Apesar do aquecimento, países ainda incentivam o carvão

Os países do grupo do G-20, que concentra as maiores economias do mundo, investiram US$ 76 bilhões entre 2007 e 2015 financiando usinas de carvão e atividades de mineração de carvão no exterior.

 

Os principais investimentos vieram da China, Japão, Alemanha, Coreia do Sul e EUA. Foram concentrados sobretudo na Austrália, África do Sul, Vietnã e Indonésia.

 

Os dados constam do relatório "Carbon Trap: How International Coal Finance Undermines the Paris Agreement and Clean Energy Deployment", lançado na conferência do clima de Marrakesh, a CoP-22. Ele foi feito por duas ONGs americanas, a NRDC (que tem mais de dois milhões de membros) e a Oil Change International (OCI).

 

"Os países não podem jogar dos dois lados. Eles não podem se vangloriar de reduzir a poluição em casa e continuar a financiar carvão no exterior", disse o co-autor do relatório, Han Chen, do NRDC.

 

O consumo do carvão na China vem declinando há três anos. No plano de longo prazo de corte de emissões da Alemanha, divulgado esta semana em Marrakesh, menciona-se iniciar o processo de saída do país do consumo de carvão.

 

O setor de energia alemão, que em 1990 emitia 466 milhões de toneladas de CO2 equivalente (métrica que compara todos os gases-estufa ao CO2) terá de cortar cerca de 62% em 2030, segundo o plano. Isso significará, segundo estimativas, deixar de usar 60% do carvão.

 

No diagnóstico do estudo, a China financiou US$ 25 bilhões em usinas e extração de carvão no exterior, o Japão, US$ 21 bilhões. A Alemanha investiu US$ 9 bilhões e a Coreia do Sul, US$ 7 bilhões.

 

Ainda segundo o relatório, Japão, China e Coreia do Sul planejam financiar novos projetos de carvão estimados em mais de US$ 24 bilhões nos próximos anos. Os investimentos seriam feitos na Indonésia, Vietnã e África do Sul.

 

"Tanto o Japão como a China são líderes em tecnologia de energia renovável, mas em vez de aumentar sua participação no mercado de energia limpa, estão optando por apoiar dezenas de novas usinas a carvão em todo o mundo", destacou Alex Doukas, da OCI, segundo nota enviada à imprensa.

 

Na semana passada o Reino Unido divulgou um plano para deixar o carvão até 2025. É o primeiro país a anunciar uma política para eliminar o carvão, anúncio feito originalmente no final de 2015.

 

No Brasil, o presidente Michel Temer prometeu ao ministro do Meio Ambiente, José Sarney Filho, vetar o artigo 20 da MP 735 que altera regras do setor elétrico. O artigo prevê incentivos a termelétricas a carvão no Sul do pais. O Ministério do Meio Ambiente fez parecer contrário ao artigo. Temer tem até amanhã para fazer seus vetos à MP.

 

No discurso de abertura do segmento de alto nível da conferência, ontem, o presidente francês, François Hollande, lembrou que milhares de empresas já caminham para uma economia de baixo carbono e pediu aos EUA que respeite compromissos assumidos. "Não só porque é seu dever, mas é de seu próprio interesse".

 

Fonte: Valor Econômico

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