Atualmente, as PCHs representam 3,5% e as CGHs correspondem a 0,2% da capacidade instalada da matriz energética nacional.
"Já passou da hora da nossa fonte ter seu devido lugar na matriz". Alessandra Torres de Carvalho, vice-presidente da Associação Brasileira de Pequenas Centrais Geradoras Hidrelétricas e Centrais Geradoras Hidrelétricas (ABRAPCH), é uma ativista pelo desenvolvimento das PCHs e CGHs no Brasil e no mundo. Geógrafa formada pela Universidade de Brasília (UnB), atuou no setor de Concessões e Autorizações da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) durante sete anos.
A atuação no setor de PCHs e CGHs começou em 2007, quando se tornou consultora de PCHs. Em 2016 assumiu a vice-presidência da ABRAPCH, cargo que ocupa até os dias atuais. Ao longo de mais de uma década no setor, ela destaca que, por muitos anos, os governos optaram por deixar as fontes PCHs e CGHs preteridas e engavetadas, o que dificultou a representatividade da fonte na matriz energética brasileira.
“Nossas ações têm sido no sentido de conseguir isonomia com outras fontes renováveis, aumentar o volume de contratações no ambiente regulado, preço-teto exequível e maior agilidade nas análises das licenças ambientais dos empreendimentos”, diz Alessandra. A executiva ressalta que o Brasil é um país de vocação hídrica, que tem uma matriz “invejada” pelo mundo todo. “Temos características técnicas diferenciadas, impacto ambiental bem menor, mas tanto as grandes, quanto as pequenas hidrelétricas, são indispensáveis”, diz.
Energia hídrica
Na visão da vice-presidente da ABRAPCH, as hidrelétricas sofreram um processo de “demonização” no Brasil, originado por interesses econômicos “A grande maioria da população desconhece o verdadeiro valor destes empreendimentos”, diz Alessandra. Ela afirma que as PCHs ajudam o meio ambiente de várias maneiras, desde a criação e o cuidado com as áreas de preservação permanente, até a remoção do lixo que desce pelos rios até as grades das usinas, evitando que toneladas de lixo cheguem ao mar.
As PCHs têm a maior vida útil do setor elétrico: algumas geram energia há 140 anos. Alessandra explica que a fonte é a única que reverte os bens para a União, ou seja, depois de uma autorização de 30 anos, que pode ou não ser renovada, o governo ainda pode relicitar e receber nova remuneração. “Além de ter menor custo global para o consumidor, estando localizadas, em sua grande parte, próximas aos centros de consumo, trazem vários os benefícios para o consumidor brasileiro que não sabe sobre o tema”, ressalta.
Para ela, o momento é de conversar com a sociedade sobre quais os prós e contras de todas as fontes energéticas disponíveis, qual o real custo-benefício de cada uma delas, e suas respectivas linhas de transmissão. Atualmente, as Pequenas Centrais Hidrelétricas são responsáveis por cerca de 3,5% de toda a capacidade instalada do sistema interligado nacional. “Esse número pode ser bem melhorado. Temos inventariado na Aneel um volume aproximado de 17GW de PCH e CGH, o que é bem expressivo”, explica Alessandra.
Desafios
O maior desafio para a implementação de PCHs e CGHs no Brasil, segundo Alessandra, é mostrar os benefícios dessas fontes. “O primeiro grande desafio é mostrar à sociedade brasileira que o Brasil é um país de vocação hídrica e que as hidrelétricas são benéficas para o país. Outro desafio que temos enfrentado é estabelecer diálogo com os órgãos ambientais e governamentais”, afirma. Apesar dos entraves, ela destaca que, aos poucos, a Associação tem conquistado espaço para debater o assunto.
Atualmente, as Centrais Geradoras Hidrelétricas são responsáveis por cerca de 0,2% da matriz energética do país. Aumentar a representatividade da fonte no país é um dos objetivos da ABRAPCH. Alessandra ressalta que, assim como as PCHs, o desenvolvimento das CGHs ainda sofre com entraves ideológicos. “precisamos destravar uma agenda ambiental que tem um imenso passivo. Temos que neutralizar a atuação de ONGs com ideologia equivocada, promover contratações mais expressivas no mercado regulado e ter mais linhas de financiamento à disposição dos empreendedores”, ressalta.
O maior volume de PCHs e CGHs está nas regiões Centro-Oeste, Sul e Sudeste. Alessandra destaca que esses empreendimentos estão implantados em locais estratégicos, em grandes centros de consumo de energia. “Isso evita longas linhas de transmissão e, nesse caso, quem paga é o consumidor”, dispara.
“O Brasil é um país de vocação hídrica. Nossa matriz é invejada pelo mundo todo. PCHs e CGHs têm características técnicas diferenciadas, baixo impacto ambiental, mas tanto as grandes, quanto as pequenas hidrelétricas são indispensáveis.”
Perspectivas
Apesar de representarem uma parcela pequena na matriz energética brasileira, as PCHs e CGHs apresentam um grande potencial gerador de energia. Alessandra mostra otimismo e traça boas perspectivas para o futuro das fontes. “O mundo passa por um momento em que a água está sendo discutida e valorizada. A ideia de gestão correta de resvatórios está se fixando. O brasileiro não aguenta mais pagar uma conta de energia tão alta”, diz Alessandra.
A executiva destaca que a matriz energética brasileira aumentou em 700% as emissões de Gases de Efeito Estufa so dentro do setor elétrico, segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Nesse cenário, a fonte foi pouco espaço ao longo dos últimos 15 anos, mas acreditamos em melhorias através do novo governo”, diz Alessandra.
Segundo ela, investir na implantação de PCHs e CGHs significa fomentar o desenvolvimento social no país e do setor elétrico. Estudos apontam que, para cada MW instalado, são criados aproximadamente 60 empregos diretos e indiretos. “Isso movimenta todo o comércio nos municípios, compensação financeira pelo uso dos recursos hídricos, além de promover o turismo nos lagos dos reservatórios”, completa.
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