A Celesc divulgou na semana passada o balanço financeiro de 2013, ano em que reverteu o prejuízo de 2012 e fechou com um lucro de R$198,9 milhões. O presidente Cleverson Siewert reuniu-se nesta segunda-feira com jornalistas na sede da companhia, em Florianópolis, para apresentar os resultados. Na ocasião, ele não pode deixar de analisar o cenário de incertezas do setor elétrico brasileiro. Siewert diz que é possível garantir a ausência de apagões até 2015 e admitiu que o aumento de custos no sistema será pago pelo consumidor.
O custo da energia térmica e o pagamento da conta pelo consumidor
O sistema energético brasileiro é hidrotérmico, dependente tanto das usinas hidrelétricas quanto das termelétricas. O problema é que o desiquilíbrio no abastecimento hídrico, principalmente em função da escassez de chuvas, exigiu que o sistema acessasse como nunca a energia térmica, mais cara do que a hidrelétrica.
No ano passado, a Celesc gastou R$ 570 milhões a mais com as termelétricas do que o previsto na revisão tarifária da Aneel para aquele ano. E segundo o presidente da Celesc, Cleverson Siewert, o custo extra com energia térmica em 2014 será ainda maior. Está previsto para este ano um gasto extra de R$ 1,1 bilhão, 93% a mais que em 2013.
Para evitar a inviabilidade financeira das companhias de energia, e também o aumento tarifário, o governo federal está pagando a conta, prevendo, contudo, cobrá-la depois do consumidor. Para cobrir os gastos extras deste ano no sistema nacional, o governo fará um aporte total de R$ 12 bilhões para as distribuidoras, sendo R$ 4 bilhões do Tesouro Nacional e R$ 8 bilhões por meio de financiamento.
Como destaca Siewert, de qualquer maneira, é o consumidor quem pagará a dívida, como cliente das distribuidoras ou como contribuinte. A Celesc já recebeu no início do ano um aporte de R$ 66 milhões e está esperando uma segunda parcela para esta semana.
De quanto será o reajuste e quando a conta de luz irá aumentar
O presidente da Celesc concorda com especialistas do setor que o esforço do governo de segurar as tarifas de energia elétrica já gera um descompasso de no mínimo 30% entre o valor que deveria ser cobrado dos consumidores e o de fato praticado.
— E 30% é um aumento bastante razoável. Se você pegar a Cemig (distribuidora de Minas Gerais), há uma semana, o pedido de reajuste tarifário dela foi de 29 e alguma coisa. Todas as companhias estão imaginando um reajuste na ordem de 25%, 30% este ano. Mas o governo tomou a decisão de postergar esses aumentos, fazendo aportes via Tesouro e via empréstimo para que os reajustes venham em doses menos robustas, em um prazo um pouco maior — analisa.
Siewert explica que, conforme definido pela Aneel, o impacto da dívida das distribuidoras com o governo federal vai aparecer na conta de luz somente daqui cinco anos. O aumento, que será anual e escalonado, ainda não foi definido pela agência reguladora.
O reajuste da conta de luz da Celesc no ano passado foi o maior em oito anos, de 12,9%. Na prática, o aumento foi aliviado pela redução do governo federal de 20% na tarifa. Com base nos gastos extras em energia termelétrica no ano passado, a Aneel já aprovou um ponto de partida de 4,6% para os reajustes em 2014. A revisão tarifária da Celesc será em agosto.
Risco de apagão
De acordo com o presidente da Celesc, há dois aspectos a se considerar: a quantidade de energia em relação à demanda e a segurança técnica do sistema. Sob o primeiro ponto de vista, Siewert julgou possível garantir a ausência de apagões no Brasil até o verão de 2015, somente.
— Nós temos cerca 130 mil megawatts/hora instalados (no país) e a demanda máxima chegou perto de 85 mil megawatts/hora. Então há uma grande capacidade ociosa. É claro que com a menor afluência de água isso diminui, e com a má qualidade das usinas térmicas também. Mas mesmo assim, nós temos uma demanda bastante adequada. Agora a carga começa a diminuir, o inverno vem chegando. A tendência é que a gente consiga passar bem pelo ano até o verão que vem — diz.
Já do ponto de vista técnico, o presidente não afastou a possibilidade de acidentes, que, segundo ele, gerariam problemas pontuais, não caracterizados como apagões.
— Não quero desmentir a presidente, mas pode sim bater um raio no sistema, ou acontecer um acidente que provoque queda de energia. Isso faz parte da operação — comenta.
Siewert lembra da queda de energia que atingiu a região Oeste, em julho do ano passado, esta sim definida como apagão. Um defeito na estação de rede básica de Xanxerê deixou 100 municípios sem luz por quase duas horas.
Segundo ele, para evitar a recorrência do problema e garantir a segurança do sistema, a Celesc está inaugurando este ano novas subestações. Xanxerê, por exemplo, vai ganhar em junho uma estação totalmente nova, ao custo de R$ 15 milhões. O presidente afirma que Santa Catarina tem um sistema elétrico mais robusto que a maioria dos Estados, com 16 subestações de rede básica. O Oeste, que hoje só tem um ponto de distribuição de energia, terá três até 2016.
A explicação para o lucro de 2013
Depois de amargar um 2012 com um prejuízo líquido de $ 255,7 milhões, a Celesc encerrou 2013 com lucro de R$ 198,9 milhões. Como destaca o presidente da companhia, um conjunto de fatores explica essa reversão do prejuízo este ano. E o principal deles é a economia de 12,3% com folha de pagamento depois do Plano de Demissão Voluntária (PDV), que contou com a adesão de 753 profissionais.
Siewert atribui o resultado também ao crescimento de 4% na área de concessão da companhia e ao desempenho da geração de energia. Outro fator foi a subida do valor da energia elétrica no mercado livre em 2013. Apesar de ter perdido clientes no ano passado, a Celesc vendeu essa energia excedente no mercado a preços altos.
Fonte: Portal PCH – 02/04/2014
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