Em Minas Gerais, dos 13 barramentos listados, nove estão esgotados; energia solar ocupou boa parte da capacidade.
Uma nota técnica do ONS para um leilão de pequenas hidrelétricas frustrou o setor ao mostrar que mais da metade dos pontos de transmissão estão esgotados. Isso significa que novas hidrelétricas não podem ser construídas nesses lugares, porque não há como escoar a energia.
A nota técnica foi publicada no fim de abril. Ela traz uma tabela com 85 barramentos em 15 estados. Desses, 46 – ou seja, quase 55% – aparecem com zero na coluna “capacidade remanescente para o leilão”, organizado pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
No Espírito Santo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia e Tocantins todos os barramentos estão esgotados, e portanto nenhuma hidrelétrica nova pode ser instalada.
Em Minas Gerais, dos 13 barramentos listados, nove estão esgotados. Os de Araçuaí 2, Bom Despacho, Braúnas, Conselheiro Pena, Juiz de Fora 1, Leopoldina 2, Padre Fialho 1, Pirapora 2 e Três Marias têm capacidade remanescente zero. Sobraram quatro: Emborcação, Poços de Caldas, Uberlândia e Varginha.
A Aneel confirmou a O Fator que projetos nas regiões com capacidade esgotada não podem participar do leilão, marcado para 22 de agosto.
Vão participar projetos de novas hidrelétricas com potência de até 50 megawatts (MW). O leilão será feito em atendimento a um “jabuti” incluído na lei de privatização da Eletrobrás, em 2021. No jargão do setor o leilão é chamado de A-5 (“a menos cinco”) porque os projetos precisam ser entregues em até cinco anos, fornecendo energia a partir de 1º de janeiro de 2030.
Para Alessandra Torres, presidente da Associação Brasileira de Pequenas Centrais Hidrelétricas e Centrais Geradoras Hidrelétricas (ABRAPCH), a tabela do ONS mostra um desequilíbrio no setor elétrico.
“É preocupante”, disse Torres, em entrevista a O Fator. “Mostra que o setor elétrico precisa de uma reformulação geral, porque os empreendedores investem nos projetos, gastam nos projetos, e esperam anos por licenciamento ambiental – para no dia de chegar na fase final de habilitação de leilão, não ter ponto de conexão para escoar”.
A principal responsável pelo esgotamento da rede, argumenta, é a energia solar. “Por sua pulverização, capilaridade, ela foi ocupando os pontos de conexão. Agora, isso demonstra grande desequilíbrio no setor, uma vez que você disponibiliza grande quantidade de pontos de conexão para uma energia intermitente e prescinde de uma energia firme”.
A energia solar, claro, não é gerada à noite, nem durante períodos nublados. O setor das hidrelétricas argumenta que a energia delas é mais confiável, e que elas também têm outras funções, como armazenamento de água e servirem para pesca e turismo.
A energia solar disparou no Brasil nos últimos anos. Já responde por mais de 8% da matriz energética do país, e em certo momento chegou a atender a 39% da carga. Em 2024, de 301 novas usinas instaladas, 147 foram solares e 121 eólicas. Apenas nove pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) foram instaladas.
Procurados, o ONS, o Ministério de Minas e Energia e a estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE) não quiseram comentar.
Conteúdo e Imagem por O Fator.
https://ofator.com.br/informacao/leilao-frustra-hidreletricas-com-55-de-pontos-de-transmissao-esgotados/
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