RIO – As medidas anunciadas nesta quinta-feira pelo governo federal para socorrer o setor elétrico vão represar um aumento nas tarifas de energia para os consumidores de 24%, que será empurrado para o ano que vem. O gerente de Regulação da Safira, empresa de consultoria e comercializadora de energia, Fábio Cuberos, afirma que o reajuste terá que ocorrer, mesmo que de forma gradual:
– Apesar do financiamento dado agora para as distribuidoras, esses custos serão repassados para as tarifas em algum momento
Conforme cálculos feitos pela Safira, os custos no ano passado com o uso das térmicas e com a compra de energia pelas distribuidoras no mercado à vista — cerca de 3.500 Megawatts (MW) — , foram de R$ 9,6 bilhões e representaram um impacto nas tarifas de 8%. O governo tinha acertado que esse repasse seria feito em cinco anos a partir de 2014, o que acabou não acontecendo.
E para este ano as estimativas são de um gasto de R$ 18 bilhões entre geração térmica e compra de energia no mercado livre. A despesa acrescentaria mais um impacto de 15% nas tarifas, que deveria ser repassado a partir de 2015.
– O problema é que as tarifas vão começar a aumentar em algum momento, partindo já de uma base bem mais elevada — disse Cuberos.
O coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da UFRJ, Nivalde de Castro, disse não estar preocupado com o adiamento do repasse:
– O mercado é regulado, cativo, tem condições de manter esse passivo e amortecer a longo prazo. O que preocupa é a baixa hidrologia e os preços absurdos da energia no mercado livre.
A eficácia do socorro de R$ 12 bilhões para as distribuidoras neste ano vai depender do sucesso do leilão de energia que será realizado no próximo mês, segundo Fábio Cuberos:
– Se as distribuidoras conseguirem contratar toda energia que hoje compram no mercado livre, pode ser que não seja necessário todos esses recursos. Caso contrário, esse volume poderá ser insuficiente.
Castro tem dúvidas quanto ao sucesso do leilão.Segundo ele, as empresas geradoras poderão não ter interesse em ofertar energia, para poderem continuar vendendo a um preço elevado no mercado livre (atualmente em R$ 822 o megawatt/hora).
Gabriel Leal de Barros, especialista em contas públicas do IBRE/FGV, diz que a conta de energia é a despesa que mais põe em risco as contas públicas deste ano. Ele acredita que o valor deve ficar bem acima do que já foi anunciado e reduzir o superávit primário, economia que o governo faz para pagar os juros da dívida.
– O mercado já trabalha com a hipótese de que o gasto fique acima dos R$ 18 bilhões e, para este cenário, minha projeção é um superávit primário de 1,3% do PIB, abaixo da meta de 1,9% anunciado pelo governo.
A professora Margarida Gutierrez da Coppead/UFRJ também vê impacto negativo:
– Quem paga essa fatura: o governo ou o consumidor. Se a conta não vai para o consumidor alivia a inflação, mas arrebenta as contas públicas. Não tem saída e já está todo mundo desconfiando do cumprimento da superávit primário de 1,9% do PIB.
Fonte: OGlobo – 14/03/2014
Comentário do Instituto Ilumina: Não há nenhuma novidade no que foi anunciado pelo governo. Nenhuma medida energética foi citada. Continuamos consumindo MWh a R$ 822,00. O ILUMINA considera no mínimo uma falta de respeito com o cidadão que tantas autoridades não consigam preparar um gráfico tentando deixar mais claros os fluxos inventados para dar mais um “jeitinho” no labirinto que se criou no setor elétrico. Com tantos assessores?
Não satisfeitos com o já confuso organograma das relações institucionais do modelo de mercado imaginado no governo FHC e mantido no governo Lula e Dilma, agora entram dois novos personagens fatores de custo. Os Bancos não iriam perder essa festa e já se preparam para “morder” um pedaço desse bolo e chegam com sua taxa de juros. Taxa essa indiretamente dependente da própria trapalhada elétrica, uma vez que o equilíbrio fiscal está em curto circuito.
A CCEE, logo a entidade que não tem ativo, pois é uma mera contabilista de contratos virtuais e medições físicas, vai proporcionar que paguemos tarifas jogadas para o futuro infladas com juros. Ninguém nos perguntou se essa é a opção dos pagantes. Simplesmente, olharam o fundo do poço do tesouro, consideraram o ano eleitoral e decidiram.
O presidente da EPE declara para os desinformados ouvintes que fez um leilão baseado numa projeção do PLD, que, por construção, tem uma enorme variância. Além, disso, ao propor um leilão extra aceitando preços muito maiores do que o custo de uma nova usina, a eminente autoridade está implicitamente admitindo que a expansão adotada não obedeceu ao critério vigente.
O buraco decorrente do modelo mimetizado já chega a R$ 30 bilhões, a Eletrobrás está praticamente falida e ninguém vai ao centro do problema. Vamos repetir aqui o que já dissemos muitas vezes e, infelizmente, nem a imprensa que poderia alertar a sociedade, consegue entender:
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As garantias físicas de todas as usinas do sistema estão infladas. Essa conta é um cálculo de escritório dependente de critérios. O balanço entre oferta e demanda mencionado pelo secretário do MME é ilusório. FALTAM USINAS!
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O preço praticado no mercado livre é artificial. Não corresponde à mecanismos de oferta e demanda genuínos. Ali é possível assistir, passivamente, MWh ser liquidado por R$ 6 e alguns meses após, custar R$ 822. Os MWh a R$ 6 não existem em nenhum mercado spot no planeta.
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Bastaria não permitir que agentes consigam comprar energia abaixo do custo de produção para ter um fundo que pagasse os períodos de seca. Mas o mercado livre é secreto.
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Para consertar isso é preciso ir à raiz do modelo. O que está implantado NÃO É COMPATIVEL COM O NOSSO SISTEMA FÍSICO.
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