O setor energético brasileiro enfrenta, desde 2013, um dos períodos mais estressantes da última década e um dos mais complicados da história do país. As escassas chuvas dos últimos anos resultaram em baixos níveis de armazenamento dos reservatórios das hidroelétricas, exigindo assim o acionamento das usinas termoelétricas, com custo mais elevado, que, associado às ações “desastrosas” do Governo Federal, impactaram em excessivos aumentos no custo da energia elétrica para o consumidor, que em muitos casos superaram facilmente o valor de 50% em relação a tarifa anterior.
O ano de 2016 começou mais favorável para os reservatórios, com o valor de Energia Natural Afluente – ENA de 127% da Média de Longo Termo – MLT nas bacias das regiões Centro-Oeste e Sudeste. Em termos de comparação, em janeiro de 2014, este mesmo fator era de 53,48% MLT, sendo que, em 2015, o mesmo índice caiu para 38,05%. Já o mês de fevereiro, de acordo com o ONS (Operador Nacional do Sistema), este índice era de 59,10% ante 38,18% em 2014.
Porém, essa elevação ocorreu em virtude de chuvas mais intensas, o que não vinha ocorrendo nos últimos anos, e não por ações assertivas e planejadas. Ou seja, o “acaso” ajudou o setor elétrico. Digo isso porque, na ausência de um planejamento integrado bem estruturado, com o foco principal na diversificação da matriz energética e fiscalização das obras, o setor energético brasileiro apostou na "fé" de que não haveria desabastecimento, ao ponto de uma autoridade dizer isso publicamente.
O que vemos é uma somatória de acasos que "aliviaram" a crise energética, mas não a solucionaram e nem pode-se dizer que foi a melhor forma para tal objetivo. De fato, o Brasil recebeu um grande volume de chuvas durante o primeiro trimestre deste ano. Somamos a isso, uma forte desaceleração econômica, o que reduziu consumo de energia por parte das industrias, e, por sua vez, os consumidores residenciais baixaram o consumo de energia, em decorrência do aumento expressivo das tarifas, em cerca de 70%.
O que vemos e vivenciaremos nos próximos anos, entre declarações de autoridades e dados numéricos, foi uma sequência de ações que apenas expuseram a vulnerabilidade do setor energético brasileiro, demonstrando necessidade de se aprimorar o planejamento existente no sentido de integrar os diversos agentes do setor (geradores, distribuidores, transmissores, consumidores e comercializadores), bem como a necessidade do aprimoramento da fiscalização de obras, empreendimentos, etc., de modo a promover uma maior diversificação na matriz energética e estabilidade regulatória no setor. Ao depender estritamente de chuvas para gerar energia, o Brasil se coloca em posição de inferioridade a diversos países emergentes, que colocam o futuro à frente do presente e prevê todos os percalços que podem ocorrer em médio e longo prazo.
Fábio Cuberos é gerente de regulação do Grupo Safira Energia, mestre em Sistemas de Potência dos Mecanismos de Mitigação de Riscos do Mercado de Distribuidoras pela USP (Universidade de São Paulo)
Fonte: Canal Energia
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