativa de retomada do crescimento econômico e a perspectiva de que o setor passe por um movimento de fusões e aquisições, além da perspectiva de valorização do mercado acionário como um todo diante da farta liquidez global, são os argumentos para essa aposta – feita com uma dose de seletividade dentro das opções de empresas desse setor.

 

As ações de energia elétrica costumam ser as preferidas dos investidores que querem papéis defensivos, pagam dividendos e sofrem menos com as oscilações do ritmo de crescimento econômico. Mudanças na regulação do setor e a recessão econômica tinham afastado muitos investidores desses papéis. Mas, com a mudança no cenário político e as indicações de melhora na gestão do marco regulatório do setor neste ano, o interesse pelo segmento foi retomado.

 

"Apesar da alta das ações, ainda há espaço para valorização. Mas, neste momento em que os papéis já subiram bastante, é preciso ser seletivo nas escolhas", diz Marcos Peixoto, gestor de renda variável da XP Gestão de Recursos, que aposta nas ações da Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista, que têm alta de 42,33% neste ano.

 

A perspectiva de melhora da economia no próximo ano com o crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) e queda da taxa de juros também favorece o desempenho dessas ações.

 

A redução da taxa básica de juros, atualmente em 14,25% ao ano, vai permitir a diminuição do endividamento de empresas como Cemig, Eletropaulo e Light. Já a retomada da economia deve aumentar o consumo de energia elétrica. Essa perspectiva levou o Operador Nacional de Energia Elétrica (ONS) a elevar em 3,2% a previsão da carga de energia em 2016. Com essa revisão, a previsão agora é de expansão de 1% em relação a 2015, ante projeção anterior de queda de 2,4%.

 

Embaladas por esse cenário, as ações PN da Cemig já subiram 64,26% neste ano, os papéis ON da Light tiveram alta de 54,14% e os PN da Eletropaulo, de 42,82%. "A queda nos juros, que deve começar neste semestre, vai favorecer o preço dessas ações", diz Felipe Hirai, gestor de ações para a América Latina do Bank of America Merrill Lynch.

 

As ações da Cemig também estão no foco por causa do plano da empresa de vender ativos. A estatal mineira informou que pretende vender parte de suas ações na transmissora Taesa, numa operação que pode chegar a R$ 500 milhões. A Cemig junto com a Copel e a AES Tietê têm os papéis com mais potencial de alta, na avaliação de Maria Carolina Carneiro, analista do Santander. "A Copel e a AES podem ser favorecidas com o aumento do preço spot da energia", diz.

 

O preço spot da energia saiu de R$ 30 o MWh, no começo do ano, para R$ 117 o MWh nesta semana. Esse valor é utilizado na compra de energia no mercado à vista, em que as duas empresas são vendedoras.

 

De acordo com um relatório produzido pela equipe de analistas do banco suíço UBS e distribuído a clientes, a Light deve ainda se concentrar na venda de ativos não essenciais, como a Renova, empresa de energia renovável, e minoritários como a participação em Belo Monte, Itaocara e Guanhaes.

 

A consultoria de investimentos Lopes Filho considera que a situação financeira da Eletropaulo continua sendo caracterizada por uma elevada alavancagem. A Eletropaulo informou que teve uma queda de 92,9% no lucro do segundo trimestre, para R$ 3,45 milhões. "Como a maior parte dessas empresas está bastante endividada, a redução dos juros vai melhorar o perfil da empresa", afirma Frederico Tralli, gestor de renda variável da BNP Paribas Asset Management, que tem nas ações do setor de energia uma das suas principais apostas.

 

A onda de valorização de papéis de energia elétrica não é um fenômeno exclusivo da bolsa brasileira. O preço das ações do setor que fazem parte do índice S&P 500, da bolsa de Nova York, já subiu 17% em dólar neste ano.

 

Esse movimento acaba dando fôlego extra às ações das companhias locais que, tradicionalmente, seguem o desempenho dos seus pares americanos.

 

Mas há visões mais cautelosas sobre o setor. O gestor de um grande fundo de investimentos paulista, que prefere não ser identificado, considera que as ações já estão caras e que não há fundamentos corporativos que justifiquem ganhos adicionais. Ele cita especificamente a Eletrobras e a Cemig que, em sua visão, tiveram anos de gestão pouco eficiente e hoje estão caras. "A Eletrobras é uma caixa preta, ninguém sabe exatamente o que é ativo e o que é passivo. É muito difícil precificar a empresa de maneira correta", disse. Para ele, em algum momento os preços do setor serão corrigidos para baixo.

 

A cautela com Eletrobras, que acumula elevados ganhos a despeito de problemas de gestão, é um ponto comum entre os analistas. No ano, as ações ON subiram 232% e os PNB, 136%, enquanto o Ibovespa avançou 34,49%. O que sustenta esse movimento é, principalmente, a expectativa da venda de ativos.

 

O governo federal pretende vender até o fim do ano que vem seis distribuidoras de energia que hoje pertencem à Eletrobras: Amazonas Energia (AM), Eletroacre (AC), Ceron (RO) e Boa Vista Energia (RR), Cepisa (PI) e Ceal (AL). É essa perspectiva de venda de ativos que está ajudando na valorização dos papéis do segmento. "Os processos de fusão e aquisição no setor vão permitir a melhoria da gestão das empresas, facilitando os desinvestimentos e aumentando os investimentos para áreas prioritárias", diz Tralli, da BNP Asset.

 

As movimentações no setor já começaram. A CPFL comprou a distribuidora gaúcha de energia AES Sul por R$ 1,7 bilhão. A empresa chinesa State Grid adquiriu a fatia de 23% que a Camargo Corrêa tinha na CPFL. O valor do negócio foi avaliado em cerca de R$ 6 bilhões – R$ 25 por ação. Ambas as transações ainda dependem de aprovação dos órgãos reguladores, mas aumentaram as apostas de que os chineses podem ser potenciais compradores de empresas brasileiras. Neste ano, as ações ON da CPFL já subiram 52,90%.

 

No começo do mês, a Energisa fez uma oferta pública de units, captando R$ 1,53 bilhão. A companhia vendeu 83 mil units pelo valor de R$ 18,50 cada. Foi a primeira oferta pública de ações na BM&FBovespa desde meados do ano passado. Os papéis da empresa já subiram 54,27% neste ano. Na semana que vem, será a vez de os investidores mostrarem interesse pelo leilão de venda da Celg D, uma das empresas de distribuição do grupo encabeçado pela Eletrobras.

 

Fonte: Valor Econômico

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