SÃO PAULO – As expectativas dos analistas do mercado sobre a inflação deste e do próximo ano tiveram uma deterioração substancial na última semana, de acordo com o boletim Focus, divulgado pelo Banco Central (BC). A despeito disso, eles não veem elevação de juros num futuro próximo. As previsões para a atividade econômica também pioraram.
De acordo com o Focus, a mediana das estimativas para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2016 subiu de 7,26% para 7,56%. Para 2017, a mediana já encostou no teto da meta, 6%. Na semana anterior, a expectativa era de que o IPCA subisse 5,8% no próximo ano. Em 12 meses, a mediana caiu de 6,82% para 6,78%.
Os analistas que fazem parte do grupo Top 5 veem um IPCA bem mais alto em 2016: 8,13%, em vez dos 7,79% previstos na semana anterior. Mas eles reduziram bem sua aposta para 2017, de 7,19% para 6,40%, embora essa estimativa esteja ainda acima da projeção do mercado em geral.
Essa deterioração nas expectativas de inflação ocorre após o forte aumento do IPCA de janeiro, divulgado pelo IBGE na sextafeira passada. O índice subiu 1,27%, o maior para o mês desde 2003. Apesar de uma pressão menor nos preços da energia elétrica, e dos efeitos da queda da atividade econômica e dos salários, e do desemprego, as expectativas ainda não indicam uma desaceleração do IPCA para abaixo de 7%. O próprio câmbio, que deu trégua nos últimos dias, ainda é um risco de longo prazo por causa da questão fiscal, que parece longe de ser resolvida, segundo analistas. No Focus, a previsão para o dólar ao fim de 2016 seguiu em R$ 4,35.
Quanto à Selic, os analistas não veem mudança na taxa de juro, atualmente em 14,25%, até o fim de 2016. A Selic cairia apenas em 2017 para chegar a 12,50% no fim do próximo ano. Antes, a expectativa era de 12,75%.
No grupo Top 5, a aposta é de que haja redução de juro ainda neste ano, mas não na mesma magnitude esperada antes. Agora eles veem a Selic chegando a dezembro em 14%, de 13,25% antes.
Economia
Enquanto esperam inflação mais salgada, os analistas veem uma queda de atividade ainda pior em 2016. A mediana das estimativas para o Produto Interno Bruto (PIB) saiu de queda de 3,01% para retração de 3,21%. A expansão de 0,70% esperada para 2017 foi reduzida para 0,60%.
Os primeiros dados econômicos de 2016 divulgados na semana passada indicaram um ano ainda sombrio na economia. A Anfavea, que reúne os fabricantes de veículos, informou que a produção das montadoras caiu 29,3% sobre janeiro de 2015, enquanto as vendas despencaram 39%. Os estoques seguem altos, suficientes para 49 dias de vendas, 19 dias a mais do considerado normal. Acompanhando a retração do setor privado e da demanda das famílias, o consumo de eletricidade caiu 5,7% no mês passado, ante o mesmo período de 2015, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).
Os PMIs dos serviços e da indústria subiram em janeiro, mas seguiram abaixo da marca de 50 pontos, o que mostra que a atividade de ambos os setores continua em retração. No comércio, a atividade caiu 9,6% no primeiro mês do ano, maior tombo desde 2002, segundo a Serasa. Indicadores de mercado de trabalho da FGV sinalizaram continuidade da queda no emprego, embora menos intensa. Ainda no setor privado, os pedidos de recuperação judicial dispararam em janeiro, 112% ante o mesmo período do ano passado. Os de falência aumentaram 4,8%. Para o Itaú, os dados da atividade no último trimestre de 2015 foram piores que o esperado. Com isso e os indicadores antecedentes de 2016, o banco revisou a estimativa para o PIB deste ano de queda de 2,8% para retração de 4%. Para a instituição, a demanda doméstica continuará em queda e a contribuição da demanda externa vai ser limitada. 2018 Os analistas ainda aumentaram a previsão para a inflação em 2018. A mediana das estimativas subiu de 5,20% para 5,25%. Desde o fim de janeiro, tem havido uma maior deterioração das expectativas para o IPCA de dois anos à frente. A mediana saiu de 4,50% para 4,6% em outubro e atingiu 5% no início de novembro, onde ficou até a terceira semana de janeiro. O mercado tem sucessivamente elevado as estimativas para este ano e para 2017. As projeções estão em 7,56% e 6%, respectivamente.
Fonte: Valor econômico
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