O movimento de migração em massa de consumidores para o mercado livre de energia está provocando o aumento do preço dos contratos de longo prazo (a partir de um ano de duração) nesse ambiente de negócios. No acumulado deste ano até junho, o aumento dos preços no mercado de energia incentivada varia de 20,65% a 23,36%, dependendo do horizonte (de 2017 a 2020), de acordo com cálculos da consultoria GV Energy.
O mercado de energia incentivada é uma modalidade do livre. Nesse caso, basicamente, podem se candidatar a consumidores livres as empresas de pequeno e médio porte, comerciais e industriais, que possuam demanda entre 0,5 megawatts (MW) e 3 MW, desde que comprem energia de projetos de fontes renováveis não convencionais – eólicas, térmicas a biomassa e pequenas centrais hidrelétricas (PCHs).
Como praticamente todas as grandes indústrias já migraram para o mercado livre no início da última década, aproveitando o excedente energético existente pós-racionamento de 2001 e 2002, são justamente as empresas de pequeno e médio porte que estão se transferindo para esse ambiente de negócios agora.
"Vemos que somente nas últimas quatro semanas houve um deslocamento rápido, de aproximadamente 15%, de aumento nos preços ofertados por geradores e comercializadores, o que tem significado uma curva de valores de longo prazo [2020] de R$ 181 por megawatt-hora. Mesmo assim o ambiente livre continua sendo favorável para os consumidores dado o valor vigente das tarifas reguladas", afirmou Pedro Machado, sócio-diretor da GV Energy.
Segundo o especialista, a tendência é que os preços para energia incentivada no mercado livre continuem em trajetória de crescimento. Isso porque a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) divulgou que há mais de 700 empresas migrando como consumidores especiais (elegíveis a comprar energia incentivada) para o mercado livre. A consultoria espera que esse número ultrapasse 1 mil empresas este ano. Em entrevista ao Valor esta semana, o presidente do conselho de administração da CCEE, Rui Altieri, afirmou que há espaço para migração de mais 1.400 consumidores especiais.
De acordo com a GV Energy, em março de 2016, o consumo de energia incentivada no mercado livre (último dado disponível) totalizou 2.021 MW médios, com alta de 4,6% em relação a igual período do ano passado. Na mesma comparação, o consumo médio de energia do país recuou 1,5%, para 39.162 MW médios.
A pressão nos preços também se deve ao que está acontecendo do outro lado da ponta. Segundo a consultoria, a deterioração do quadro macroeconômico e a variação cambial tem reduzido novos investimentos em usinas do segmento de energia incentivada.
A CCEE informou que há mais de 700 empresas em processo de migração como consumidores especiais
"O aumento da demanda e a queda na oferta tem pressionado e deve continuar a pressionar os preços da energia incentivada. Contudo, mesmo com estes últimos aumentos, os consumidores têm muito incentivo para migrar para o ambiente de contratação livre, dado que as tarifas [das distribuidoras] continuam muito altas gerando economias de 20% a 30% na migração", completou Machado.
O diretor executivo do grupo Safira Energia, Mikio Kawai Jr, compartilha da visão do consultor. "O que restou de migração são os consumidores especiais. Podemos continuar vendo esse movimento [de migração] até o fim do ano que vem, porque as tarifas [das distribuidoras] estão bastante altas e o custo de oportunidade hoje, é muito alto".
Para o presidente da Comerc Energia, Cristopher Vlavianos, a curva de preços de fato aumentou recentemente, mas pode recuar a qualquer momento, devido à volatilidade com que surge oferta de energia. "Apesar disso estamos conseguindo contratar para todos os candidatos à migração", disse.
Para o presidente da Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen), Newton Duarte, o movimento do mercado de consumidores livres é uma oportunidade para térmicas a biomassa negociarem o volume de 500 MW médios que possuem ociosos em suas usinas e que não eram comercializados até hoje porque a lei anterior tornava o negócio inviável economicamente. Com a aprovação de uma emenda na Medida Provisória 706/2015, a comercialização desse montante de energia passou a ser atrativo para as térmicas. A MP aguarda a sanção do presidente interino Michel Temer. (Colaborou Camila Maia, de São Paulo)
Fonte: Valor Econômico
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