Não há como cravar qual será o tipo de energia predominante no futuro. "Mas, certamente, será diferente da matriz de hoje", diz Lavinia Hollanda, coordenadora de Pesquisa da FGV Energia, sediada no Rio de Janeiro. Além do forte engajamento dos países desenvolvidos – afinal, trata-se de uma questão de saúde pública -, nações como o Brasil já estão convencidos de que a agenda climática tem de conversar com a energética.
No caso brasileiro, é preciso investimento para financiar as novas alternativas de energia, como reformas setoriais – a geração distribuída (em que a fonte está próxima aos centros de consumo) é um exemplo – para que a estrutura regulatória não brigue com o desenvolvimento.
Há consciência, diz a especialista, de que o petróleo só será imprescindível até as próximas duas décadas. Até a Arábia Saudita vai criar um fundo para energias renováveis.
Para Andre Dorf, diretor-presidente da CPFL Energias Renováveis, a tendência também é de prevalecer a energia distribuída. Ele analisa o momento de quatro fontes alternativas. A biomassa é uma solução inequívoca para os rejeitos, como bagaço de cana e cavaco. A eólica está em um estado bem avançado, pois os incentivos existem há dez anos, o que atraiu investidores estrangeiros.
As Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) têm a vantagem do impacto ambiental mais baixo, pois não desalojam a população no entorno nem impõem desmatamento. Por fim, a solar é muito competitiva, pois para cada megawatt instalado, há um aproveitamento de 25% da energia, ante a média nos 11% nos países onde também funciona.
Também na análise da consultoria Thymos, segundo sua diretora-executiva Thaís Prandini, o futuro do setor está na geração distribuída. Para ela, o ponto positivo é que está havendo um rápido aperfeiçoamento do sistema regulatório, o que incentiva os investimentos.
A executiva pondera, no entanto, que não é prudente se apostar em uma matriz totalmente renovável. "São todas intermitentes, que dependem do sol [não gera à noite], vento [que precisa de qualidade constante], hidrelétrica [sujeita a chuvas]. Mesmo a biomassa da cana é sazonal", lembra. Ou seja, é necessário, por menos ambientalmente correto que seja, um parque térmico para dar conta de eventuais períodos de escassez.
E o setor privado está se mexendo em busca de soluções alternativas às fontes tradicionais de energia. Segundo Flávio de Souza, gerente nacional de vendas da Schneider Electric, a empresa fornece equipamentos – de solar e eólica -, além de dar suporte para as empresas terem as soluções mais adequadas para seu tipo de negócio. Isso inclui necessidades futuras de abastecimento, manutenção preventiva dos equipamentos e montagem de um mix de matrizes mais rentáveis e eficientes.
Também para Dirceu Azevedo, líder de sustentabilidade da Accenture para a América Latina, a agenda mundial é amplamente positiva para as fontes renováveis de energia, com destaque para a solar e a eólica.
Ele informa que, globalmente, o total investido em energia renovável somou USS 286 bilhões em 2015, sendo que no Brasil, entre US$ 7 bilhões e US$ 8 bilhões, excluindo as hidrelétricas de grande porte. A taxa média de crescimento no país, nos últimos dez anos, foi de 20% ao ano.
O executivo, no entanto, admite que o Brasil ainda engatinha no setor. Mas, pondera, "há um movimento importante na área de eólicas, principalmente. O que se espera, daqui para frente, é o desenvolvimento de tecnologia de armazenamento de sol e vento. E isso já vem sendo desenvolvido por grandes players globais".
Um case bastante promissor é o da Dow. Em 2010, firmou patrocínio com o Comitê Olímpico Internacional por dez anos. De acordo com o responsável por tecnologia e sustentabilidade da empresa, Julio Natalense, a Dow está envolvida em cerca de 20 projetos ligados aos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, abrangendo desde tecnologias para o campo de jogo até a construção de instalações olímpicas, transporte e infraestrutura da cidade-sede.
A diretora de energia da empresa, Claudia Schaeffer, diz que, desde 1995 a Dow tem planos decenais de sustentabilidade. Um dos mais emblemáticos é o acordo entre a Energias Renováveis do Brasil (ERB) e a Dow Brasil, que teve como fruto uma planta de cogeração de vapor e energia gerados a partir de biomassa de eucalipto. O projeto abastece a maior unidade da empresa no Brasil, localizada em Candeias (BA), com energia limpa, substituindo parte do gás natural que abastece o site. Com o projeto, a companhia substitui 150 mil metros cúbicos diários de gás natural.
Outro exemplo é a parceria entre a GE Power e a CS Bioenergia (uma joint-venture formada entre Cattalini Bioenergia e a empresa de saneamento Sanepar) para a realização de um projeto de geração de energia a partir da decomposição do lodo e da matéria orgânica depositada em estações de tratamento de esgoto.
Localizada no Paraná, a geradora será equipada com dois motores Jenbacher JCM 420 fornecidos pela GE. Juntos, os equipamentos produzirão 5,8 MW de energia. Do total de energia elétrica produzida, 0,5 MW será consumido pela própria usina de biogás para manter sua operação e os outros 2,3 MW serão disponibilizados à rede de distribuição. O total de energia é suficiente para abastecer cerca de 8.400 pessoas ou 2.100 unidades consumidoras no entorno da unidade de tratamento.
De acordo com Rickard Schäfer, líder de vendas da divisão de distributed power da GE Power para o Brasil, a planta de biogás entrará em operação entre novembro e janeiro deste ano, pronta para gerar energia em janeiro de 2017.
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