A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) planeja lançar no segundo semestre um amplo programa de pesquisa e desenvolvimento (P&D) estratégico voltado para estudos de armazenamento de energia. O objetivo é estimular empresas elétricas e universidades a desenvolverem projetos que evitem ou reduzam problemas no sistema nacional que podem vir a ocorrer principalmente devido à grande concentração de eólicas no Nordeste e ao pico de demanda no período da tarde, no verão. Estima-se que o mercado global de armazenamento energia movimentará cerca de US$ 70 bilhões em 2020.
De acordo com o superintendente de P&D e Eficiência Energética da Aneel, Máximo Pompermayer, a autarquia está trabalhando nos detalhes técnicos do programa, que ainda será levado para apreciação da diretoria.
Pela legislação do setor, as elétricas precisam aplicar entre 0,75% (distribuidoras) e 1% (geradoras e transmissoras) da receita operacional líquida em P&D. Desse total, 40% vão para o programa da Aneel, em qualquer área. Os programas estratégicos, porém, têm tema definido pela agência e podem ser compartilhados entre as empresas. Em 2014 foram submetidos à Aneel 181 projetos de P&D, com investimentos de R$ 646 milhões.
Em nível mundial, os projetos de armazenamento de energia estão cruzando a barreira da pesquisa para a escala comercial. Segundo James Cross, consultor da EA Technology, os líderes no desenvolvimento dessas tecnologias são Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido. Na Europa, o armazenamento é útil, entre outras finalidades, para regularizar a produção de energia de fontes intermitentes, como parques eólicos e solares, cuja instalação cresce em ritmo acelerado, dentro da política de ampliar a fatia de fontes renováveis na matriz energética do continente.
No Brasil, a tecnologia tem potencial para ser aplicada principalmente no Nordeste, onde a eólica já ocupa um terço do parque gerador da região e com tendência de crescimento. Em âmbito nacional, os cataventos respondem por 5,8% da capacidade instalada. “A geração intermitente está crescendo rapidamente no Brasil e deve alcançar participação de 20% a 25% em 2023″, conta Jim Hart, presidente do conselho de administração da recém-criada Associação Brasileira de Armazenamento e Qualidade de Energia (Abaque).
Os projetos de armazenamento de energia também têm potencial de utilização no verão brasileiro, no período da tarde, quando ocorre pico de demanda, devido ao uso intenso de aparelhos de ar condicionado. As baterias, por exemplo, podem injetar energia na rede nesses momentos de maior estresse.
Representantes da Aneel, de empresas, de universidades e centros de pesquisa formaram uma delegação brasileira que viajou ao Reino Unido para conhecer estudos e projetos sobre o setor na região, em missão organizada pelo consulado britânico. Entre as companhias participantes estavam a CPFL, que prevê lançar projeto de P&D em armazenamento no próximo semestre, e a AES, uma das empresas mais avançadas no tema, com 346 megawatts (MW) de recursos de armazenamento em operação, construção ou fase final de desenvolvimento no mundo.
A AES, inclusive, vai inaugurar na próxima semana uma unidade de armazenamento de energia em Belfast, na Irlanda do Norte, com presença prevista do primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron. A unidade, que iniciou o funcionamento no fim de 2015, tem 10 MW em operação comercial e 20 MW em caráter de pesquisa. A companhia ainda planeja ampliar a capacidade do projeto para 200 MW em 2017.
Um desafio para as tecnologias de armazenamento, porém, ainda é o custo. Segundo especialistas, o custo médio dos projetos é de cerca de US$ 1 mil (cerca de R$ 4 mil) por quilowatt (kW) instalado. Para se ter uma ideia, as usinas solares, fonte entre as mais caras em escala comercial no mundo, têm custo estimado entre R$ 3 mil a R$ 5 mil por kW instalado, de acordo com projetos que venceram leilão de energia em agosto, no Brasil.
Mas baterias tendem a ganhar escala e reduzir o custo. Um dos caminhos viáveis no Brasil é competir com as térmicas a diesel e óleo combustível, poluentes e caras, com custo superior a R$ 600 por megawatt-hora (MWh).
Assim como térmicas a óleo, que foram acionadas no horário de pico, em dezembro e janeiro, no Nordeste, os projetos de armazenamento são de rápida resposta. Protótipo instalado na universidade de Manchester, feito em parceria com a Siemens, por exemplo, consegue injetar energia no sistema em apenas 0,7 segundos.
“A bateria vai ganhar escala, assim como ocorreu com energia solar fotovoltaica nos últimos anos”, diz Luiz Ochoa, pesquisador da Universidade de Manchester.
Os projetos de armazenamento mais avançados no mundo são a partir de baterias. Mas outra tecnologia tem atraído a atenção do mercado. São unidades que estocam energia em forma de ar comprimido. O ar é armazenado na forma líquida, em cilindros, a pressão atmosférica e temperatura de quase -200º C. Na prática, quando é necessário, o cilindro é aquecido, provocando a expansão do ar, que move uma turbina acoplada a um gerador, produzindo energia.
Uma usina do tipo, com 5 MW de capacidade, entrará em operação nas próximas semanas nos arredores de Manchester. O projeto, desenvolvido pela Highview Power Storage, tem investimentos de 8 milhões de libras, o equivalente a R$ 45 milhões. A usina aproveitará a queima de lixo para aquecer o ar comprimido, aumentando a eficiência do projeto, de 60% para 80%.
O conceito do armazenamento em ar comprimido foi desenvolvido pelo pesquisador Yulong Ding, que também montou um protótipo na universidade de Birmigham. A instituição está inserida no programa de Aceleração de Pesquisa de Energia (ERA, na sigla em inglês), iniciativa do governo do Reino Unido, em parceria com empresas privadas, para ampliar o ritmo de desenvolvimento de tecnologias de energia limpa. O programa tem 180 milhões de libras (mais de R$ 1 bilhão), sendo 60 milhões de libras fornecidos pelo governo e 120 milhões, pelas empresas.
Integrante do ERA, a universidade de Warwick também lidera consórcio para a criação de um centro de pesquisa de baterias para automóveis, com recursos de 14 milhões de libras (cerca de R$ 80 milhões), em parceria com a Jaguar Land Rover e outras fabricantes. A universidade possui um dos mais avançados laboratórios de fabricação e pesquisa de baterias do mundo, em escala industrial.
Comentário do Presidente da ABRAPCH, Ivo Pugnaloni:
Armazenar energia é muito fácil basta construir hidrelétricas e parar de acreditar em ongs pagas pela indústria de petróleo. E de quebra, nos seus reservatórios criar muitas áreas de preservação permanente, corredores da biodiversidade, empreendedores turísticos, parques ambientais, fazendas de psicultura, sistema de irrigação para fruticultura, gerando milhares de empregos. E ainda acumular água para abastecimento humano das cidades. Mas para armazenar energia na forma de reservatórios é preciso ser patriota, ser brasileiro e deixar de seguir a campanha de dependência do setor elétrico, dos derivados de petróleo importado. É preciso ser forte, portanto,
No comment