Copel cria comercializadora de energia

Depois de ter sido uma das pioneiras no mercado livre de energia elétrica, em 1998, e de o ter abandonado, em 2003, a Companhia Paranaense de Energia (Copel) volta a participar ativamente desse mercado competitivo de compra e venda com a criação da Copel Comercialização, instituída nesta quinta-feira, dia 28 de janeiro. A nova empresa surgiu em decorrência de uma alteração do estatuto da Copel Participações S.A., cujas funções serão assumidas pela Diretoria de Finanças e Relações com Investidores da Companhia. O quadro de diretores da empresa também permanece o mesmo, tendo à frente o ex-ministro Reinhold Stephanes.

A Copel distribuiu um comunicado à imprensa, em 29 de janeiro, contendo o argumento do seu presidente, Luiz Fernando Vianna. Na sua avaliação, a instituição de uma comercializadora pretende reforçar o posicionamento da Copel no mercado e permitir uma maior agilidade e flexibilidade na comercialização. “Hoje, o setor elétrico apresenta uma grande especialização na atividade de comercialização de energia, e nós precisávamos atender a esta necessidade, sob pena de perder uma grande fatia de mercado”, afirmou, ressaltando ainda o fato de a nova organização ter sido criada a partir da remodelação de uma estrutura já existente.

O papel de Luiz Fernando Vianna na volta da Copel para o mercado livre foi fundamental. Afinal, como presidente da Associação Brasileiras dos Produtores Independentes de Energia (Apine), durante mais de 10 anos, ele conviveu intensamente com o mercado livre e estava a alguns anos-luz de distância das desconfianças e dos preconceitos ideológicos que travaram a Copel durante os longos anos da gestão de Requião. Quando este deixou o Governo, em Curitiba, o retorno da Copel ao mercado competitivo de compra e venda de energia elétrica era considerado apenas como questão de tempo, o que se configurou agora. 

O envolvimento da Copel com o mercado livre de energia começou em julho de 1998, quando foi constituída, em Curitiba, a comercializadora Tradener. Nessa nova empresa, a Copel era o acionista majoritário, com 45% das ações, enquanto a Logos Engenharia e a DGW tinham, cada, 27,5%. A DGW é uma empresa pertencente aos empresários Donato Gulin e Walfrido Avila, que, com a saída da Copel e da Logos — alguns anos depois — passaram a controlar a Tradener.

A saída da Copel da Tradener, em março de 2003, foi traumática. Embora a Tradener tivesse os méritos de ter sido a primeira comercializadora constituída no País e, um ano após a sua criação, tenha participado da assinatura do primeiro contrato de comercialização envolvendo um consumidor livre (foi o momento em que a paulista Carbocloro Indústrias Químicas passou a ser suprida pela energia produzida pelo braço de geração da Copel), transformando-se depois em uma das principais operadoras do mercado livre brasileiro, isto era insuficiente para o então governador do Paraná, Roberto Requião.

A Copel é uma estatal estadual e Roberto Requião era não apenas adversário do ex-governador Jaime Lerner, mas, também, era um inimigo de primeira linha do mercado livre de energia. Por falta de conhecimento e por motivos ideológicos, ele confundia a atividade do mercado livre com especulação. Houve vários atritos, até que, em março de 2003, deu-se o rompimento entre os sócios da Tradener, o que acabou na Justiça. Segundo Walfrido Avila, em todas as instâncias da Justiça o resultado foi o ganho de causa para a Tradener e seus controladores.

Para a Copel, hoje, o mercado livre de energia passa por uma fase de instabilidade, tendo apresentado grandes oscilações de preço em 2015. O descompasso entre os preços da energia no mercado livre e no regulado acelerou a migração de empresas para o mercado livre em todo o país. “Hoje 30% da energia no Brasil já é comercializada no mercado livre, e a tendência é que chegue próximo a 100% nos próximos quatro ou cinco anos”, explica Reinhold Stephanes, diretor-presidente da Copel Comercialização.

“A participação atual da Copel no mercado livre é muito discreta, e com esta estruturação ela passa a competir neste mercado, num primeiro momento para evitar a perda de clientes, e em seguida, para efetivamente tomar parte no mercado de compra e venda de energia”, complementa.

O deslocamento das funções da Copel Participações para a diretoria financeira também era uma necessidade da empresa, segundo Stephanes: “A atual Copel Participações tinha como objeto principal a gestão destas empresas, embora boa parte das participações da Copel continuassem a ser geridas pelas nossas subsidiárias de geração e de energias renováveis. Com a mudança, nós passamos de um modelo de gestão para um modelo de controladoria, aperfeiçoando e ampliando a efetividade do controle sobre as participações”.

A definição da nova estrutura de controle das participações se dará nos próximos meses. Durante este período, as atividades da antiga Copel Participações ficarão a cargo da nova comercializadora.

Fonte: ParanoáEnergia

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