Redução do preço da Celg D agrada, mas mercado ainda avalia premissas

Após o fracasso na primeira tentativa de leiloar a Celg Distribuição (Celg D), no mês passado, o governo reduziu em 35,7%, de R$ 2,8 bilhões para R$ 1,792 bilhão, o preço mínimo exigido para a distribuidora goiana, controlada pela Eletrobras (51%) e o governo de Goiás, por meio da Celgpar (49%). Em um primeiro momento, o mercado avaliou positivamente a redução do valor, porém investidores, analistas e especialistas afirmam que é ainda preciso avaliar as novas condições do leilão para determinar a atratividade da elétrica.

 

"Temos que olhar dentro do modelo para saber como se chegou a esse número", disse ao Valor o executivo de uma das potenciais interessadas em participar do leilão.

 

Já para o valor total do empreendimento, a redução foi menor. Considerando as dívidas e obrigações de R$ 2,656 bilhões que a companhia tinha em junho, o valor de mercado aprovado para a Celg D é de R$ 4,5 bilhões, 18% inferior aos R$ 5,5 bilhões da avaliação anterior.

 

Definição do cronograma do leilão deve acontecer entre hoje e a próxima semana; disputa deve ser ainda em 2016

 

Segundo outro executivo do setor de distribuição de energia, o preço proposto indica uma precificação adequada para uma empresa "top de linha", o que não é o caso da Celg D, ou para um comprador que possa obter sinergias significativas com a operação. No caso de investidores estrangeiros com baixo custo de capital, o negócio também pode ser considerado atrativo.

 

O ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho, afirmou ontem que a revisão para baixo do preço de venda da Celg-D deve facilitar um desfecho positivo do processo. "Todos os interessados sempre colocavam a questão do preço", afirmou o ministro, em café com jornalistas.

 

Em agosto, nenhuma empresa depositou as garantias pedidas para o leilão da distribuidora goiana, configurando um fracasso no certame – cujos critérios haviam sido definidos ainda pelo governo da ex-presidente Dilma Rousseff.

 

Um sinal de que o valor estabelecido antes estava inflado foi a compra da distribuidora gaúcha AES Sul pelo grupo CPFL Energia em junho, por R$ 1,7 bilhão, lembrou o ministro Coelho Filho. Os indicadores de qualidade da AES Sul são significativamente melhores do que os da Celg D.

 

No mercado, porém, ainda não há um consenso sobre o novo preço da Celg D. Analistas e agentes do setor afirmam que as condições estão melhores, mas o valor estabelecido ainda é alto quando consideradas dívida e necessidade de caixa no curto prazo.

 

"O valor da empresa foi para uma realidade na base contábil, mas talvez o preço mínimo devesse ser mais baixo levando em conta a necessidade de adequação de investimentos", disse Ricardo Savoia, diretor da consultoria Thymos Energia.

 

Para Savoia, o preço mínimo estabelecido antes para o leilão, de R$ 2,8 bilhões, "estava mais para máximo que para mínimo".

 

Esse valor tinha sido fixado pelo governo de Goiás, pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pelo Tribunal de Contas da União (TCU) no ano passado, quando teve início o processo de privatização. "A nova gestão [governo Temer] revisar para baixo teria muito questionamento", disse ontem Coelho Filho.

 

Com o preço dito mais realista no leilão, a expectativa do governo é ter pelo menos os quatro interessados que haviam acessado o data room com informações da Celg na primeira tentativa de privatização da empresa, disse o ministro.

 

A presidente do BNDES, Maria Silvia Bastos, também disse que o novo preço estipulado para a Celg D é uma adequação à realidade do cenário econômico atual. "O cenário mudou. As condições mudaram. Então foi feito um novo estudo."

 

O banco de fomento solicitou ao International Finance Corporation (IFC), contratado para estruturar a desestatização da Celg D, a atualização dos serviços de avaliação econômico-financeira da empresa. As condições demais do leilão, ainda sem data marcada, serão as mesmas do último certame, disse Maria Sílvia.

 

A definição do cronograma do leilão de privatização da Celg D deve sair entre hoje e a próxima semana, disse a secretária da Fazenda do Estado de Goiás, Ana Carla Abrão Costa. Segundo ela, a definição do valor pelo Conselho do Programa de Parcerias de Investimento (PPI) já garante que a venda acontecerá ainda em 2016.

 

"[O preço mínimo] veio bem em linha com o que tínhamos ouvido do mercado antes", disse Ana Carla. Segundo ela, a deterioração financeira que a empresa apresentou entre junho de 2015 e junho de 2016 foi capturada na nova avaliação, que teve como data base a dívida da companhia no fim do primeiro semestre deste ano.

 

"Houve mudanças no prêmio de risco, nas premissas macroeconômicas. Por isso chegamos nesse valor", disse Ana Carla, completando entender que o preço está alinhado com o que o mercado havia defendido antes.

 

De acordo com a secretária, o Tribunal de Contas da União (TCU) vem acompanhando todo o processo de reavaliação do preço. O próximo passo será a abertura de uma audiência pública para que todos possam se manifestar sobre as condições do leilão. Após isso, será publicado o edital, possivelmente no início de outubro. "O leilão deve ser entre o fim de novembro e começo de dezembro, ainda não batemos martelo, mas certamente ainda em 2016", disse Ana Carla. (Colaboraram Rodrigo Rocha e Alessandra Saraiva, do Rio)

 

Fonte: Valor Econômico

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