A meta assumida pelo governo brasileiro na 21ª Conferência das Partes da Organização das Nações Unidas (COP21) de alcançar 10% de ganho de eficiência no setor elétrico até 2030 pode ter um efeito redutor de 17% nas tarifas de energia no período. O cálculo faz parte de estudo do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), feito pela consultoria PSR, lançado ontem. O estudo conclui ser possível alcançar uma economia de energia maior que a prevista pelo governo e obter redução tarifária de até 27%.
"Com o crescimento esperado do mercado até 2030 (de quase 60%), as ações de fomento à eficiência energética podem trazer um benefício direto para a sociedade pela redução média das tarifas entre 17% e 27%", diz o estudo.
O trabalho parte da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na sigla em inglês) feita pelo governo brasileiro na COP21, em novembro de 2015, de obter 10% de ganhos de eficiência no setor elétrico nos próximos 15 anos, sem nenhum estímulo adicional. Esse potencial de conservação de energia estaria distribuído em 44% para o setor industrial; 29% para o residencial; e 25% entre setores comercial, público e de serviços.
O estudo então contemplou três cenários de conservação de energia até 2030: de 10%, 15% e 20%. Partindo de um custo operacional total do setor do Sistema Interligado Nacional (SIN) de R$ 112 bilhões, um ganho de eficiência de 10% resultaria em uma redução de custos de R$ 27 bilhões (24%) e em uma redução tarifária de 17%.
Em um cenário de 15% de economia de energia, a redução de custos operacionais do sistema seria de R$ 34 bilhões (30%) e redução tarifária, de 21%. Considerando uma eficiência mais alta, de 20%, a queda dos custos operacionais alcançaria R$ 43 bilhões (38%), traduzindo-se em uma redução tarifária de 27%. Estes dois últimos cenários dependem da decisão do governo de criar estímulos à eficiência energética.
O estudo também considerou o efeito do ganho de eficiência na diminuição da necessidade de investimentos para ampliar a capacidade de geração de energia do país. No cenário de 10% de conservação de energia, a necessidade de investimentos em nova capacidade cairia 42%, gerando um benefício líquido de R$ 58 bilhões.
Considerando 15% de conservação, a queda é de 54%, com benefício líquido de R$ 70 bilhões. No cenário mais ousado, de 20% de eficiência energética, ocorreria uma redução de 72% da necessidade de novos investimentos, com um benefício líquido de R$ 90 bilhões.
"Esse [o estudo] é o resultado de algumas conversas que já tivemos com o governo federal, incorporando as questões solicitadas pelo governo [relativas a medidas de sustentabilidade na área de energia]. É um diálogo entre a alta liderança do setor empresarial e o governo. Sabendo os custos, é possível partir agora para ações muito mais concretas e viáveis", disse Marina Grossi, presidente do CEBDS.
Além do trabalho com a PSR, a entidade lançou ontem outro estudo, preparado pela consultoria Sitawi Finanças do Bem, sobre o quadro atual de financiamento para fontes de energia renováveis.
O estudo mostra que as fontes alternativas (eólica, solar e biomassa) representam cerca de 10% da matriz elétrica brasileira e que essas tecnologias deverão receber 58% dos R$ 268 bilhões de investimentos previstos em geração de energia até 2024, de acordo com a Empresa de Pesquisa Energética.
Devido à grande necessidade de investimentos, o estudo propõe alternativas de financiamento, além do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Uma delas é a combinação de instrumentos de crédito pelas instituições financeiras para formatar empréstimos – ponte. Outra é a criação de um fundo público de facilitação de hedge cambial para viabilizar a captação externa de recursos.
"São ações que mostram que a sustentabilidade é bastante compatível com a competitividade. Ela é a melhor solução em um momento de crise", afirmou Marina.
Fonte: Valor Econômico
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