Atividade menor deve reduzir carga de energia

A equipe energética do governo terá uma prova de fogo nos próximos meses. Até setembro, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) terão que divulgar a segunda revisão quadrimestral da previsão oficial da carga do sistema brasileiro para o período 2018-2022.

 

Segundo especialistas, a tendência é que tecnicamente seja necessário fazer, a menos de dois meses antes das eleições, uma correção da expectativa oficial, reduzindo a previsão de crescimento do PIB e do consumo de energia para este ano.

 

De acordo com a previsão atual, divulgada em abril pelas três instituições, a carga do país em 2018 alcançará 67.560 megawatts (MW) médios, com crescimento de 3%, em relação ao ano anterior. A previsão considera uma expectativa de crescimento do PIB de 2,6% este ano.

 

A última versão do boletim Focus, divulgado pelo Banco Central e que reúne as projeções do mercado, porém, indicou a sétima semana consecutiva de queda de expectativa de crescimento do PIB para 2018, agora de 1,94% para 1,76%.

 

Se, por um lado, um corte na previsão de crescimento econômico e de consumo para 2018, na próxima revisão quadrimestral da carga, pode servir de combustível eleitoral contra o governo e seus candidatos, por outro, a manutenção de uma visão otimista no indicador oficial de previsões do setor elétrico implicará maior contratação de oferta futura de energia sem a devida necessidade, pressionando ainda mais os custos e as tarifas de energia.

 

De acordo com especialistas, o desempenho da atividade econômica nos últimos meses e, consequentemente, o consumo de energia ficaram abaixo do previsto, cenário que se agravou com a greve dos caminhoneiros em maio.

 

"A atividade econômica não tem se recuperado como esperado. Soma-se a isso a greve dos caminhoneiros. A greve teve efeito imediato em duas semanas, mas o impacto disso se alastra para a confiança dos investidores e do consumidor", disse Josué Ferreira, consultor-sênior da Safira Energia.

 

"O mercado trabalha com uma possibilidade maior de revisão para baixo [do crescimento da carga]. Mas a magnitude dessa baixa não dá para prever", afirmou Ferreira.

 

A visão do consultor é compartilhada por Diana Lima, diretora da comercializadora Compass Energia. "Nos últimos meses, a carga de energia está fechando abaixo da expectativa do operador [ONS]. Mesmo antes da greve, já havia esse desvio. A greve só agravou a queda que estávamos enxergando."

 

A revisão de carga de setembro deve trazer uma redução do consumo previsto da ordem de 500 megawatts (MW) a um gigawatt (GW), de acordo com Cristopher Vlavianos, presidente da Comerc Energia. "A redução deve refletir uma combinação de fatores, como a greve dos caminhoneiros e o impacto que tivemos no consumo de energia no período", disse.

 

Segundo o executivo, em maio, no período da greve (entre os dias 22 e 31), o consumo no mercado livre foi 25,95% inferior ao projetado para o período. Em maio, o consumo registrado no mercado livre foi 7,52% menor do que o esperado.

 

Neste mês, o efeito negativo no consumo de energia continuou, embora não tão grande. "Não vemos nenhuma recuperação animadora neste ano, temos Copa, eleições. Não vamos ver novos investimentos nessa situação de expectativa sobre o que vai acontecer no país no futuro. Não é um ano animador em termos de consumo", afirmou Vlavianos.

 

A redução no consumo de energia na semana da greve pode ter ajudado algumas empresas a mitigarem as perdas da redução da produção. "Você reduzir o consumo e vender o contrato pelo PLD [preço da liquidação das diferenças, preço referência do mercado à vista de energia] é um excelente negócio em termos de energia", disse Vlavianos.

 

Para um executivo que pediu anonimato, a revisão da carga 2018-2022 será importante para ajustar as previsões de crescimento do consumo do setor. Ele destacou que, nos últimos ajustes de previsão da carga, as três instituições têm adotado uma postura realista.

 

 

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Fonte: Valor Econômico.

 

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