RIO e BRASÍLIA – Com o baixo nível dos reservatórios e a previsão de poucas chuvas para o período de seca que se estende até setembro, especialistas já começam a se preocupar com os meses que antecedem a Copa do Mundo e com aqueles que a sucedem. Por enquanto, não há preocupação quanto ao abastecimento de energia durante o Mundial. Mas há o temor de um “estresse pré-Copa”, com um maior consumo de energia pela indústria, que deve antecipar a produção de alimentos, bebidas e outros bens não duráveis para compensar os dias parados com os feriados no período dos jogos.
Se a realização dos jogos da Copa está garantida — graças ao esquema montado pelo governo com a Fifa, que inclui, entre outros equipamentos, a instalação de geradores nos estádios — fontes do setor elétrico demonstram preocupação com o “dia seguinte” ao Mundial, caso o governo abuse do nível dos reservatórios antes e durante o evento. Segundo consultorias, se for inevitável, quanto mais tarde um racionamento for decretado, mais severo ele seria para o país.
Os jogos são a receita para um maior consumo de água, cerveja e petiscos. Por isso, o setor de alimentos e bebidas deve antecipar a produção. O grupo cearense Edson Queiroz, fabricante das marcas de água mineral Minalba e Indaiá, tem plano para aumentar a produção e garantir o abastecimento do varejo no torneio.
— Durante a Copa, haverá aumento do consumo flutuante. Por isso, coordenamos o trabalho nas fábricas, para que não falte produtos nos pontos de venda — disse Camila Coutinho, gerente nacional de Marketing para as marcas Indaiá e Minalba.
E há um temor com possíveis protestos durante a Copa.
— As indústrias já negociam com o atacado para que as mercadorias estejam nos depósitos até maio — disse o presidente da Associação Brasileira de Atacadistas e Distribuidores de Produtos Industrializados (Abad), José do Egito Frota Lopes Filho.
É essa conjunção de fatores que preocupa Mikio Kawai, diretor da Safira Energia:
— Durante a Copa, o consumo de energia deve cair, devido aos feriados. Há o risco de um estresse pré-Copa, justamente porque não chove, e as indústrias devem consumir mais, para alavancar a produção.
Esquema especial para a Copa
Na Copa, mesmo em caso de racionamento, uma rede de geradores permitirá que os estádios e a transmissão de informações operem de maneira independente da rede básica que atende às cidades-sede. Apesar disso, há aposta de que, mesmo se for necessário, o governo não decretará racionamento durante o evento.
Entre os compromissos assumidos pelo governo na sua proposta para sediar a Copa, está o fornecimento de energia aos estádios em sistema de dupla alimentação. Geradores e baterias vão assegurar a realização de jogos e a transmissão, mesmo na hipótese de falta de luz.
Há previsão de dois sistemas de geradores para suprir essa necessidade. O primeiro prevê equipamentos para atender à transmissão de dados e ao Centro Internacional de Transmissão (CIT) no Rio, onde a operação será compartilhada com a Light. A Fifa contratou o serviço com a multinacional Aggreko, com custo de R$ 47 milhões. A multinacional já forneceu esse serviço à Fifa na Copa da África do Sul, em 2010, e em Jogos Olímpicos.
O segundo sistema, que vai atender aos estádios, ainda não teve contratação formalizada em todas as cidades-sede.
Fonte: OGlobo – 16/03/2014
Comentário do Instituto Ilumina
A reportagem mostra a foto usina de Marimbondo que hoje está com nível de 27, 5% e está com o vertedouro fechado há 3 anos. O ILUMINA já tinha alertado que o percentual de vertimento de todo o sistema interligado não ultrapassa 3,5% desde 2004. Essa conta, que inclui vertimento eventuais e obrigatórios, é uma prova de que, há pelo menos 10 anos, não estamos conseguindo encher os nossos reservatórios. O gráfico abaixo mostra que essa situação ocorreu mesmo durante o ano de 2011, quando a energia natural (afluências) chegou a 120% da média de longo termo.
Esse dado é mais uma prova de que, dado o atraso de obras, o abandono de outras opções menos capital intensivas como PCH e Solar, o tardio acordar para as eólicas, sobrou a expansão predominantemente térmica.
Quando isso ocorre, o modelo mercantil brasileiro, mimetizado de sistemas térmicos, prega uma peça nas hidráulicas. Como a “festejada” oferta de mais de 120 GW contabiliza “garantias físicas” dessas caras usinas, que podem ser tudo menos físicas, quem gera no lugar delas são as hidráulicas. Por isso a estranha proporção do gráfico abaixo.
Independente de São Pedro, essa é a receita para esvaziar reservatórios.
Quer uma explicação mais detalhada?
A pergunta, óbvia pela leitura da reportagem, é: Quem vai pagar a conta dos geradores da copa?
Fonte: Instituto Ilumina – 16/03/2014
Comentário de Ivo Pugnaloni – ABRAPCH
Até que enfim, conseguimos.
Agora quem sabe, a grande imprensa e o ILUMINA começarão a entender que existem PCHs e que seus projetos estão prontos, parados, esperando só o ministério de minas e energia querer que 7.000 MW deles sejam aprovados pela ANEEL e que outros 2.000 MW possam ser comprados pela EPE por 165,00/MWh, ao invés de termos que pagar 800,00/MWh para termoelétricas que deveriam funcionar “de vez em quando” , mas funcionam o ano inteiro.
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