Usina termelétrica de José Carlos Bumlai é desligada por inadimplência

A última ligação entre o pecuarista José Carlos Bumlai com o setor elétrico foi extinta nesta terça-feira (26), pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).

 

A Usina São Fernando, de propriedade da família de Bumlai, foi desligada por inadimplência. A empresa que administra a termelétrica está em recuperação judicial desde 2013 e possui dívidas de R$ 1,5 bilhão.

 

A CCEE (Câmara de Comercialização de Energia Elétrica) cobra o pagamento de obrigações regulatórias no valor de R$ 12 milhões. Em maio, a CCEE já havia definido o desligamento da usina do setor, mas a Aneel precisou dar a palavra final devido ao recurso interposto pela usina.

 

No recurso, a empresa alega que o processo de recuperação judicial suspende o pagamento dessas obrigações. A argumentação foi considerada injustificada pela Aneel.

 

Não cabe mais recursos na área regulatória. Para conseguir reverter a decisão da agência regulatória, Bumlai precisaria entrar com um processo na Justiça. Não foram encontrados representantes da São Fernando para comentar o caso.

 

A São Fernando é uma usina termelétrica abastecida com bagaço de cana-de-açúcar e é ligada à planta de produção de açúcar e álcool do grupo São Fernando. Com a decisão, ela está proibida de comercializar a sua geração de eletricidade.

 

A empresa de Bumlai é alvo de diversos pedidos de falência. Um deles foi feito pelo BNDES, que possui créditos que ultrapassam R$ 300 milhões a receber.

 

Atualmente, a usina está registrada apenas nos nomes dos filhos do pecuarista, Maurício e Guilherme Bumlai.

 

NEGÓCIO DE FAMÍLIAS

 

A usina, originalmente, foi uma sociedade entre Bumlai e a família Bertin, pecuaristas que, em 2009, venderam seu frigorífico para o grupo JBS.

 

São Fernando foi a primeira aventura de Bumlai e Bertin no setor elétrico. A planta, uma inovação à época, utilizava o bagaço da cana para gerar energia elétrica e térmica -a chamada cogeração.

 

Ambos, anos mais tarde, se envolveram no consórcio vencedor da concessão de operação e manutenção da usina de Belo Monte. Ambos venderam suas participações no projeto.

 

Os Bertin, animados com a promessa da receita garantida do setor elétrico, foram além e venderam 29 usinas termelétricas em leilões organizados pelo governo. Por falta de financiamento, não entregaram uma sequer e atualmente enfrenta um processo bilionário por conta de 6 dessas usinas, as quais o grupo não conseguiu vender.

 

Apesar de terem cortado relações, Bumlai e Bertin ainda estão ligados por meio da São Fernando. Não são mais sócios, mas os Bertin são os garantidores dos empréstimos tomados com o BNDES para a criação da termelétrica. Recentemente, as parcelas deixaram de ser pagas.

 

LAVA JATO

 

Conhecido como o amigo de Lula, Bumlai virou alvo da Operação Lava Jatodepois que dois delatores relataram que ele teria repassado recursos para uma nora do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ajudado a quitar dívidas do PT, o que ele nega ter feito. Ele foi preso em novembro de 2015. Atualmente, está em prisão domiciliar.

 

Em depoimento à Polícia Federal, Bumlai afirmou que houve "fatos ilícitos" na configuração do consórcio que venceu a licitação de Belo Monte.

 

Bumlai contou que esse consórcio foi estimulado pelo então presidente, Lula, para forçar as empreiteiras que projetaram a usina de Belo Monte (Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa e Odebrecht) a fazerem a obra. As empresas entendiam que o custo era baixo demais.

 

O consórcio construtor vencedor foi formado por empresas menores, como Queiroz Galvão, Mendes Junior e Cetenco, junto com a Chesf (Companhia Hidro Elétrica do São Francisco).

 

Posteriormente, as grandes assumiram a obra, orçada em R$ 14 bilhões, em valores de 2010. O custo atual, já próximo do final da obra, ultrapassa R$ 30 bilhões.

 

Outros delatores contaram à PF que houve pagamento de propina na obra de Belo Monte, para políticos do PT e do PMDB. Executivos da Andrade Gutierrez afirmaram que combinaram com outras construtoras o pagamento de R$ 150 milhões em propinas. 

 

Fonte: Folha de SP

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