Delação na Lava-Jato cita propina entre Eletrobras e empresa de tecnologia

Na delação premiada que se tornou pública nesta quarta-feira (15/6), o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, disse que uma das empresas que pagaram propina para políticos, a Bauruense Tecnologia, operava de modo semelhante na Eletrobras. Segundo o depoimento dado a procuradores federais, Machado disse que o contato que possuía era com o dono da empresa, Aírton Daré, e que quando o procurou, o executivo da empresa de tecnologia contou que o modus operand era semelhante ao existente na estatal de energia elétrica.

 

"Que quando procurou o depoente [no caso, Sérgio Machado], Aírton explicitou que o pagamento de vantagem ilícita era o modo como a empresa Bauruense trabalhava na Eletrobras", apontou o ex-CEO da Transpetro em seu depoimento. A Bauruense tem entre seus principais clientes Furnas, Eletronuclear e Itaipu Binacional e atua também nas áreas de transportes & logística e de empreendimentos imobiliários.

 

Especificamente para a área de energia, a Bauruense cita como áreas de atuação a realização de obras civis, montagem eletrônica, montagem industrial e fiscalização e controle tecnológico de obras, especialmente em atividades ligadas a unidades geradoras, subestações, linhas de transmissão e distribuição de energia elétrica com tensão em até 750kV.

 

Entre outras empresas, Machado cita pagamento de propina por Queiroz Galvão, Camargo Corrêa, GDK Engenharia, MPE Engenharia e Skanska.

 

Na delação, Machado aponta ainda, entre outros políticos, o nome do senador Edison Lobão, que segundo os depoimentos, possuia um escritório no Rio de Janeiro pelo qual recebia os recursos ilegais. A partir de fevereiro de 2008, quando assumiu o Ministério de Minas e Energia, segundo Machado, tiveram início os pagamentos mensais ao PMDB. Durante a gestão de Machado na Transpetro, o ex-ministro teria recebido R$ 24 milhões.

 

Ainda de acordo com Machado, Lobão, já como ministro, queria receber "a maior propina mensal paga aos membros do PMDB". O ex-presidente da Transpetro contou aos procuradores que "iria estudar as possibilidades e que voltaria a encontrá-lo em breve para fixar os valores". Na sequência, Machado contou que o então ministro reiterou querer o maior valor pelo fato do MME ser responsável direto pela Transpetro.

 

Diante disso, Machado comentou que diante da realidade da empresa de logística da Petrobras, não seria possível atender à expectativa de Lobão receber R$ 500 mil mensais e que o máximo "que conseguiria fazer" seria um repasse mensal da ordem de R$ 300 mil, com alguma variação em função dos recebimentos pelas empresas contratadas.

 

"Nos anos eleitorais esses valores aumentavam, porque o depoente intervinha junto às empresas que tinham contratos com a Transpetro para que elas pagassem propina a Lobão na forma de doações oficiais", destaca o documento. Machado afirma ainda aos procuradores que os recursos eram recebidos por seu filho Marcio Lobão no Rio de Janeiro, por determinação do ministro.

 

Eletrobras

 

Com a citação da relação com a Bauruense, de acordo com o documento, a Eletrobras soma mais um fato à lista de menções relativas às investigações ligadas à Operação Lava-Jato, entre as quais se destacam as obras da hidrelétrica de Belo Monte e a usina nuclear Angra 3. Há quase uma semana, o Ministério Público Federal formou força-tarefa para investigar as irregularidades apontadas nas delações sobre as obras da usina, que se encontra com as obras paralisadas.

 

Machado também relata a relação entre o senador Aécio Neves e Furnas. Segundo Machado, Aécio, então candidato a deputado federal tinha "apadrinhado" Dimas Toledo, que atuava na subsidiária da Eletrobras como diretor, e que "todos do PSDB sabiam que Furnas prestava grande apoio" ao político por meio do diretor da estatal.

 

"Parte do dinheiro para a eleição de Aécio para a Presidência da Câmara veio de Furnas", disse o ex-executivo da Transpetro.

 

Prisão domiciliar

 

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu para que Machado cumprisse pena de dois anos e três meses de reclusão domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica, com direito a ausências do imóvel por um período de seis horas contínuas, e nove meses no regime semi-aberto, também monitorado pelo dispositivo.

 

Fonte: Brasil Energia

Machado terá que reembolsar a Transpetro em R$ 75 milhões, como parte da multa a ser paga ao governo — o valor a restituir a estatal corresponde a 20% do total a ser pago, pois os outros 80% serão destinados à União.

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