Pela primeira vez o custo de gerar energia eólica em terra – -tecnologia conhecida por "onshore" – tornou a fonte competitiva com o mais barato combustível fóssil. O custo dessa fonte de energia renovável caiu 23% desde 2010. Trata-se de um momento-chave na transição energética global, segundo especialistas.
O custo da eletricidade gerada por painéis solares fotovoltaicos, por seu turno, também caiu nesse período, nesse caso 73%. Há outras boas notícias. A previsão é que o custo de produzir energia solar diminua ainda mais com novos projetos, caindo pela metade nos próximos dois anos.
A expectativa é que em 2019 os melhores projetos de energia eólica em terra e de energia solar fotovoltaica produzam eletricidade a US$ 0,03 por até kW/h ou até menos. Isso significa que as renováveis podem ter custo bem inferior do que a geração a partir de combustíveis fósseis, que registram espectro de preços entre US$ 0,05 a US$ 0,17 por kW/h. Isso depende do país, mas vários novos projetos de energia eólicas indicam que o preço tornou-se competitivo com carvão.
O estudo, lançado neste fim de semana durante a 8ª Assembleia da entidade, diz que em Abu Dhabi, no Chile, em Dubai, no México, no Peru e na Arábia Saudita projetos de energia solar e eólica bateram recordes de preços baixos, alcançando US$ 0,03 por kW/h em leilões.
"A troca de um sistema de energia para outro não é simples e sem dúvida irá levar vários anos antes que o sistema atual seja transformado", afirmou o diretor-geral da Irena, Adnan Z. Amin, na abertura do evento. "Mas a transformação do sistema energético atual está ganhando ritmo e não pode ser parada. A evolução das renováveis nos últimos anos extrapola as expectativas mais otimistas", continuou.
"Custos em queda e a rápida inovação têm impulsionado os investimentos e reposicionado as renováveis, que deixaram de ser um nicho e se tornaram uma solução técnica e economicamente atraente", seguiu o advogado queniano que dirige a instituição fundada em 2009 e que é referência global no setor.
"Somos o país que iniciou a Revolução Industrial e agora estamos completamente dentro de uma nova revolução", disse Nick Bridge, secretário de Relações Exteriores e enviado climático do Reino Unido. Em cinco anos, o país tornou-se o maior produtor mundial de energia eólica em alto mar (offshore). "Já conseguimos, em alguns dias do verão e a despeito do nosso clima, não ter nada de carvão na nossa geração de energia", afirmou.
Taro Kono, ministro das Relações Exteriores do Japão, fez uma declaração forte e surpreendente, criticando a posição de seu país de não ter investido mais em energias renováveis no passado e de ter metas tímidas no setor.
"Priorizamos seguir com o 'status quo' por medo da mudança", afirmou ele a uma plateia de 1.100 delegados de 150 países, além de empresários e representantes da sociedade civil. Kono considerou "lamentável" a escolha pouco ambiciosa feita pelo Japão nesse campo.
Os resultados de leilões recentes feitos em vários países para projetos de renováveis, que serão implementados no futuro, indicam que a tendência de redução de custos deve continuar além de 2020, disse ao Valor Michael Taylor, o autor do estudo da Irena.
Em 2020 todas as tecnologias de geração de energias renováveis hoje em uso devem ter preço competitivo com os combustíveis fósseis, estima o relatório. Isso deve acontecer até com tecnologias que hoje iniciam sua trajetória, como geração eólica offshore (em alto mar) e energia solar concentrada (projetos que utilizam grandes espelhos para esquentar combustível e produzir vapor).
Projetos de outras fontes de energia renovável, como biomassa, geotérmica e projetos hidrelétricos, mostraram ser competitivas nos últimos 12 meses com combustíveis fósseis.
"Há uma transição global em curso que não deixa dúvidas sobre a transformação que temos que enfrentar nas nossas economias", disse o diretor-geral da Irena. "É impressionante observar a velocidade com que a mudança está ocorrendo", continuou.
A base de dados de energias renováveis da organização intergovernamental leva em conta informações de 15 mil projetos no mundo. Há ainda dados de 7 mil leilões e outros sistemas de aquisição de projetos.
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Fonte: Valor Econômico.
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