O Brasil continua sendo um mercado importante para a Voith, fabricante de turbinas, especialmente para hidrelétricas, ainda que o mercado esteja apresentando um cenário desfavorável para o setor, segundo o presidente da companhia, Marcos Blumer. Apesar disso, a empresa considerou positiva a evolução de um segmento, o de PCHs, de modo que a companhia se prepara para avançar no fornecimento de equipamentos.
“Este é um mercado estratégico para nossa empresa”, disse Blumer, em entrevista por e-mail à Brasil Energia. Outra oportunidade à vista é o da repotenciação de equipamentos hidrelétricos, especialmente após a entrada em vigor da MP 688, posteriormente convertida em lei. Leia abaixo a entrevista na integra.
Quais as perspectivas da Voith para o mercado hidrelétrico para os próximos anos?
Acreditamos que as hidrelétricas ainda são a fonte de geração de energia renovável mais confiável e a única capaz de atender no longo prazo com um fornecimento elétrico de baixo custo e no volume necessário, a demanda de eletricidade que sustentará a retomada do crescimento do país nas próximas décadas. É justamente por esta razão que o Brasil e a América Latina continuam sendo um mercado importante para a Voith.
O governo reduziu a perspectiva de novas hidrelétricas na edição mais recente do Plano Decenal. Isso significa que os fornecedores de equipamentos hídricos já podem buscar outros países como forma de manter a atividade industrial ativa?
Isso já está ocorrendo, não só com os fornecedores para a geração hidrelétrica como também em outros setores da nossa indústria. Com o cenário adverso no Brasil, o câmbio se tornou favorável à exportação e empresas como a Voith têm se mantido ativas neste quesito.
Porém, é importante ressaltar que a estratégia de aumentar a nossa participação em outros países da América Latina, que é o nosso mercado delimitado pela Voith, faz parte de uma estratégia de longo prazo e não de um movimento de substituição de mercado em época de crise e com base numa situação de volatilidade no câmbio. Como uma empresa que tem suas raízes europeias, efetuamos um planejamento de longo prazo quando decidimos por se instalar ou atuar em algum novo mercado ou região.
A Aneel recentemente mudou regras para análise de PCHs e as CGHs poderão participar dos leilões de energia? Qual a projeção da Voith para um eventual crescimento deste mercado e qual a meta de vendas?
O processo para participar no próximo leilão (A-5/2016) foi facilitado e o número de PCHs cadastradas foi surpreendentemente positivo. O mercado de pequenas centrais hidrelétricas (PCH) está retomando a marcha e a Voith está preparada para atender a esta demanda. Este é um mercado estratégico para nossa empresa e, portanto, teremos ações mais focadas neste segmento ao longo dos próximos anos.
Além de novas usinas, existe um parque gerador que deve passar por processo de modernização. Como a Voith está enxergando o segmento de retrofit?
A maioria das usinas hidrelétricas em operação no país foi construída nas décadas de 1950, 1960 e 1970. Em média, após 30 a 35 anos de funcionamento, os principais equipamentos dessas usinas entram no que se chama de “idade crítica”, necessitando de, no mínimo, uma reabilitação. Estima-se que dos cerca de 84.000 MW de potência instalada nas usinas hidrelétricas, 28.000 MW (33%) sejam em usinas com mais de 30 anos de funcionamento e outros 20.000 MW (24%) em usinas entre 20 e 30 anos de idade. Dessas, mais de 100 usinas (15.000 MW) já deveriam ter sido modernizadas com base na vida útil e idade crítica dos equipamentos.
A modernização permite a revitalização do parque gerador em funcionamento, com ganhos de eficiência, aumento de geração, preservação do patrimônio público e redução do risco de falta de energia repentina com custos reduzidos de implantação quando comparados a projetos novos. Essas vantagens somam-se, principalmente, mas não exclusivamente, ao fato de não necessitar de novas barragens (represas). Com a recente aprovação da MP 688 e com o risco hidrológico mais equalizado, bem como o sucesso no leilão de concessões antigas, podemos dizer que se abre uma nova janela de oportunidades neste segmento. A Voith é referência em modernização de usinas hidrelétricas e pretendemos continuar apoiando nossos clientes neste segmento.
A elevada restrição ambiental tem retardado projetos hidrelétricos. De que modo a Voith tem se protegido contra esse cenário?
As dificuldades ambientais podem atrasar os projetos, porém, mais do que o atraso em si, entendemos que as diversas partes que compõem um empreendimento devem aplicar as melhores tecnologias e boas práticas de engenharia de forma a mitigar os efeitos ambientais. Quando se observa a matriz energética de um país, devemos buscar no conjunto das alternativas disponíveis qual o conjunto de soluções que produz o menor impacto ambiental.
Quando se olha para esta perspectiva, existe espaço para o crescimento de energias alternativas como a eólica e solar na nossa matriz, mas também parques de energia eólica e solar têm impactos no meio ambiente e a produção de energia é flutuante. Portanto, não podemos abrir mão da hidrogeração como base na nossa matriz elétrica. Ela é que vai dar a segurança necessária e a estabilidade ao sistema. Não se pode imaginar um país como o nosso simplesmente abrindo mão desta eficiente fonte renovável de energia.
A Voith, por sua vez, tem buscado aprimorar o desenvolvimento tecnológico de seus produtos e soluções com, por exemplo, turbinas mais eficientes, atuando também no segmento de PCH e minigeração, além de disponibilizar no seu portfólio uma linha de turbinas ecológicas fish friendly, que reduzem a lesão e mortalidade de peixes que passam pelo equipamento.
Que projetos hidrelétricos a Voith tem especial interesse em fornecer equipamentos?
A Voith atua praticamente em toda a cadeia do segmento de hidrogeração, desde o fornecimento de usinas completas com relação ao pacote eletromecânico, com serviços de supervisão e montagem, auxiliares elétricos e mecânicos, além de fornecimento de pequenas centrais elétricas e pacotes de automação e controle. Atuamos também na área de modernização e pós-venda com uma ampla gama de produtos e serviços, incluindo a nossa Hydro School to Market (treinamentos especializados voltados ao mercado no segmento em que atuamos).
Nos interessa estar em toda esta cadeia, desde projetos de grande envergadura como a nova fronteira na região Norte do país, nas modernizações com que passará o setor nos próximos anos, bem como no segmento de mini geração com o nosso novo lançamentoStreamDiver.
O StreamDiver é uma turbina compacta e ecológica projetada para ser utilizada onde usinas hidrelétricas convencionais podem ser inviáveis. No mundo inteiro, existem aproveitamentos a fio d’água de baixa queda e alto potencial energético que praticamente não podiam ser explorados até o momento. Foi com o objetivo de aproveitar esse potencial ainda muito pouco explorado, que a Voith desenvolveu, em cooperação com a sua subsidiária Kössler na Áustria, o equipamento, que limita os trabalhos de construção civil ao mínimo.
A unidade geradora é instalada diretamente na água. Só é possível ver um cabo elétrico saindo da máquina. Todo o trem de acionamento, constituído pela turbina, eixo, mancais e gerador, estão localizados em uma carcaça do tipo bulbo, preenchido com água, que lubrifica os mancais completamente e elimina qualquer risco de contaminação da água.
Embora a hidreletricidade seja responsável pela maior parte da geração de energia renovável do mundo, ainda existe muito potencial a ser explorado. Até recentemente, as usinas a fio d’água com baixas quedas eram vistas como antieconômicas e, muitas vezes, permaneciam inexploradas. Sua configuração e suas características ecológicas tornam esta unidade geradora especialmente atraente em locais onde já existem açudes ou barragens.
Fonte: Brasil Energia
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