O Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) – que reúne a cúpula energética do governo – discutirá em reunião na próxima semana a possibilidade de desligamento de mais termelétricas este ano. Em abril, estarão em funcionamento usinas com custo de operação máximo de R$ 211 por megawatt-hora (MWh), o que caracteriza a bandeira tarifária verde (sem custo adicional na tarifa), pela primeira vez desde janeiro de 2015.
O desligamento de um grupo maior de térmicas (que pode reduzir o custo da energia, mas diminui o nível de segurança do sistema) não é consenso entre os integrantes do colegiado. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) é contrário à proposta. Já a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e a Agência Nacional de Energia Elétrica veem espaço para a retomada do modelo de despacho por "ordem de mérito" – em que as usinas são acionadas apenas se houver razão econômica, sem considerar aspectos de segurança energética.
De acordo com projeções do ONS, considerando a meta definida pelo órgão de chegar a novembro – fim do período seco – com 30% de armazenamento nos reservatórios hidrelétricos do subsistema Sudeste/Centro-Oeste (o principal do país), será necessário um volume de chuvas de 80% da média histórica para o período entre abril e novembro e a geração térmica de usinas com custo até R$ 211/MWh. Considerando o despacho termelétrico apenas por "ordem de mérito", nesse cenário, o nível de armazenamento de água nas usinas do Sudeste/Centro-Oeste chegaria a novembro próximo de 11%.
"Eles [CMSE] que vão decidir. O comitê é soberano. Ele é soberano para decidir e soberano para assumir a responsabilidade", disse Hermes Chipp, diretor-geral do ONS, em evento sobre o setor elétrico, promovido pelo "Canal Energia", no Rio de Janeiro.
Presente ao evento, o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, afirmou que, apesar de ser favorável à retomada do modelo de despacho por ordem de mérito, a medida não precisa ser tomada já nesta reunião. "O ideal é usarmos o modelo [por ordem de mérito], que é mais transparente. Mas enquanto tivermos uma situação em que pode haver algum risco, é justificável manter algumas térmicas ligadas, até termos uma posição mais clara".
"A Aneel acredita que já é o momento de entrar no piloto automático", afirmou Tiago Correia, diretor da autarquia, defendendo o despacho por ordem de mérito.
Com relação ao mercado de energia, a EPE reviu para baixo a previsão de consumo do país este ano e passou a estimar uma queda de 0,4% em relação ao ano passado. A previsão anterior era de um aumento de 0,4% neste ano. Esta é a primeira vez que a EPE prevê queda de consumo de energia em 2016. E, se confirmada, será o segundo ano consecutivo de queda da demanda.
A previsão de queda do consumo em 2016 é puxada principalmente pelo fraco desempenho da indústria, cuja demanda deve recuar 4,5%, ante 2015, com destaque negativo para os segmentos de siderurgia (-14%) e ferro-ligas (-14,4%). O consumo dos setores residencial e comercial deve crescer 2% e 2,5%, respectivamente.
A nova estimativa da EPE será considerada na revisão da projeção oficial da carga (que considera consumo mais perdas) para este ano, que atualmente é de alta de 1%, feita pela estatal em parceria com ONS. Segundo Chipp, a revisão, que deve ser publicada nas próximas semanas, ainda deve indicar ligeiro aumento ante 2015.
O operador e a estatal também estão elaborando nota técnica para indicar os impactos dos atrasos das obras de linhas de transmissão da Abengoa, que estão paralisadas desde novembro de 2015, quando a empresa pediu recuperação judicial na Espanha. Segundo Chipp, o atraso previsto para as obras é de dois anos, no entanto o prazo pode ser maior, dependendo da solução que seja dada para o caso.
Considerando o atraso de dois anos, o ONS projeta uma diferença da ordem de 3 mil MW médios do limite de intercâmbio de energia do Norte e Nordeste para o Sudeste/Centro-Oeste, passando de 9.949 MW médios para 7.100 MW médios, em meados de 2018.
Fonte: Valor Econômico
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