Acionistas avaliam comprar produção de Belo Monte

Os acionistas da Norte Energia, dona da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, estudam a possibilidade de eles próprios comprarem o bloco de energia descontratada da usina, de 914 megawatts (MW) médios, na proporção da participação de cada um na companhia. Segundo o diretor de Operação da Chesf, uma das acionistas, e integrante do conselho de administração da Norte Energia, José Ailton de Lima, a compra desse volume de energia, pelo período de 30 anos, pode custar aos sócios algo entre R$ 25 bilhões e R$ 30 bilhões.

 

De acordo com o executivo, a medida, que ainda encontra resistência por parte de alguns acionistas, poderá destravar a última tranche, no valor de R$ 2 bilhões, do financiamento firmado com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a construção da usina, de 11.233 megawatts (MW) de capacidade.

 

O bloco de 914 MW médios é referente à parcela de 20% da energia de Belo Monte destinada ao mercado livre e que até hoje não foi negociada. Para liberar os recursos, o banco estatal exige, em contrato, que seja apresentado um acordo de venda dessa energia por R$ 185 o megawatt-hora (MWh). No mesmo contrato com o banco, há uma cláusula que prevê a liberação de apenas R$ 1 bilhão, caso essa energia seja vendida a R$ 165/MWh.

 

Ao comprar essa energia, na prática, os acionistas podem vendê-la futuramente no mercado livre. O risco, porém, é de não encontrar comprador ou vender a energia por um preço mais baixo.

 

Segundo Lima, esse impasse foi o motivo da desistência da Norte Energia do leilão "A-5", marcado para esta sexta-feira, conforme antecipado na última semana pelo Valor. O preço-teto para a energia de Belo Monte no leilão era de R$ 115/MWh, longe, portanto, da cifra necessária para destravar os recursos do BNDES.

 

A Eletrobras e as subsidiárias Eletronorte e Chesf, que possuem 49% da Norte Energia, são favoráveis a proposta que está na mesa. "Esse é um caminho. Mas há uma corrente contrária", disse Lima.

 

Segundo ele, essa alternativa tem impacto negativo menor do que vender o bloco de energia no "A-5". Lima acrescentou que o grupo Eletrobras não tem interesse em comprar o volume descontratado que não for adquirido pelos demais sócios, conforme tem sido proposto por alguns acionistas.

 

Enquanto não há uma definição, os acionistas continuam tendo que fazer aportes mensais no projeto. Em maio, eles terão que desembolsar R$ 450 milhões para pagar as contas do mês de abril.

 

"Hoje a Norte Energia não tem um orçamento anual aprovado. A administração vive apenas com o horizonte mensal", disse Lima. "O problema é que a obra ainda precisa de recursos. Tem todo o custo da montagem das máquinas ainda", completou ele, lembrando que ainda serão instaladas 17 turbinas na casa de força principal e cinco na unidade complementar. A primeira turbina de Belo Monte, de 611,1 MW de capacidade, entrou em operação na última semana, conforme antecipado pelo Valor.

 

A Chesf possui 15% da Norte Energia. Os demais sócios são as estatais Eletronorte (19,98%) e Eletrobras (15%); os fundos de pensão Petros (10%) e Funcef (10%); as elétricas Neoenergia (10%) e Amazônia (joint-venture entre Cemig e Light, com 9,77%); a Aliança Norte Energia (formada por Vale e Cemig, com 9%); a Sinobras (1%) e a J. Malucelli Energia (0,25%).

 

Fonte: Valor Econômico

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